O procurador da Lava Jato Carlos Fernando dos Santos Lima diz que decisões do STF devem ser respeitadas, mas também criticadas: ele não concorda com o entendimento do Supremo sobre a condução coercitiva| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo

Um instrumento que está presente há décadas no processo penal brasileiro agora é considerado inconstitucional, justamente quando atingiu as classes sociais mais elevadas. Para alguns dos procuradores da força-tarefa da operação Lava Jato no Paraná, foi isso o que ocorreu com a discussão sobre a condução coercitiva. Na quinta-feira (14), por seis votos a cinco, o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou inconstitucional esse tipo de expediente, que é muito usado na Lava Jato, e consiste em conduzir um investigado, com auxílio de força policial, para prestar depoimento.

CARREGANDO :)

“A decisão de hoje me causa um pouco de preocupação, no sentido de que isso pode ser uma abertura para que, em pouco tempo, comecem a questionar outras questões relativas aos procedimentos da Lava Jato. Como o próprio ministro [Luís Roberto] Barroso falou ontem: de repente, do nada, quando se começou a atacar réus de maior poder aquisitivo, houve um surto de garantismo no Brasil”, argumentou Diogo Castor de Mattos, procurador que estava lançando o livro “O amigo do direito penal”, com noite de autógrafos nesta quinta-feira (14), em um shopping de Curitiba.

LEIA MAIS: Prisão temporária deve aumentar com veto do STF à condução coercitiva

Publicidade

O argumento de Castor de Mattos é que o dispositivo condução coercitiva é usado há anos sem nenhum questionamento, “até que chegou a um ponto que começou a ser feito com pessoas que estão no ápice da pirâmide social”. “A minha preocupação é de que, no futuro, essa seja uma válvula de escape para outros procedimentos da operação Lava Jato,que sejam questionados ou mesmo invalidados”, desabafou.

Quem engrossou as críticas foi o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, conhecido por seus ‘textões’ de Facebook e também por ter sido alvo de um processo disciplinar por criticar o presidente Michel Temer (MDB), que acabou arquivado. “O código de processo penal é de 1941, nós temos essa prática já de muitos anos da condução coercitiva, mas quando ela se aproximou das pessoas que realmente tem poder, aí o Supremo foi chamado a decidir”, ponderou.

Lima ainda afirmou que não entraria no mérito da decisão do Supremo, mas que no entendimento deles, a condução coercitiva era constitucional. “Vamos respeitar a decisão do Supremo, com a obediência que toda a decisão do Supremo merece. No entanto, decisões do Supremo devem ser cumpridas, mas devem ser criticadas também”, declarou.

Para ele, o Direito não pode mais ser trabalhado como uma abstração, mas precisa funcionar tanto para proteger o acusado como também para chegar a uma sentença que possa ser executada. “Coisa que não temos no Brasil e pontos fora da curva, como a Lava Jato e o mensalão, ainda não mudaram essa normal brasileira de impunidade”, completou e foi aplaudido pelos presentes.