Mário Covas, Lula e Leonel Brizola durante a campanha de segundo turno da eleição presidencial de 1989: proposta para derrotar Collor não foi aceita por Lula.| Foto: Arquivo/Estadão Conteúdo

Ainda que seja cedo para cravar cenários – pesquisas são sempre a fotografia de um momento –, as simulações de segundo turno do último Datafolha, divulgado na sexta-feira, chamam atenção para uma curiosidade. Mantidas as tendências de voto apresentadas nesse levantamento é permissível acreditar que o candidato Ciro Gomes (PDT) de 2018 pode ser o Mário Covas (PSDB) da eleição de 1989.

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Ciro aparenta ser o único candidato com chances de vencer Jair Bolsonaro (PSL) no segundo turno, mas ele pode não chegar lá. Foi o que ocorreu com Covas em 1989. Ele era apontado em pesquisas e avaliações políticas como o único oponente capaz de derrotar Fernando Collor (PRN) no segundo turno. Mas o candidato tucano terminou em quarto lugar na primeira eleição direta em mais de duas décadas. Quem passou para a reta final foi o petista Lula e o resultado é amplamente conhecido.

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A eleição daquele ano teve 24 concorrentes ao Palácio do Planalto. Ao fim do primeiro turno, Collor terminou em primeiro lugar (30,4% dos votos), Lula em segundo (17,18%), Leonel Brizola, do PDT (16,51%) e Mário Covas (11,51%). Antes de aderir a Lula, Brizola fez uma proposta ousada ao petista: ambos abririam mão de suas candidaturas para Covas disputar contra Collor o segundo turno com maior chance de derrotá-lo. Claro que essa ideia não avançou.

Brizola relembrou essa história no velório de Mário Covas, em março de 2001. “Por mim, Covas teria tido a presidência da República em 1989. O Lula era o primeiro, eu era o segundo, o Covas era o terceiro no resultado do primeiro turno. Eu fiz a proposta pois, o mais preparado de nós, e viável para vencer o Fernando Collor, era o Covas”, disse.

O tucano talvez tivesse mais chances que Lula. Assim como o Ciro de 2018, ele agregava votos de outras candidaturas e não faria do segundo turno um duelo de “rejeições”. Bolsonaro e o PT são campeões nesse quesito. Mas a ideia do pedetista ficou apenas para a história.

Um cenário semelhante, 29 anos depois

Os candidatos a presidente em 2018 Jair Bolsonaro (PSL) e Ciro Gomes (PDT). 

Ciro Gomes repetiu os 13% da última pesquisa neste Datafolha, e Fernando Haddad (PT) saltou de 9% para 13%. O pedetista pode ter dado uma estagnada. Não é conclusivo. Mas fato é que o petista vem ganhando terreno. E tudo indica que assim vai continuar. Porém, Haddad não tem a mesma força para vencer Bolsonaro na etapa final, como mostra o Datafolha.

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Nas simulações de segundo turno, Bolsonaro melhorou bem seu desempenho, contra todos, ainda que sua taxa de rejeição tenha oscilado de 41% para 42%. Nos quatro embates, Ciro continua sendo o que derrota o capitão da reserva com mais facilidade. Pode explorar esse voto útil, se assim continuar os próximos levantamentos.

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Bolsonaro está tecnicamente empatado com Haddad no segundo turno, mas na frente numericamente (41% a 40%). O candidato do PSL diminuiu a diferença para Geraldo Alckmin (PSDB): hoje está 41% a 37% para Alckmin, mas já foi 43% a 34% para o tucano. A diferença caiu de nove para quatro pontos percentuais.

Em relação a Ciro, Bolsonaro tirou uma diferença também. Era de dez pontos e caiu para sete pontos. O pedetista venceria hoje o segundo turno com 45% a 38%, a diferença mais folgada, segundo o Datafolha.

Metodologia

O Datafolha entrevistou 2.820 eleitores de 197 municípios entre quinta-feira (13) e sexta-feira (14). O primeiro turno das eleições está marcado para 7 de outubro.  A margem de erro máxima é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, para o total da amostra. O nível de confiança é de 95%. Levantamento registrado no Tribunal Superior Eleitoral com o número BR 05596/2018. Os contratantes da pesquisa foram Folha de S.Paulo e TV Globo.

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