Lula discursa para multidão em Porto Alegre (RS), um dia antes de seu julgamento pelo TRF-4: atos a favor do ex-presidente, embora até tenham sido expressivos, não “pararam” o país.| Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação

Num inflamado discurso um dia após o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ter sido condenado pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), o presidente da CUT, Vagner Freitas, prometeu paralisar o país se o petista for impedido de ser candidato ao Planalto. E até já marcou a data de uma greve geral em que os aliados de Lula pretendem demonstrar sua força: 19 de fevereiro. Mas será que a CUT, historicamente ligada ao PT, consegue parar o país para defender o ex-presidente?

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Não é uma tarefa fácil, mas a CUT terá uma chance de contribuir para efetivamente parar o Brasil (ou ao menos uma parte expressiva do país). E se isso ocorrer, será menos por suas próprias forças e mais pelas circunstâncias. Sobretudo por causa de um fator capaz de unir até quem não é eleitor de Lula: a reforma da Previdência, cujos debates na Câmara dos Deputados estão previstos para começar justamente no próximo dia 19.

A CUT é a maior central sindical do país: tem 3,8 mil sindicatos associados, que representam 23,9 milhões de trabalhadores (sendo que 7,8 milhões são sindicalizados). Mas, sozinha, não tem condições de “paralisar o país” (ou ao menos parte expressiva dos trabalhadores) sem o apoio de outras centrais e de movimentos sociais. E é aí que as circunstâncias são parcialmente favoráveis à CUT, por causa da reforma da Previdência.

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VEJA TAMBÉM: Tudo o que o presidente da CUT disse no ato pró-Lula; e mais: quem falou em desobediência civil

A CUT e o PT vão tentar mostrar que a greve geral, se efetivamente ocorrer, não será apenas contra a reforma da Previdência. Mas também a favor da candidatura de Lula. O fato é que não necessariamente as duas causas são coincidentes. Ou seja, eventualmente pode haver pessoas protestando contra as mudanças nas aposentadorias que não referendam o discurso pró-Lula, embora a greve possa vir a ser “vendida” como parte da luta para fazer do ex-presidente candidato. Ou seja, essas pessoas podem cair numa “pegadinha”.

Pesquisas indicam que há mais pessoas contra a reforma do que a favor de Lula

A questão, portanto, será saber se os trabalhadores vão cruzar os braços por Lula ou por causa das mudanças na aposentadoria. Pesquisa Datafolha realizada no fim de janeiro mostrou que 47% dos eleitores acham que Lula deveria poder disputar a eleição presidencial, apesar de ter sido condenado na segunda instância judicial da Lava Jato e, portanto, estar inelegível de acordo com a Lei da Ficha Limpa.

A pesquisa de opinião mais recente sobre a reforma da Previdência – encomendada ao Ibope pelo governo federal e divulgada no dia 30 – mostrou que 44% dos brasileiros são contra as mudanças nas regras da aposentadoria propostas pelo governo Temer; e apenas 14% a favor. É um porcentual semelhante àqueles que defendem Lula – o que indica que talvez haja coincidência nos grupos que defendem as duas bandeiras.

Contudo, a mesma pesquisa, quando fez perguntas mais específicas sobre as mudanças propostas pelo governo, obteve como resposta uma maior rejeição ao principal pilar da reforma da Previdência: 68% discordam da idade mínima de 65 anos para a aposentadoria de homens e 74% não concordam com a idade mínima de 62 anos para mulheres, mesmo com uma regra de transição.

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Esses dados do Ibope, portanto, indicam que o número de brasileiros que rejeitam a reforma da Previdência possivelmente é muito maior do que os que apoiam Lula. Esse patamar de rejeição à reforma também está mais próximo ao das pesquisas realizadas anteriormente. Antes do Ibope, o último levantamento de opinião sobre reforma da Previdência havia sido realizado pelo Instituto Paraná Pesquisas em dezembro, quando 66% dos brasileiros disseram ser contra as mudanças nas aposentadorias.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]

Teste de fogo da mobilização pró-Lula será se a reforma for adiada ou suspensa

O teste de fogo da mobilização a favor de Lula vai acontecer se o governo adiar a votação da reforma ou desistir dela antes do dia 19 – hipóteses que são cada vez mais possíveis, já que o Planalto não tem os votos necessários para aprová-la.

