O advogado Frederico Wassef – que manteve o ex-assessor parlamentar Fabricio Queiroz escondido em um imóvel de sua propriedade – recebeu R$ 9 milhões do frigorífico JBS, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, investigados pela Lava Jato. E, no fim de 2019, Wassef se reuniu com integrantes da Procuradoria-Geral da República (PGR) para negociar uma repactuação do acordo de delação dos dois. A colaboração premiada está sob risco de ser anulada por descumprimento dos termos da colaboração premiada pelos empresários.
As informações foram divulgadas nesta quinta-feira (20) em reportagens na versão eletrônica da revista Crusoé e do site Jota, especializado em notícias da área jurídica.
Segundo a Crusoé, os pagamentos da JBS a Wassef estão demonstrados em documentos obtidos pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) na investigação que apura a relação do advogado com Fabrício Queiroz.
Queiroz é amigo de Bolsonaro e ex-assessor do hoje senador Flávio Bolsonaro (Repúblicanos-RJ) na época em que o filho do presidente era deputado estadual no Rio. O ex-assessor é investigado pelo esquema de "rachadinha" na Assembleia Legislativa do Rio.
Já Wassef também foi advogado de Flávio. Ele deixou de representar o senador pouco depois de Queiroz ter sido preso numa casa do advogado em Atibaia (SP), em junho. Mas Wassef ainda é advogado do presidente Bolsonaro.
Wassef teria negociado a repactuação da delação na PGR
A reportagem da Crusoé não informa exatamente quando os pagamentos da JBS a Wassef ocorreram. Mas, segundo a revista, o advogado explicou ao MP-RJ que os valores se referem ao trabalho de seu escritório em processos da Lava Jato. A Crusoé destaca no texto que a atuação de Wassef na defesa de investigados da Lava Jato era desconhecida até agora.
Já a reportagem do Jota ouviu integrantes do Ministério Público Federal (MPF) que afirmaram que o encontro entre Wassef e os procuradores da Lava Jato na PGR, no fim do ano passado, tratou de uma possível repactuação do acordo de delação dos irmãos Batista – que desde 2017 corre risco de ser anulado.
A reportagem afirma que, além de Wassef, participaram da reunião o coordenador da Lava Jato na PGR no início da gestão de Augusto Aras, o subprocurador-geral da República José Adonis Callou de Araújo Sá; e a procuradora Clara Noleto, que também integrava o grupo da Lava Jato na PGR. Ela deixou essa função no início de 2020.
Segundo o Jota, procuradores disseram que o encontro ocorreu a pedido do próprio procurador-geral da República, Augusto Aras. Mas, ao site Jota, a assessoria de Aras informou que ele desconhece a ocorrência da reunião.
No entanto, o procurador-geral da República reconheceu, por meio de sua assessoria, que se encontrou com Wassef para uma visita de cortesia logo após ter assumido a chefia do MPF. Aras tomou posse na PGR em setembro do ano passado, depois de ter sido indicado ao cargo por Bolsonaro.
Aras mudou de posição e autorizou repactuação
A delação premiada dos donos da JBS está sob risco de anulação desde 2017. Naquele mesmo ano, os irmãos Batista firmaram um acordo diretamente com o então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para incriminar o então presidente Michel Temer.
O acordo foi muito vantajoso para Joesley e Wesley, que se livrariam de qualquer possibilidade de punição penal. Mas logo surgiram evidências de que os empresários haviam descumprido os termos da colaboração premiada. O próprio Janot pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) o cancelamento da delação – o que significaria que os irmãos Batista poderiam ser julgados e condenados à prisão.
O mesmo posicionamento tiveram os dois sucessores dele na PGR, Raquel Dodge e Augusto Aras. Mas Aras mudou de posição pouco antes da data agendada pelo STF para julgar o caso, 17 de junho deste ano. O julgamento acabou sendo adiado.
Segundo a Crusoé, foi nessa época que a PGR começou a negociar com os irmãos Batista a repactuação dos termos da delação. A revista afirma que a negociação passou a ser conduzida, com o aval do próprio Aras, pela subprocuradora Lindora Araújo – que passou a coordenar a Lava Jato na PGR na atual gestão. Lindora afirmou à Crusoé não conhecer Wassef.
O advogado não falou com a Crusoé nem com o Jota. Mas o Jota destaca que, em julho, em outra reportagem, Wassef negou ter sido contratado para renegociar a delação dos donos da JBS. O advogado afirmou à época que estava sendo vítima de "uma campanha de fake news asquerosa e nojenta".
O grupo J&F, que controla a JBS, também não falou com nenhuma dos dois veículos de comunicação. Mas, na reportagem de julho do Jota, a empresa negou ter contratado Wassef.
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