Flávio Bolsonaro e o pai, Jair Bolsonaro: situação delicada do filho do presidente já preocupa o governo.| Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

O deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) deixou por volta das 13h30 o Palácio do Alvorada, residência oficial do presidente Jair Bolsonaro , em Brasília. O parlamentar, filho mais velho do presidente, permaneceu na residência oficial durante toda a manhã e o início da tarde do sábado (19), dia seguinte à veiculação de um relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) que apontou movimentações financeiras atípicas em seu nome.

CARREGANDO :)

O documento do órgão de inteligência indicou que Flávio recebeu em sua conta bancária 48 depósitos em dinheiro, em um período de cinco dias, totalizando R$ 96 mil.

Com o agravamento das suspeitas contra Flávio Bolsonaro (entenda o caso), o Palácio do Planalto iniciou estratégia para evitar que o episódio se transforme em uma crise de governo. A orientação recebida por integrantes da equipe ministerial é de que, a partir de agora, evitem comentar o tema em público, tratando-o como uma questão particular do filho do presidente Jair Bolsonaro. Alguns parlamentares, porém, já pressionam o atual deputado estadual por respostas.

Publicidade
Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]

SAIBA MAIS: Fantasmas da velha política rondam Bolsonaro - foro, amigo, filho, acordo na Câmara

A ideia é tentar, assim, blindar a gestão federal das suspeitas, reduzindo o risco delas contaminarem a imagem do presidente e afetarem a sua aprovação popular, ainda em alta no início da administração e à véspera da viagem do presidente ao Fórum Econômico Mundial, que se realizará na próxima semana em Davos, na Suíça.

Até mesmo a participação do presidente no evento europeu parece ter sido afetada pela situação delicada do filho. Segundo a Coluna do Estadão, uma entrevista coletiva que estava agendada para terça-feira (22) para Jair Bolsonaro sumiu da agenda. De acordo com o jornal, a coletiva não foi confirmada aos organizadores pelo governo brasileiro. Caso fosse realizada, havia boas chances de que o tema Coaf viesse à tona.

Em outra frente, para tentar arrefecer as suspeitas, a equipe do Planalto sugere que o senador eleito conceda novas entrevistas a veículos de imprensa, dando explicações sobre o episódio e municiando aliados com argumentos para que saiam em sua defesa. Ao falar à Rede Record, na noite de sexta-feira (18), Flávio se defendeu das acusações e teceu críticas ao Ministério Público.

Publicidade

A confusão

Um relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) apontou na última sexta-feira (18) movimentações financeiras atípicas de Flávio Bolsonaro. Ele recebeu em sua conta bancária 48 depósitos em dinheiro no valor total de R$ 96 mil, depositados apenas em cinco dias.

Eles foram feitos no autoatendimento da agência bancária que fica dentro da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) sempre no valor de R$ 2 mil. Segundo reportagem do Jornal Nacional, o documento afirma que o fato de terem sido feitos de forma fracionada desperta suspeita de ocultação da origem do dinheiro.

O caso se soma a outro levantamento do Coaf que atingiu o filho do presidente da República. Em dezembro, o órgão de controle identificou uma movimentação atípica, de R$ 1,2 milhão, na conta de seu ex-assessor na Alerj, Fabrício Queiroz.

LEIA MAIS: Flávio Bolsonaro e o caso Queiroz - o que se sabe e o que precisa ser esclarecido

O relatório revelado em dezembro foi elaborado a partir de uma investigação que apurava operações suspeitas de vários servidores e ex-servidores da Assembleia Legislativa do Rio. O caso gerou desgaste político para Flávio e para o governo. Na semana passada, o senador eleito pediu ao STF que a investigação criminal do Ministério Público do Rio sobre o caso fosse suspensa. Ele foi atendido por uma decisão liminar (provisória) do ministro Luiz Fux.

Publicidade

Desde a divulgação das suspeitas sobre o ex-assessor, o senador eleito tenta se desvincular do caso e tem argumentado que não pode ser responsabilizado pelas ações de um ex-funcionário.

Repercussão

Neste sábado (19), o presidente do PSL, Luciano Bivar, saiu em defesa de Flávio e disse ter “absoluta convicção” da retidão do senador eleito. “Pelo o que eu conheço, ele (Flávio) é uma pessoa decente. O Jair teve sorte de ter três filhos que se fizeram pelas próprias competências”, disse.

Apesar da declaração, a avaliação entre parlamentares do partido é de que o relatório do Coaf só aumenta o desgaste do episódio.

Além disso, fragiliza uma das argumentações utilizadas pelo filho de presidente: a de que as movimentações atípicas eram um problema de seu ex-assessor, Fabrício Queiroz, e portanto caberia apenas a ele se explicar.

Parlamentares também avaliam, reservadamente, que toda a gestão do caso Coaf, da parte de Flávio, não conseguiu estancar o prejuízo para o governo. No curto prazo, o diagnóstico é de que o senador eleito chega fragilizado e enfraquecido para o início do seu mandato.

Para além disso, a divulgação do novo relatório fez com que alguns aliados cobrassem explicações do senador eleito. “Você tem um problema agora que já merece dele (Flávio) explicações claras. Ele vai ter que se explicar”, diz o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), um dos expoentes da bancada evangélica.

“Agora, também tem que ser justo. Se houver ilícito, não é nenhum ilícito da prática de senador [seria anterior ao mandato]. Ele vai ter que responder como deputado estadual no exercício da função”, acrescenta, argumentando que o caso deveria ser apurado pela Justiça estadual.

Para o deputado, no entanto, os novos indícios que afetam o senador eleito não podem ser utilizados para atingir o presidente. “Também não acho justo imputar um erro do filho ao pai, ou vice-versa. Cada um responde por si, cada um tem o seu CPF”, ressaltou.

Na sexta-feira (18), antes mesmo da divulgação do relatório do Coaf, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, disse que o episódio é uma tentativa de minar o governo federal por meio do que ele classifica como um terceiro turno das eleições presidenciais.