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Uma possível candidatura presidencial oriunda da fusão entre o PSDB e o Podemos, deve afastar integrantes da direita, além de gerar uma debandada de filiados. Nomes cogitados para encabeçar uma terceira via, de centro, são os do deputado Aécio Neves (PSDB-MG) e do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB).
Nesta terça-feira a Executiva Nacional do PSDB autorizou de forma unânime a fusão com o Podemos, mas a negociação entre os partidos continua e ainda tem que ser aprovada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Os sociais democratas do PSDB perderam grande parte de seus quadros e vêm tentando se colocar como oposição ao governo de esquerda. Já o Podemos foi o partido que abrigou expoentes da Lava Jato, como o senador Sérgio Moro, hoje no União Brasil, e o procurador Deltan Dallagnol, atualmente no Novo. Embora tenha nomes fortes de oposição, como o do deputado Maurício Marcon, do Rio Grande do Sul, e o senador Zequinha Marinho, do Pará, o partido teve ligações com o governo por meio de cargos de segundo escalão.
Para o deputado Marcon, caso a fusão venha a impulsionar uma candidatura de centro para 2026, sua posição será a de buscar outro partido. “Eu estarei do lado da candidatura de direita, com Jair Bolsonaro. Inclusive, com a fusão se abre a possibilidade de sair do partido antecipadamente. Eu não vou patrocinar protagonismo para o Aécio. E conhecendo os meus colegas de bancada, esse não vai ser um ponto de fácil aceitação”, enfatizou o deputado que foi vice-líder da oposição durante quase dois anos.
Aécio vem defendendo desde o ano passado uma candidatura de centro, mas não se coloca oficialmente a possibilidade de novamente se candidatar à Presidência, como fez em 2014. Ele já defendeu o nome de Eduardo Leite para ser a alternativa de terceira via ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ao grupo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O nome de Aécio tem sido citado em uma eventual candidatura ao governo de Minas Gerais
O deputado Marcon, da direita no Podemos, afirmou também que não deve ficar sob o “mesmo teto” que Eduardo Leite. Para ele, o governador gaúcho não é um quadro relevante entre os colegas de partido. “Ninguém está nem aí pra ele”, afirmou à Gazeta do Povo.
O senador Oriovisto Guimarães (PSDB-PR), que recentemente trocou o Podemos pelo PSDB, afirmou que as negociações ainda precisam evoluir. “É muito cedo para falar em debandada ou protagonismo. Isso não vai acontecer enquanto não houver todos os acertos que tem que haver. Há muitas combinações a serem feitas antes de se pensar em candidatura à presidência. Antes de qualquer coisa”, disse Oriovisto.
Se efetivada a fusão entre o PSDB e o Podemos, a nova legenda poderá ter 27 deputados federais, 401 prefeitos e 5330 vereadores. Com a fusão, o novo partido pode se tornar o 6º maior em população governada, com 16.370.200 habitantes. Em níveis financeiros, a junção criaria ainda o 5° maior Fundo Partidário (R$ 90.326.891,30), atrás de PL, PT, União e PP.
Posição após a fusão ainda é permeada por incertezas
Atualmente, nas redes sociais, o PSDB tem se colocado como oposição ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No entanto, a busca do partido é por se apresentar como uma terceira via. “Avançaremos na busca de uma alternativa partidária que se coloque no centro democrático, longe dos extremos, e que permita ao país voltar a se desenvolver”, pontuou o partido ao anunciar a autorização da executiva nacional sobre o processo de fusão com o Podemos.
O Podemos, por sua vez, tem parlamentares que se posicionam à direita. Por outro lado, o partido também teve cargos de segundo escalão nomeados no atual governo, em especial no Grupo Executivo de Assistência Patronal (Geap). Além disso, teve o deputado Victor Linhalis (ES) como vice-líder do governo Lula. Linhalis, no entanto, deixou o cargo em menos de dois meses, por divergir das orientações do Palácio do Planalto sobre o projeto de lei do qual era relator. A proposta tratava da “retirada de invasores de propriedades privadas".
Além disso, quatro deputados do Podemos, incluindo Linhalis e a presidente do partido, Renata Abreu (SP) retiraram assinaturas de apoio ao requerimento de urgência para apreciação do projeto de lei que concede anistia para os presos do 8 de janeiro.
Avanços nas negociações para fusão entre Podemos e PSDB esbarra em resistências internas
O movimento de fusão entre o PSDB e o Podemos tem avançado. O PSDB já mobilizou a executiva nacional e aprovou a fusão. O processo, no entanto, ainda precisará passar pelo aval dos filiados em convenção. O Podemos deve aguardar mais definições do PSDB para fazer um gesto na mesma direção. Com trâmites diferentes, cada sigla tem lidado com diferentes entraves para viabilizar a união.
