| Foto: J.F.Diorio/Estadão Conteúdo

O governo federal anunciou nesta segunda (9) um acordo de leniência com a Odebrecht, por meio do qual o grupo se comprometeu a pagar R$ 2,72 bilhões por causa do envolvimento em desvios investigados na Lava Jato.

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O termo foi firmado em meio a embate com técnicos e autoridades do TCU (Tribunal de Contas da União), que acusam a AGU (Advocacia-Geral da União) e a CGU (Controladoria-Geral da União), representantes do governo, de sonegar informações da corte e de driblar a necessidade de seu aval prévio. Um processo será aberto pelo tribunal para apurar possíveis condutas irregulares das duas pastas.

O montante acordado refere-se aos esquemas envolvendo todas as empresas do grupo Odebrecht (exceto Braskem) e o Executivo federal. Os recursos terão de ser pagos em 22 parcelas anuais e serão rateados entre órgãos como Petrobras, FGTS (Fundo de Garantia de Tempo de Serviço), Infraero, Valec e Trensurb.

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Com a correção pela taxa básica de juros da economia (Selic), a previsão é de que os pagamentos alcancem R$ 6,8 bilhões ao fim do período.

Em dezembro de 2016, o MPF (Ministério Público Federal) já havia assinado um acordo mais amplo com a Odebrecht, de R$ 3,8 bilhões, que envolvia restituição de recursos não só ao governo federal, mas a estados e municípios brasileiros, além de autoridades suíças e americanas. Porém, a CGU e a AGU não haviam participado das tratativas.

A fatia referente aos órgãos federais, acertada naquela ocasião, é compatível com a que foi pactuada agora com o governo federal. São dois os acordos, mas não haverá dupla cobrança. Os valores depositados pelo grupo em juízo serão repassados ao governo.

Com o novo entendimento, a Odebrecht poderá continuar firmando contratos com ministérios, estatais e outros órgãos federais. As empresas do grupo já estão de volta à lista de fornecedores da Petrobras. A AGU vai retirar as ações nas quais cobrava prejuízos do conglomerado.

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Dos valores pactuados, R$ 900 milhões se referem a propinas pagas a cerca de 150 agentes públicos; R$ 1,3 bilhão equivale a lucros indevidos, obtidos em 49 contratos; e R$ 442 milhões são multas.

O governo não levou em conta o superfaturamento exato das obras da Odebrecht, alegando que isso demandará apuração mais aprofundada. Esse é, inclusive, um dos motivos de conflito com o tribunal, que calcula perdas maiores.

O acordo, contudo, não dá quitação integral à Odebrecht, o que significa que o TCU poderá cobrar valores sobressalentes do grupo em seus processos.

O acordo veio mais de três anos após a CGU iniciar tratativas com a Odebrecht, cujos executivos firmaram um amplo acordo de colaboração na esfera criminal. É o quarto firmado pelo governo federal com empresas alvo da Lava Jato, mas já se vislumbra a possibilidade de entraves à sua execução.

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Autoridades e técnicos do TCU, ouvidos pela Folha, sustentam que os ministros Grace Mendonça (AGU) e Wagner Rosário (CGU) acertaram, em documento enviado à corte, submeter o acordo de ao tribunal antes de assiná-lo, o que não ocorreu, tendo havido suposta quebra de compromisso.

O TCU editou uma instrução normativa em 2015 na qual determina que todas as fases de um acordo de leniência passem por sua fiscalização prévia.

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No mês passado, os auditores da corte propuseram aos ministros uma medida cautelar para impedir a celebração do termo com a Odebrecht antes de análise da corte. Segundo pessoas com acesso às negociações entre os órgãos, essa medida só não foi tomada por causa da suposta promessa dos titulares da AGU e da CGU.

O tribunal vai avaliar agora se aprova cautelar semelhante, o que travaria o acordo. Além disso, abrirá processo para analisar supostas irregularidades na conduta de Grace e Wagner Rosário ao, supostamente, impedir a atuação da corte e quebrar acerto feito no documento.

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Os representantes da CGU e da AGU negaram ter combinado com o TCU o envio prévio do acordo. Grace afirmou que o governo atua nesses casos com independência e que não há na legislação qualquer exigência de aval prévio do tribunal de contas. “O único compromisso foi de, tão logo concluídas nossa análise, encaminharmos ao TCU.”

Rosário avisou que o acordo de leniência só será remetido à corte de contas depois que ela se comprometer a não usar as informações entregues pela Odebrecht para puni-la em seus processos.

Essa conduta já foi fonte de embates de ministros do tribunal com a força-tarefa da Lava Jato, em Curitiba, e o juiz Sérgio Moro. Atualmente, está sendo discutida no STF (Supremo Tribunal Federal). “Nosso acordo é com a empresa”, ressaltou o chefe da CGU.