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Renan no plenário do Senado: para colegas do alagoano na Casa, ele não tem força para ser líder da oposição. | Pedro França/Agência Senado
Renan no plenário do Senado: para colegas do alagoano na Casa, ele não tem força para ser líder da oposição.| Foto: Pedro França/Agência Senado

Quando o tumultuado processo de escolha do presidente do Senado foi concluído, com a vitória de Davi Alcolumbre (DEM-AP), uma análise muito recorrente era de que a derrota faria de Renan Calheiros (MDB-AL) um obstáculo para o governo de Jair Bolsonaro (PSL). Mas, até agora, isso não ocorreu.

O motivo principal para apostar que Renan faria oposição dura contra Bolsonaro foi o fato de que seu maior algoz havia sido o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM), que articulou a vitória de Alcolumbre. Ressentido, habilidoso e experiente, Renan poderia se transformar em uma “pedra no sapato” para os planos de Bolsonaro, em especial os que demandam ampla votação no Congresso, como a reforma da Previdência.

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Da eleição no Senado aos dias atuais, entretanto, Renan tem optado pela discrição. Ele se ausentou do Congresso entre a data da eleição interna da Casa, dia 2, e o dia 19. Quando voltou, teve uma passagem rápida, em que cumprimentou brevemente os demais senadores e não quis fazer pronunciamentos na tribuna. O senador tem dito que não tomou uma decisão se vai apoiar ou não a gestão Bolsonaro e que vai “ficar assistindo” as decisões do governo antes de tomar uma decisão.

Ele tem a força?

A Gazeta do Povo conversou com três senadores, de partidos diferentes, sobre a possibilidade de Renan atrapalhar o governo. A opinião geral deles é a de que o alagoano tem poucas ferramentas para se tornar, realmente, um líder da oposição.

“Ele iria liderar a oposição com qual instrumento? Ele não tem meios para concretizar isso”, diz um senador, que figura entre os mais experientes do Congresso. Outro, que iniciou em 2019 seu primeiro mandato, é também da opinião de que Renan tem atualmente menos força do que sua trajetória sugere – e que o próprio alagoano identifica isso. “Ele sabe dessa situação e, até por isso, não vai querer medir forças com o governo agora. Porque se medir, vai perder, e assim vai expor que já não é mais o mesmo. O rei está nu.”

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Um terceiro parlamentar, do partido de Renan, disse que “a imprensa dá a ele mais força do que ele realmente tem”. “Hoje, ele é um entre os 81 senadores. Como que ele poderia ‘liderar a oposição’? Com qual bancada? Foram apenas cinco no MDB que votaram nele como candidato à presidência do Senado. Um desses foi o Fernando Bezerra Coelho [PE], que desde o começo mostrou que gostaria de ser o líder do governo Bolsonaro. Não dá para imaginar que, com esses, o Renan conseguiria ter forças suficientes para concretizar uma oposição”, afirma.

Pai coruja

Esse mesmo senador do MDB acrescenta outra circunstância que dificulta a ideia de um Renan “rebelde”: o fato de o senador ser pai de um governador de estado, Renan Filho, o gestor de Alagoas.

“Todo senador tem vínculo e precisa prestar contas ao seu estado. Mas, no caso do Renan, isso é ainda mais acentuado. É o nome do filho dele que está em jogo. E nós sabemos como um presidente pode, se quiser, prejudicar um governador de estado”, afirma. O senador lembra a situação similar envolvendo outro colega de parlamento: Jáder Barbalho (MDB-PA), pai de Helder Barbalho, o governador do Pará. O cenário, na avaliação do parlamentar, tira do escopo do “Renan oposicionista” um possível aliado.

Renan Filho foi reeleito governador no primeiro turno, com 77,3% dos votos válidos em Alagoas. A votação em 2018 foi bem superior à de 2014. O governador e seu pai apoiaram Fernando Haddad (PT) na corrida presidencial e foram até contemplados com uma visita do candidato petista ao seu estado em setembro. Apesar da mobilização dos líderes locais, entretanto, Alagoas foi o estado em que Bolsonaro registrou seu melhor desempenho na região Nordeste no primeiro turno.

Um sobrevivente

Em meio a uma eleição que viu a derrota de diversos caciques do MDB no Senado – Roberto Requião (PR), Edison Lobão (MA), Eunício Oliveira (CE) e Romero Jucá (RR) – Renan acabou sendo uma exceção. Ele conseguiu renovar seu mandato com 621.562 votos.

Não foi, no entanto, o mais votado em seu estado – a honra coube a Rodrigo Cunha (PSDB), que estreia em 2019 no Congresso Nacional. Além disso, Renan passou por uma expressiva queda em sua votação. Ele recebera em 2010 cerca de 840 mil votos.

A derrota na corrida para a presidência do Senado foi a “coroação” de um processo que se mostrou desgastante a Renan desde o início. Ele lançou seu nome para o cargo de modo informal ainda no ano passado. Em janeiro, mesmo negando nas redes sociais, começou a se articular para o posto. Como Simone Tebet (MS) também se colocou como pré-candidata pelo MDB, o partido teve que fazer uma escolha interna para definir quem representaria a legenda. O alagoano venceu por 7 votos a 5 e parecia favorito para ganhar a eleição – até porque o adversário Davi Alcolumbre não figurava entre os candidatos mais expressivos.

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Entretanto, a confirmação da candidatura de Renan despertou intensas mobilizações nas redes sociais. Militantes simpáticos a diferentes partidos começaram a questionar os representantes de seus estados. O senador Jorge Kajuru (PSB-GO), de primeiro mandato, abriu uma enquete em sua página no Facebook pedindo aos eleitores que indicassem em quem deveriam votar.

A controvérsia evoluiu a ponto de o Senado se dividir a respeito do sistema de votação para a presidência da Casa. Enquanto o regimento determinava voto fechado, a maioria simples dos parlamentares pedia voto aberto – cenário menos favorável a Renan. Acabou prevalecendo uma solução “híbrida”, em que os votos foram feitos em cédulas, que permitiam aos parlamentares mostrarem suas escolhas. Em meio a esse tumulto, Renan acabou retirando a candidatura e Alcolumbre foi eleito logo em primeiro turno.

Antes, Renan tentou passar uma imagem nova à opinião pública; e ao governo Bolsonaro. Disse que agora seria um “novo Renan”, de convicções políticas liberais, mais ao gosto do ministro Paulo Guedes (Economia). O “novo Renan” foi também capaz de defender o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), alçado ao fogo do debate após a descoberta do caso Queiroz, e que havia criticado anteriormente o alagoano. Apesar da aproximação, Flávio acabou sendo um dos senadores que divulgou publicamente seu voto para a presidência da Casa – e ele não votou em Renan, mas em Alcolumbre.

Titular de três comissões

De volta à rotina parlamentar, Renan será titular de três comissões do Senado: as de Assuntos Sociais, Ciência e Tecnologia e Educação, Cultura e Esporte. E ficará como suplente da de Constituição, Justiça e Cidadania, que terá como presidente sua rival Simone Tebet.

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