Para lançar candidatos nas próximas eleições é necessário estar registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com seis meses de antecedência. Para que a fusão se concretize, há regras que precisam ser cumpridas, como a elaboração de projetos comuns de estatuto e programa e a eleição do órgão de direção nacional que promoverá o registro do novo partido originado. Assim, uma série de tratativas ainda estão na mesa entre os partidos.
Entre os parlamentares e a direção do Podemos, a fusão só deve ser admitida com a manutenção da deputada Renata Abreu (Podemos-SP) como presidente da nova legenda. O deputado Aécio Neves, por sua vez, tem exaltado o protagonismo que deve ser assumido pelo PSDB.
Em declarações recentes, Aécio afirmou que junto do movimento de fusão, o PSDB articula uma frente política de centro para as eleições de 2026. “O PSDB se fortalece para liderar uma alternativa de centro para o Brasil em 2026”, disse o deputado em suas redes sociais.
O partido enfrenta anos de diminuição na sua bancada e desgaste político. Com apenas 13 deputados na atual legislatura, o partido quase esbarrou na cláusula de barreira, que determina que os partidos precisam ter pelo menos 11 deputados para ter acesso ter acesso aos recursos do Fundo Partidário, por exemplo. O Podemos, por sua vez, tem 20 deputados.
Fontes ligadas ao Podemos, no entanto, afirmaram à reportagem que não há protagonismo, mas sim dois partidos buscando entendimento.
Entre debandada ou oportunidade de crescimento, fusão não é uma tarefa simples
Apesar dos avanços nas conversas, o senador Oriovisto Guimarães pondera que a concretização da fusão não deve ocorrer antes do final do ano e que pode, inclusive, não se concretizar. “A sinalização atual é de que as conversas continuam, mas é preciso conciliar os estatutos [dos partidos], cláusula por cláusula. Isso não é uma tarefa simples”, disse o senador.
Diante dos entraves, na avaliação de analistas ouvidos pela Gazeta do Povo, a fusão entre o PSDB e o Podemos pode ser tanto uma oportunidade de crescimento quanto uma debandada geral.
O analista político e diretor de operações do Ranking dos Políticos Luan Sperandio comparou o processo com fusões e aquisições no mercado corporativo. “Quando uma empresa adquire outra, nem sempre quem antes liderava aceita ser liderado, e a nova dinâmica pode gerar conflitos”, avalia Sperandio.
O cientista político Tiago Valenciano avalia que a fusão pode dar uma boa sobrevida para ambos os partidos. “O Podemos passa a ter mais recursos do fundo partidário e ganha deputados, além de ser um bom porto seguro para receber novas lideranças antes da janela partidária. O PSDB, que meio que encerrou as atividades, ganha outra sobrevivência valiosa para quem não conseguiria, notoriamente, receber uma chance de se recriar em 2026”, avalia Valenciano.
Fator Leite também pode influenciar decisões sobre fusão PSDB-Podemos
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, atualmente filiado ao PSDB, também pode influenciar o cenário da fusão dos dois partidos. Leite tem ensaiado uma saída do partido almejando uma possível candidatura presidencial. Ele esteve em conversas com o PSD, comandado por Gilberto Kassab.
O presidente do PSDB, Marconi Perillo, no entanto, deixou clara a sua disposição em apoiar as intenções de Leite em se candidatar à Presidência da República para que ele permaneça no partido. “Ele é jovem, moderno e conduz um governo bom e ético”, declarou Perillo em entrevista do Poder360. Perillo disse ainda que ele e a presidente do Podemos, Renata Abreu estão "absolutamente afinados" nesta questão. "Se o Eduardo realmente se colocar como candidato pelo partido, ele terá apoio unânime”, assegurou Perillo.
O governador do Rio Grande do Sul, no entanto, vem destacando a sua indefinição sobre o futuro partidário. “A conversa com a Renata [Abreu] foi uma troca de visões políticas. A união dos dois partidos é um cenário cada vez mais forte, mas não significa que será meu futuro, que ainda não está definido”, disse Leite à Veja, após uma reunião com a presidente do Podemos no dia 23 de abril.
No sábado (26), Leite voltou a falar sobre o assunto e destacou o interesse em liderar o projeto do partido do qual fizer parte em 2026. "Se o meu movimento for em direção a outro partido, e não a permanência no que vier a ser o PSDB na sua fusão, será por enxergar a oportunidade de não apenas participar, mas também de liderar o projeto [nacional]", afirmou o governador gaúcho em entrevista à Folha de São Paulo.