Taurus é a principal fornecedora de pistolas para as polícias e Forças Armadas| Foto: Reprodução/Facebook

Desde quando as armas da Taurus passaram a apresentar problemas, como disparos acidentais e defeitos de fabricação, as polícias intensificaram as tentativas para comprar armas estrangeiras e quebrar o “monopólio” da fabricante brasileira. A Taurus acabou se tornando a principal fornecedora de armas para as polícias e Forças Armadas devido às leis vigentes, que permitem uma espécie de reserva de mercado às únicas duas empresas nacionais fabricantes de pistolas calibres 9 milímetros (mm), ponto 40 e ponto 380 credenciadas pelo Ministério da Defesa a fornecer esses equipamentos ao poder público. Mas a Polícia Federal e os estados do Paraná, do Distrito Federal e do Ceará, para citar alguns exemplos, se aproveitaram de brechas na legislação e dos problemas com as armas nacionais para conseguir comprar pistolas de marcas internacionais.

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Os grupos de elite da Polícia Civil do Paraná receberam em abril do ano passado um lote de 160 armas da marca Glock, de origem austríaca. O Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), unidade de elite da Polícia Militar do Paraná, está usando o armamento da Glock desde dezembro de 2016, quando recebeu 865 pistolas. O investimento total nos dois lotes foi de R$ 1,5 milhão.

Na época, a Secretaria de Estado da Segurança Pública e Administração Penitenciária (Sesp) do Paraná justificou a necessidade de comprar pistolas Glock ao histórico de falhas das armas da Taurus e ao preço baixo (um terço do valor da similar nacional). O Exército, porém, só autorizou a compra para os grupos de elite das polícias do Paraná.

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Caso similar aconteceu no Distrito Federal. A Polícia Militar comprou 200 pistolas automáticas Glock calibre 9 mm para uso do Bope. A compra foi feita em junho do ano passado, sem necessidade de licitação, e custou R$ 402,18 mil. O Ministério Público do Distrito Federal (MPDF) também comprou no ano passado 30 pistolas Glock, calibre .40. O valor do contrato foi de R$ 46,5 mil.

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Em ambos os casos, as instituições do Distrito Federal justificaram a escolha da Glock devido à segurança do equipamento, que conta com travas automáticas e diminui sensivelmente as chances de disparos acidentais. “A pistola Taurus vem constantemente apresentando falhas de segurança em seus projetos, ocasionando disparos acidentais, rajadas descontroladas, trazendo insegurança em seus operadores”, afirmou o MPDF em contrato. A Imbel, a outra fabricante nacional credenciada a fornecer o equipamento, também foi descartada porque não atendia aos requisitos técnicos de segurança.

Além do Paraná e do Distrito Federal, o estado do Ceará também conseguiu autorização para comprar pistolas estrangeiras, apesar de elas ainda não estarem em uso. Em fevereiro deste ano, o governo local assinou contrato para compra de 4.140 pistolas da empresa alemã SIG Sauer, sendo duas mil para a Polícia Civil e o restante para a Polícia Militar. O valor do contrato foi de R$ 6 milhões e foi fechado após a companhia alemã vencer em novembro a licitação internacional autorizada pelo Exército.

Na ocasião, a Secretaria de Segurança do Ceará afirmou que economizou 50% aos cofres públicos ao comprar as pistolas calibres ponto 40 e 9 mm da SIG Sauer. Além disso, destacou a qualidade das armas da empresa SIG Sauer, usadas por 96 países.

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As armas da SIG Sauer, porém, ainda não estão sendo usadas pelas polícias do Ceará, segundo o promotor de Justiça Ricardo Rocha. Além de elas ainda não terem sido entregues, o Ministério Público do estado entrou com uma ação para suspender a licitação, já que identificou falhas no certame. Segundo Rocha, as armas SIG Saur compradas pelo governo não atendiam a todos os padrões exigidos no edital e não tinham as travas internas de segurança necessárias – uma das justificativas para se fazer a licitação internacional. A ação ainda está sendo analisada pela Justiça.

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Polícia Federal usa pistolas estrangeiras desde 2003

Além dos estados, a Polícia Federal (PF) é outra instituição que tenta “quebrar o monopólio” da Taurus. Ela usa desde 2003 pistolas Glock calibre 9mm e, em 2007, adotou a marca como padrão. A PF, porém, conseguiu autorização para as compras, pois alegou em 2003 que não havia produto similar nacional, e em 2005 comunicou “deficiências técnicas” nas armas da Taurus. Em 2014, quanto tentou fazer uma nova compra, mas teve o pedido barrado pelo Exército, que alegou haver uma pistola similar da Taurus, que deveria ter preferência à internacional.

Brecha da lei e problemas nas armas

Para conseguir comprar armas internacionais, as polícias se aproveitam de brechas na lei. O Regulamento para a Fiscalização de Produtos Controlados pelo Exército (R-105), a Portaria n.º 620 de 4 de maio de 2006 e a Lei n.º 12.598 de 2012 estabelecem que a compra de produtos controlados pelo Exército deve ser feita de empresa nacional credenciada pelo Ministério da Defesa. As únicas empresas credenciadas a fornecer pistolas calibres 9 milímetros (mm), ponto 40 e ponto 380 são a Taurus e a estatal Imbel.

As legislações permitem a importação apenas quando não há produto nacional similar e caso caracterizada a urgência ou relevância da compra, após avaliação do órgão competente. Então, sempre que querem comprar uma arma estrangeira, as polícias e Forças Armadas precisam usar esses argumentos para tentar convencer o Exército, que pode liberar ou não.

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O diversos problemas nas armas da Taurus nos últimos anos ajudaram na argumentação das instituições de segurança. Mas, apesar das recentes liberações, a Taurus segue sendo a principal fornecedora de armas para polícias e Forças Armadas do Brasil, até pelo seu histórico de décadas de prestação desse serviço.

Procurada para comentar a reportagem, a Taurus não respondeu aos questionamentos.