Nesse caso, a mobilização contra as mudanças nas aposentadorias se esvaziaria e só restaria a manifestação pró-Lula. Se a greve for mantida e o país parar, o PT e seus aliados mostrariam que Lula conta com o apoio das ruas. Manifestações sem grande adesão popular, por outro lado, enfraqueceriam o discurso petista. Caso os atos sejam desmarcados, fica a impressão de que o principal “atrativo” para conseguir apoio à greve era a Previdência e não Lula.

Até agora, as manifestações convocadas especificamente para defender Lula, embora até tenham sido expressivas, não foram capazes de “parar” o país nas três vezes em que houve essa oportunidade: nos dois depoimentos do ex-presidente do juiz Sergio Moro, no ano passado, e no julgamento do TRF-4, no último dia 24.

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Greve geral de abril de 2017 teve sucesso. Mas, sem o apoio de outras centrais, CUT não conseguiu repeti-la dois meses depois

Bloqueio da BR-277, na região metropolitana de Curitiba, durante a greve geral de abril de 2017. 

A última vez que o Brasil “parou” foi na greve geral de 28 de abril do ano passado. A paralisação foi contra as reformas trabalhista e da Previdência. Além da CUT, pelo menos outras oito centrais sindicais, além de movimentos sociais, convocaram a paralisação nacional. Segundo os organizadores, foi a maior greve geral da história do país, com paralisações em 150 cidades e a adesão de 40 milhões de trabalhadores.

Porém, os números têm de ser relativizados. O sucesso da greve se deve em grande medida à paralisação de trabalhadores do sistema de transporte coletivo. Sem ônibus, metrô ou trens, muitas pessoas ficaram impossibilitadas de chegar ao local de trabalho. Além disso, houve bloqueios de várias avenidas e estradas, o que também dificultou a locomoção dos trabalhadores.

Dois meses depois, em 30 de junho, a CUT também participou da mobilização de uma nova greve geral, igualmente contra as reformas da Previdência e trabalhista. Mas o governo Temer interferiu e conseguiu desmobilizar algumas centrais, com a promessa de que haveria algum tipo de compensação para o fim do imposto sindical previsto no projeto de mudança da legislação trabalhista.

Sem unidade entre os sindicatos, a greve geral virou “paralisação nacional” no discurso dos sindicalistas. E foi bem menor do que o ato de abril – demonstrando como a CUT precisa do apoio de outras centrais para “paralisar” o país.

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Neste momento, contudo, a CUT tem apoio das demais centrais sindicais contra a reforma da Previdência. A Força Sindical, a segunda maior central do país, tem se posicionado contra as mudanças propostas por Temer.

E eventualmente a CUT pode até conquistar apoios para defender Lula, além dos que já tem. O presidente da Força Sindical, o deputado Paulinho da Força (SD-SP), assinou recentemente um manifesto a favor da candidatura de Lula. Paulinho havia sido um dos principais articuladores do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]

Metodologia das pesquisas

A pesquisa Datafolha sobre Lula foi realizada nos dias 29 e 30 de janeiro de 2018. O Datafolha ouviu 2.826 eleitores em 174 municípios. A margem de erro é de dois pontos porcentuais para mais ou menos. E tem um nível de confiança de 95%, o que significa que, se for repetida 100 vezes, em 95 os resultados vão estar dentro da margem e erro. A pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o número BR 05351/2018. O levantamento foi encomendado pelo jornal Folha de S.Paulo.

O levantamento do Instituto Paraná Pesquisas sobre reforma da Previdência foi feito com 2.500 brasileiros em 176 municípios, nas 27 unidades da federação, entre os dias 9 e 11 de dezembro de 2017. A margem de erro é de dois pontos porcentuais para mais ou para menos e o grau de confiança é de 95%.

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A metodologia da pesquisa do Ibope sobre a reforma da Previdência não foi divulgada pelo governo federal, que encomendou o levantamento.