| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O juiz Sergio Moro utilizou a decisão desta segunda-feira (19) que mandou prender o empreiteiro Gerson Almada para defender a manutenção da prisão após a condenação em segunda instância, autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em outubro de 2016. Na ocasião, o placar foi apertado: seis votos a cinco.

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Com a condenação do ex-presidente Lula no TRF-4, em janeiro de 2018, o assunto voltou a ser discutido pela sociedade civil, e ministros do STF têm sido pressionados a pautar novo julgamento. A Constituição prevê, no artigo 5°, que ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado.

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No despacho desta segunda, Moro diz que há rumores sobre uma possível mudança na jurisprudência do STF. “Com todo o respeito ao Egrégio Supremo Tribunal Federal, uma eventual alteração seria desastrosa para os avanços havidos recentemente em prol do fim da impunidade da grande corrupção no Brasil”, escreveu.

O juiz citou nominalmente os nomes dos ministros da Corte que podem votar contra a prisão em segunda instância. “Espera-se, enfim, que a jurisprudência que nos permitiu avançar tanto e que é legado do ministro Teori Zavascki não seja revista, máxime por uma Corte com o prestígio do Supremo Tribunal Federal e por renomados ministros como Rosa Weber, Celso de Mello, Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Marco Aurélio e Ricardo Lewandowski.”

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Com exceção de Gilmar, Moro citou os ministros cujos votos foram derrotados no julgamento de 2016. Gilmar Mendes, porém, já disse mais de uma vez ter mudado de ideia e que deve votar contra a prisão desta vez se o caso for novamente pautado no STF. E isso pode acontecer em breve.

Nesta segunda-feira (19), Gilmar foi sorteado relator de um habeas corpus coletivo contra a prisão de condenados em segunda instância no Brasil. A ação é assinada por dez advogados da Associação dos Advogados do Estado do Ceará. O ministro deve levar o caso para julgamento em plenário, à revelia da presidente da Corte, Carmén Lúcia.

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Exemplos vêm dos EUA e da França

Ainda no despacho de prisão, o juiz Sergio Moro afirmou que a presunção de inocência está relacionada à prova, que deve ser evidente, e não a efeitos de recursos contra julgamentos. Ele citou os Estados Unidos e a França como países em que a confirmação da pena na segunda instância não é sequer necessária para a ordem de prisão.

“A presunção de inocência não deve ser interpretada como um véu de ignorância que impede a apreensão da realidade nem como um manto protetor para criminosos poderosos, quando inexistir dúvida quanto a sua culpa reconhecida nos julgamentos”, disse.

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Segundo o juiz, o fim da execução da pena na segunda instância faria com que os processos se arrastassem indefinidamente, representando, na prática, a impunidade de uma série de condutas criminais. “Apenas seria concedido, sem a avaliação da prova, a criminosos condenados tempo para buscar prescrição e impunidade, a custa da credibilidade da Justiça e da confiança dos cidadãos de que a lei vale para todos”.

A força-tarefa da Lava Jato vem afirmando que uma possível revisão da pena em segunda instância representa a principal ameaça à operação. A questão, entretanto, não é unânime. Especialistas em Direito já manifestaram entendimento contrário ao dos procuradores.

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Recado a Lula

A situação de Almada é semelhante à vivida pelo ex-presidente Lula. A diferença é que Lula não entrou com embargos infringentes por ter sido condenado por unanimidade. Agora, ele espera o julgamento de seus embargos de declaração, o que pode ocorrer a qualquer momento. O TRF-4 se comprometeu a avisar a defesa do ex-presidente sobre esse julgamento com dois dias de antecedência.

Se mantiver o mesmo procedimento, Moro poderá decretar a prisão de Lula logo na sequência, ordenando sua apresentação em Curitiba. A Polícia Federal trabalha com a possibilidade de o ex-presidente se apresentar em São Paulo por uma questão de segurança. No Complexo Médico Penal, Lula deverá ficar em uma cela especial.

Para evitar a prisão, a defesa de Lula tentou obter sem sucesso um habeas corpus no STJ e no STF. Agora, a esperança do ex-presidente é conseguir que o STF reavalie a jurisprudência que permite a prisão após a condenação em segunda instância.

Leia na íntegra a decisão do juiz Sergio Moro

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