| Foto: André Melo Andrade/ Estadão Conteúdo

Reportagem da BBC Brasil revela que o senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente da República, Jair Bolsonaro, ocupou um cargo na Câmara dos Deputados, em Brasília, enquanto cursava a faculdade de Direito e fazia estágio voluntário no Rio de Janeiro, entre 2000 e 2002.

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Aos 19 anos, Flávio foi nomeado assistente técnico de gabinete na liderança do PPB, partido pelo qual Jair Bolsonaro havia sido eleito para seu terceiro mandato como deputado federal. O cargo exigia o cumprimento de 40 horas de trabalhos semanais na Câmara. Para isso, o filho do presidente recebia o equivalente a R$ 4.712 por mês, ou R$ 13,5 mil em valores corrigidos, segundo declaração do Imposto de Renda de Flávio obtido pela BBC.

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Esse mesmo posto comissionado foi ocupado antes por outro membro da família Bolsonaro: a então esposa de Jair – Ana Cristina Siqueira Valle – deixou o cargo uma semana antes de ser substituída por Flávio.

No mesmo período em que trabalhava em Brasília, o primogênito de Jair Bolsonaro relata em suas páginas no LinkedIn e no site da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro que exercia outras duas atividades que exigiam a presença física dele: a faculdade de Direito na Universidade Candido Mendes, diariamente, e um estágio na Defensoria Pública do Rio de Janeiro, duas vezes por semana.

Não há referência, no entanto, ao cargo parlamentar em seus dois currículos disponíveis na internet. A ocupação na Câmara consta, entretanto, na declaração do Imposto de Renda dele de 2001 entregue à Justiça Eleitoral, no portal de transparência da Casa e no Diário Oficial da União.

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A reportagem da BBC indagou as assessorias de Flávio e Jair Bolsonaro como o senador eleito conseguiu conciliar estágio voluntário e faculdade privada no Rio de Janeiro com emprego público em Brasília, duas cidades distantes em mais de 1.000 km ou quase uma hora e meia de voo? Mas não houve resposta até a publicação da reportagem.

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Flávio só deixou o cargo na Câmara em junho de 2002, para disputar as eleições. Naquele ano, ele foi eleito deputado estadual no Rio pelo próprio PPB. Três anos depois, se formou advogado.

‘Se ele errou, vai ter de pagar o preço’

O presidente Jair Bolsonaro disse nesta quarta-feira (23), em entrevista à agência Bloomberg, em Davos (Suíça), que eventuais irregularidades cometidas por seu filho terão de ser punidas. “Se por acaso ele errou e isso for provado, lamento como pai, mas ele terá de pagar o preço por esses atos que não podemos aceitar”, afirmou.

O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) considerou suspeitos 48 depósitos em dinheiro na conta do deputado estadual e atual senador eleito. Os depósitos, sempre no valor de R$ 2.000, totalizando R$ 96 mil, foram feitos entre junho e julho de 2017 no autoatendimento da agência bancária que fica dentro da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) – Flávio é deputado estadual.

O Coaf, órgão federal de combate à lavagem de dinheiro, também identificou movimentações atípicas de R$ 7 milhões na conta de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio e amigo da família. Queiroz recebeu, por exemplo, transferências de outros funcionários do gabinete de Flávio e deu um cheque de R$ 24 mil à primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Flávio Bolsonaro nega ter cometido qualquer irregularidade. Diz que os valores que movimentou foram operações de compra e venda de imóveis. Também afirma que não é responsável pelo que seus assessores fazem da porta de seu gabinete para fora. E alega que as denúncias têm objetivo de desgastar o governo de seu pai.

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