| Foto: José Cruz/Agência Brasil

O principal plano B do Partido dos Trabalhadores (PT) para a corrida presidencial de outubro próximo sofreu um forte abalo nesta segunda-feira (26), com a deflagração da Operação Cartão Vermelho, da Polícia Federal. O ex-governador da Bahia Jaques Wagner (PT) foi indiciado sob suspeita de ter recebido R$ 82 milhões em propina e caixa 2 das empreiteiras OAS e Odebrecht pelo superfaturamento do contrato de reconstrução e gestão do estádio Arena Fonte Nova.

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Em sua defesa, Wagner negou ter recebido recursos ilícitos de empreiteiras e afirmou que não houve superfaturamento no estádio usado na Copa do Mundo de 2014. “Repilo a ideia de receber propina. Nunca pedi nem nunca recebi propina. Eu não peço e não autorizo ninguém a pedir qualquer tipo de reciprocidade por obras feitas”, disse.

Mas o estrago à imagem do petista já estava feito, sobretudo com o cumprimento de mandados de busca e apreensão na casa dele, em seu gabinete no governo da Bahia e em outros cinco endereços em Salvador. Ex-ministro dos governos Lula e Dilma Rousseff, Wagner é atualmente secretário de Desenvolvimento Econômico da Bahia e relativamente popular no Nordeste. A PF chegou a pedir a prisão dele, mas a solicitação foi negada pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), responsável pelos mandados que deflagraram a Operação Cartão Vermelho.

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O ex-governador baiano é o nome mais cotado, até agora, para ser candidato do PT ao Palácio do Planalto, caso o ex-presidente Lula seja impedido de concorrer por causa da Lei da Ficha Limpa. Alvo da Lava Jato, Lula foi condenado em segunda instância, pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), a 12 anos e um mês de prisão, acusado dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex no Guarujá (SP).

“Perseguição”

A cúpula do PT classificou as buscas da PF na casa de Jaques Wagner como “mais um episódio da campanha de perseguição” contra o partido e acusou abuso de autoridade de “setores” do Judiciário. “A escalada do arbítrio está diretamente relacionada ao crescimento da pré-candidatura do ex-presidente Lula nas pesquisas, nas manifestações populares, nas caravanas de Lula pelo Brasil”, disse a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), em nota. “Quanto mais Lula avança, mais tentam nos atingir com mentiras e operações midiáticas.” O ex-presidente lidera todas as pesquisas de intenção de voto.

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No texto, Gleisi afirma ainda que “a sociedade brasileira está cada vez mais consciente de que setores do sistema judicial abusam da autoridade para tentar criminalizar o PT e até os advogados que defendem nossas lideranças e denunciam a politização do Judiciário”.

Os advogados de Lula recorreram da sentença do TRF-4 e dirigentes do partido afirmam que a candidatura dele será registrada em 15 de agosto, mesmo se estiver preso. Trata-se, na prática, de uma estratégia política da defesa, sem garantia de sucesso.Caso seja impedido de concorrer, a sigla terá de acionar um plano B, lançando outro nome.

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Favoritismo

Além de Wagner, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad e o ex-ministro e atual deputado federal Patrus Ananias também são cotados, mas ambos têm menos apoio que o político baiano, considerado mais experiente e habilidoso politicamente para aguentar a pressão.

O ex-governador baiano é o favorito do ex-homem forte do PT José Dirceu. Condenado na Operação Lava Jato, Dirceu cumpre prisão domiciliar em Brasília, onde tem se reunido com militantes petistas e dirigentes de movimentos de esquerda. Na avaliação dele, Wagner tem trânsito no PT e nos partidos de esquerda, além de contar com um patamar eleitoral no Nordeste.

Apesar do discurso petista de que “eleição sem Lula é golpe”, o ex-ministro tem admitido, em reuniões com correligionários, a hipótese de o ex-presidente não participar da corrida presidencial. Dirceu tem traçado cenários até mesmo para o caso de prisão do ex-presidente.

Segundo Dirceu, Lula não pode simplesmente fazer suas malas e ir à carceragem se for condenado à prisão. Na sua opinião, “Lula tem que fazer um gesto” de resistência para demonstrar a gravidade do momento e estimular a ida dos militantes às ruas.

Embora a considere bem mais remota, Dirceu não descarta a possibilidade de Lula optar pela candidatura de Fernando Haddad, desde que ele possa herdar os votos do ex-presidente no Nordeste. Em seus cálculos, Dirceu afirma que o PT estará no segundo turno “com ou sem Lula”.

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Outro lado

Na tentativa de reverter o desgaste, Jacques Wagner se pronunciou publicamente nesta segunda-feira, afirmando nunca ter recebido propina. Disse que há uma incompreensão da Polícia Federal e do Tribunal de Contas da Bahia do que é uma PPP (Parceria Público-Privada). “Em PPP, não existe a figura do superfaturamento, como se está se insistindo em falar”, disse, ressaltando que a parceria foi precedida de consulta pública.

Ele afirmou ser uma “aberração” a PF afirmar que houve direcionamento por exigência de expertise em demolição. E disse “estranhar” o fato de a operação da Polícia Federal acontecer cinco anos depois do início do inquérito.

Sobre os 15 relógios apreendidos, negou que sejam luxuosos. “Se tiver é um ou outro que tem um valor um pouco maior. A maioria são absolutamente simples. Eu gosto de relógios, mas não tem nenhum valor ali de luxo”, disse. Ele ainda questionou o fato de a delegada afirmar que os objetos são luxuosos antes de eles serem periciados.

Os advogados do ex-governador, Thiago Campos e Pablo Domingues, questionaram a competência da Justiça Federal em apreciar o caso, alegando que as obras eram tocadas com recursos do governo do estado. Domingues classificou as suspeitas da Polícia Federal como “factoides” e “inverdades”.

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“A gente ainda não teve acesso integral ao inquérito. Do que a gente tem conhecimento, é que esses valores são valores feitos de modo aleatório, há uma fragilidade na elaboração dessas contas. São factoides, são inverdades. Ele está muito tranquilo com relação a isso, porque jamais houve essa situação. Está absolutamente tranquilo em relação a isso”, afirmou o criminalista.

O governador da Bahia, Rui Costa (PT), saiu em defesa do seu secretário e afirmou confiar na “lisura” de Wagner. Para Costa, as buscas na residência e no gabinete de Wagner na Secretaria de Desenvolvimento Econômico do governo do Estado têm “cunho midiático e político” porque, segundo ele, equipes de reportagem chegaram à casa do ex-governador antes dos policiais.

“Quando uma televisão ou a imprensa chega antes nos locais em que vai ter uma operação policial, fica claro que a operação não tem um fim da investigação, ela tem um fim jornalístico, midiático e político partidário”, disse Costa.