Dino determinou a prisão cautelar de empresário turco naturalizado brasileiro, alvo de um pedido de extradição do governo Erdogan.| Foto: Rosinei Coutinho/STF
Ouça este conteúdo

A Polícia Federal prendeu nesta quarta-feira (30) o empresário turco naturalizado brasileiro Mustafa Goktepe, alvo de um pedido de extradição por fazer oposição ao presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan. A ordem de prisão cautelar foi assinada pelo ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), no último dia 14.

CARREGANDO :)

Goktepe mora no Brasil há 20 anos, foi naturalizado brasileiro em 2012, é casado com uma brasileira e tem duas filhas, de 8 e 13 anos, nascidas no país. Ele é dono de uma cadeia de restaurantes turcos e coordena duas escolas, segundo apuração da coluna de Mônica Bergamo, na Folha de S. Paulo, que revelou o caso.

O empresário é membro do Hizmet, uma organização criada pelo clérigo muçulmano Fethullah Gülen, acusado por Erdogan de articular uma suposta tentativa de golpe de estado em 2016. O clérigo, que morreu no autoexílio em 2024 nos Estados Unidos, sempre negou envolvimento na ação e condenou a tentativa de golpe "nos termos mais fortes".

Publicidade

Gülen foi um aliado do presidente turco até 2013, quando investigações de corrupção se aproximaram de autoridades próximas a Erdogan. Depois da acusação de tentativa de golpe em 2016, o Hizmet foi alvo de intensa repressão, milhares de seguidores de Gülen foram presos.

Na ordem de prisão de Goktepe, Dino afirmou que a “gravidade em concreto de o extraditando supostamente integrar organização armada terrorista justifica a segregação cautelar”. A Procuradoria-Geral da República (PGR) se manifestou a favor da prisão.

A PF informou ao ministro que Goktepe está "recolhido na Unidade de Transito de Presos da Superintendencia da Policia Federal em São Paulo", onde aguarda a audiência de custódia.

O advogado do empresário, Beto Ferreira Vasconcelos, disse à Folha que o “movimento político do qual se alega que Mustafa faz parte é pacifista e político, reconhecido como legítimo por todos os países do mundo e pela ONU”. Ele classificou o pedido de extradição como “mais um triste episódio de perseguição por opinião política”.

STF já negou pedidos de extradição do governo turco

Esta é a terceira vez que o governo de Erdogan pede ao Brasil que extradite turcos que fazem parte do movimento Hizmet. Em 2019, Ali Sipahi passou um mês preso preventivamente. Já o empresário Yakup Sagar ficou 19 dias detido em 2022. Os dois enfrentaram processos de extradição, mas o STF rejeitou os pedidos da Turquia.

Publicidade

Sipahi disse temer por sua vida, caso fosse extradidato. "[Na Turquia] As decisões [judiciais] já estão tomadas. Temo pela minha vida. Lá tem torturas, eletrochoque, violações sexuais. Não sei o que vou enfrentar", afirmou em 2019. A Segunda Turma do STF indeferiu a extradição por unanimidade.

O advogado Beto Vasconcelos, que hoje atua na defesa de Goktepe, representou Sagar em 2022 e argumentou durante o julgamento no STF que ele era alvo de perseguição política e fugiu para o Brasil com medo de ser morto. A Primeira Turma do STF rejeitou a demanda da Turquia por unanimidade.

“Depois de ter seus bens de família tomados pelo governo, sua empresa tomada pelo governo, ele e seus familiares fugiram da Turquia, passando pelo continente africano. Ele chegou ao Brasil com sua filha e sua esposa, em 2016, e pediu refúgio com medo de ser morto, em razão de perseguição ocorrida naquele território e agora estendida para o nosso território”, disse o advogado na ocasião.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]