O advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, deixa de representar o PEN/Patriota na ação que tramita no STF desde 2016.| Foto: José Cruz/Agência Brasil

O presidente do Partido Ecológico Nacional (PEN), futuro Patriota, Adilson Barroso, destituiu o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, como representante da sigla na Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) nº 43/2016, que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF). Para o seu lugar, foram nomeados por procuração, nesta segunda-feira (9), os advogados Paulo Fernando Melo da Costa e Heracles Marconi Góes da Silva.

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Em entrevista à Gazeta do Povo, Melo da Costa disse que vai pedir ao STF a retirada da liminar impetrada por Kakay na semana passada e o adiamento por 15 dias da avaliação da ADC, que questiona a prisão após condenação em segunda instância. “Se tiver jeito de retirar, eu retiro”, disse Barroso, que quer desistir da ADC.

O ministro Marco Aurélio Mello, relator da ação no STF, já liberou a ADC para julgamento em plenário, mas a presidente do Supremo, Cármen Lúcia, tem evitado pautar o assunto. Diante disso, Marco Aurélio pretendia levar a ação para julgamento “em mesa”, instrumento previsto no Regimento Interno para levar assuntos urgentes à discussão e que passa por cima da pauta, na próxima quarta-feira (11).

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A ADC ganhou relevância agora porque pode tirar da prisão o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e dezenas de outros condenados em segunda instância que ainda podem recorrer das sentenças. O PEN entrou com a ação em 2016 e nunca teve o objetivo de vir a ser a salvação de Lula. Ao contrário, Barroso disse não morrer de amores pelo petista e que pensou, segundo ele, na “massa” de pessoas sem condições de recorrer a advogados e que estão nas cadeias do país.

“Jamais pensei em beneficiar o Lula. Não morro de amores por ele. Todo mundo sabe disso. Se você olhar no estatuto do PEN nos definimos como um partido de direita”, disse Adilson Barroso à Gazeta do Povo. “Nosso objetivo foi de ajudar a massa populacional de baixa renda que está encarcerada nesse país. E não para salvar “A” ou “B”. Ainda mais alguém da esquerda”, disse o presidente do PEN.

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Em 2016, Barroso contratou os serviços do advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, com experiência em tribunais superiores em Brasília. Até aí tudo bem, até aparecer, no ano passado, a possibilidade do PEN filiar em seus quadros o presidenciável Jair Bolsonaro, que incluiu nas tratativas que a legenda retirasse a ação para evitar que Lula fosse beneficiado.

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Barroso tentou, mas não se pode abandonar uma ação já impetrada. Ele anunciou que, por causa de Bolsonaro, chegou a destituir Kakay e foi em busca de um advogado que pudesse atuar contra a ação que ele mesmo impetrou. Ninguém aceitou essa missão.

O advogado Paulo Fernando Melo da Costa, novo representante do PEN na ADC no Supremo, vai pedir a retirada da liminar impetrada por Kakay.  

Como Bolsonaro desistiu do PEN/Patriota, Barroso também não deu muita bola para a ação e a deixou lá. O assunto voltou a pauta com a prisão de Lula e Kakay a utiliza como possibilidade de convencer os ministros do STF a reverterem o entendimento sobre prisão em segunda instância.

Nesta segunda-feira, Kakay afirmou em nota que entrou com um pedido cautelar de teor semelhante na ação, em nome do Instituto de Garantias Penais (IGP). “Estarei na quarta-feira no plenário do Supremo”, diz o criminalista. O agora ex-defensor do PEN divulgou uma mensagem que recebeu de Barroso confirmando ser ele o advogado do partido e disse no texto que querem “intrigá-los”.

O presidente do PEN confirmou à Gazeta que enviou essa mensagem a Kakay, que “sempre agiu de boa fé conosco”, afirmou Barroso. Mas disse, por outro lado, que estava tentando “dar um jeito” dessa ADC de sua autoria não ir a julgamento. “Reuni um grupo de advogados para ver o que fazemos, para achar uma saída”. A saída foi mesmo destituir Kakay “por motivos de foro íntimo”. O ofício encaminhado ao advogado data de sexta-feira, 6 de abril, um dia depois de o juiz Sergio Moro decretar a prisão de Lula.

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Nada muda, diz Kakay

Se o objetivo foi prejudicar o ex-presidente petista, na prática pouca coisa muda. Em nota Kakay explicou que a ADC não pode mais ser retirada e que ela segue à espera de apreciação pelo plenário do STF.

“Agora recebo a notícia, não oficial, de que o PEN não quer manter a defesa da tese. Se for verdade, é um direito do partido, mas a ação é indisponível, logo, a tese continua à espera da decisão do Plenário. A liminar foi pedida também em nome do IGP. Em respeito ao Supremo, optamos por não tecer mais nenhum comentário em um assunto tão sério e com tanta repercussão”, escreveu.

Além disso, existe outra Ação Declaratória de Constitucionalidade tramitando na Corte, de autoria da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que também questiona a prisão em segunda instância. Marco Aurélio também é o relator dessa ADC e já a liberou para julgamento em plenário.