| Foto: Pixabay/Creative Commons

Empresários são melhores gestores públicos do que políticos? O senso comum diz que sim. E esse tem sido o slogan eleitoral de muitos homens de negócio que saem da iniciativa privada para se aventurar nas eleições. Mas uma pesquisa científica derruba esse mito. A máquina pública tem regras e uma dinâmica própria que fazem com que o desempenho dos empresários não seja nem melhor nem pior do que o dos políticos.

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O pesquisador brasileiro Eduardo Mello e o colombiano Nelson Ruiz cruzaram indicadores financeiros, de educação e de saúde apresentados pelas prefeituras administradas por gestores municipais que eram empresários antes de entrarem na vida pública com os resultados dos demais políticos eleitos. Foram selecionados de 200 a 300 prefeitos eleitos, por pleito municipal, entre 1996 e 2012.

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“Não há diferença estatística relevante”

“Os empresários dizem que fazem mais com menos, que são bons gestores. Mas não há diferença estatística relevante entre os prefeitos-empresários e os outros”, diz Mello – que começou a realizar o estudo na London School of Economics (Inglaterra) e que hoje é professor de Relações Internacionais na FGV de São Paulo.

A pesquisa comparou, por exemplo, investimentos per capita na saúde e educação públicas, número de professores, resultados escolares dos alunos em avaliações nacionais, relação de médicos por habitante em cada cidade e outros dados de doenças e atendimento médico. O estudo também levou em conta dados orçamentários, como o investimento em obras, comprometimento da receita com gastos de pessoal, dívidas.

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O mito cresce e tende a ser forte em 2018

Mello diz que o discurso de que o gestor da iniciativa privada é melhor do que o político aparecia esporadicamente nas eleições – casos, por exemplo, de Antonio Ermírio de Moraes (que se candidatou ao governo de São Paulo em 1986; e não venceu) e Silvio Santos (na eleição presidencial de 1989).

Mas o fenômeno vem crescendo nos últimos anos. Não só no Brasil. Mello destaca que, em 2012, o candidato republicano à presidência dos Estados Unidos, Mitt Romney, usou como uma de suas principais bandeiras o fato de ser um empresário bem-sucedido e de ter usado essa experiência como governador de Massachusetts. Romney perdeu aquela eleição para Barack Obama. Mas o discurso do republicano inspirou Mello a fazer a pesquisa: “Eu queria saber se isso [o slogan de que o empresário é melhor gestor público] era verdade”.

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Desde então, há mais casos que reforçam o mito. O megaempresário Donald Trump conquistou a cadeira de presidente dos Estados Unidos no ano passado. No Brasil, em 2016, duas grandes capitais brasileiras elegeram empresários para as prefeituras: São Paulo (João Doria, PSDB) e Belo Horizonte (Alexandre Kalil, PHS). Doria usou muito o discurso de que não é um político, mas um gestor. E também é pré-candidato a presidente em 2018.

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Para Mello, o discurso de que os empresários são mais eficientes que os políticos tende a ser forte em 2018. “Provavelmente no ano que vem vão surgir outsiders [candidatos de fora da política tradicional] que irão assumir a identidade do empresário e dizer que são melhores gestores”, diz Mello. “O que a pesquisa diz para o eleitor é que isso não acontece.”

Nova etapa da pesquisa e bases de dados usadas

Segundo Mello, a pesquisa ainda não está completamente concluída – o que deve ocorrer até o fim do ano. Um dos objetivos dessa etapa final do estudo é verificar se há alguma diferença significativa entre o desempenho dos prefeitos-empresários de cidades pequenas e das maiores. A pesquisa, por motivo de metodologia, excluiu cidades onde há segundo turno eleitoral – ou seja, aquelas que têm pelo menos 300 mil eleitores.

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Foram escolhidos prefeitos e não ocupantes de outros cargos públicos porque há muitas informações oficiais disponíveis sobre municípios. E, como há muitos prefeitos, a base estatística ficou maior para efeito de comparações.

Duas bases de dados usadas no cruzamento de informações do estudo foram o DataSus, do Ministério da Saúde, e o Censo Escolar, do Ministério da Educação. Também foram usados dados da execução orçamentária obtidos a partir do Ministério da Fazenda: o que é investido em obras, gastos com pessoal, dívidas. A informação sobre a atividade profissional dos eleitos consta da base de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).