Oposição a Bolsonaro elegeu seis governadores, todos do Nordeste | Foto: Mauro Pimentel/AFP

Se Jair Bolsonaro (PSL) for eleito presidente, há uma incógnita no ar: dado o grau de beligerância da campanha eleitoral, e do histórico do capitão da reserva, como se dará sua relação com governadores do PT e de outros partidos mais alinhados à esquerda? 

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No discurso, Bolsonaro tem tocado pouco nesse assunto. Mas em duas entrevistas recentes a veículos de comunicação do Nordeste, região onde busca votos, ele afirmou que manterá boas relações com governadores da esquerda e, logo, seus opositores. 

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“Não podemos prejudicar o povo do Piauí (se referindo ao governador reeleito Wellington Dias, do PT), qualquer estado que seja, porque tem um governador que não se alinhe ideologicamente conosco. Vamos tratar todos os estados de forma republicana”, afirmou em entrevista feita no último sábado (20) e divulgada na terça-feira (23) pela emissora TV Cidade Verde, afiliada do SBT no Piauí.

Ainda no primeiro turno, Bolsonaro fez aceno semelhante. "O estado que eleger governador do PT, do PDT não tem problema algum. Sempre falamos que precisamos de menos Brasília e de mais Brasil. É preciso descentralizar os recursos e mandar o dinheiro direto para os governadores e os prefeitos. Direto na ponta, onde o recurso deve melhor ser aplicado. Não tem como fechar porteira para governador. O povo brasileiro é um só. Prego a união há muito tempo", disse nessa entrevista de 4 de outubro, a uma rádio de Pernambuco.

Oposição a Bolsonaro já elegeu seis governadores

De lá para cá, o clima entre bolsonaristas e não bolsonaristas esquentou. E o campo de oposição ao capitão elegeu, até agora, seis governadores. Todos do Nordeste. São eles: Rui Costa (PT-BA), Camilo Santana (PT-CE), Wellington Dias (PT-PI), João (PSB-PB), Paulo Câmara (PSB-PE) e Flávio Dino (PCdoB-MA). O número ainda pode crescer neste segundo turno e chegar a oito. Metade de petistas. 

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Bolsonaro precisa estender bandeira branca, se eleito, diz cientista político

Para o cientista político André Cesar, de fato, o clima é de embate, mas caberá a Bolsonaro, se eleito, baixar a tensão já no discurso da vitória, momento depois de conhecido o resultado, no próximo domingo, dia 28. Para ele, o presidenciável do PSL terá que fazer o discurso da união, garantir que vai governar para quem votou e quem não votou nele. E mais: convencer parte de seus seguidores que o confronto termina ali. Talvez a parte mais difícil, na opinião do especialista. 

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"Por mais forte que Bolsonaro saia das urnas, terá do outro lado as vozes dissonantes. Teremos uma oposição mais polarizada a ele, que são os eleitos pelo PT, PCdoB e alguns do PSB, e de outros ali mais intermediários, caso Márcio França (PSB), por exemplo, ganhe a eleição em São Paulo. Bolsonaro terá que fazer um aceno rápido, logo que vencer, a ser confirmada mesmo sua vitória, para o outro polo. Um aceno inteligente e racional. Mas, em se tratando de Bolsonaro, não se pode garantir nada. É o ideal que ele faça", disse André César. 

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Para César, Bolsonaro é muito influenciado pelo seu entorno, que adota posições radicais. "O próprio presidente do PSL (Gustavo Bebianno) e (os) filhos (de Bolsonaro), além do general Mourão e outros militares, têm forte influência sobre ele. Não por acaso, Bolsonaro precisa vir a público desautorizá-los, como vimos algumas vezes", explicou o cientista político. 

"E Bolsonaro terá que alertar seus seguidores para não provocarem. O risco de embate e de violência física é real. Esse fator pode atrapalhar uma negociação pós-eleição. É preciso estender bandeira branca. Não será fácil", conclui. 

Petistas evitam falar em cenário de vitória de Bolsonaro

Os petistas evitam o assunto. O argumento é um só: Fernando Haddad, candidato do partido ao Planalto, vai vencer a eleição, na visão deles. 

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Procurada para falar sobre uma possível relação com o eventual governo Bolsonaro, a senadora Regina Souza (PT-PI) não retornou à ligação da Gazeta do Povo. Ela foi eleita vice-governadora do Piauí na chapa do reeleito Wellington Dias, também do PT. A assessoria do governador reeleito do Maranhão Flávio Dino informou que ele vai esperar o resultado do segundo turno para se manifestar sobre o assunto. 

Alguns desses governadores de oposição a Bolsonaro foram eleitos numa frente com muitos partidos. Dino, por exemplo, tem na sua chapa quinze partidos, entre os quais o Democratas e partidos do Centrão, como PP e PR, que estão se aproximando de Bolsonaro. Rui Costa, do PT e reeleito governador da Bahia, tem como vice o ex-deputado João Leão, do PP. Essas composições podem facilitar lá na frente um diálogo mínimo com Bolsonaro, caso o capitão seja eleito presidente.