![Pontes, blindados e gasoduto: Argentina quer relação pragmática, mas sem elo entre Lula e Milei Diana Mondino e Mauro Vieira - Brasil - Argentina - Lula - Javier Milei](https://media.gazetadopovo.com.br/2024/04/16090313/mauro-vieira-com-diana-mondino-foto-jose-cruz-agencia-brasil-960x540.jpg)
A visita da chanceler da Argentina, Diana Mondino, ao Brasil nesta semana, reforça que o relacionamento diplomático entre os dois países deve ser mantido na esfera técnica, mas sem aproximação entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Javier Milei. Na pauta de negociações entre os dois países estão a conclusão do gasoduto de Vaca Muerta, a construção de pontes na fronteira e uma possível venda de carros e combate feitos no Brasil.
Mondino afirmou em encontro com seu par no Brasil, o chanceler Mauro Vieira, que a cooperação entre os dois países será mantida através de acordos na área da Defesa e infraestrutura.
“Tivemos um diálogo aprofundado sobre o conjunto de temas de maior e mais imediato interesse para os dois países. Além de intercambiar as percepções e perspectivas gerais das relações bilaterais, examinamos em uma conversa privada os processos de integração regional em curso e a situação da região”, afirmou o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, após encontro com Mondino em Brasília na terça-feira (16).
Vieira e Mondino também trataram sobre a conclusão do gasoduto de Vaca Muerta. O governo petista já vinha tentando fechar o acordo com o então presidente esquerdista Alberto Fernándes para fortalecê-lo contra Milei. A ideia do Brasil era financiar o Brasil gasoduto com dinheiro do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Social.
Apesar do governo Lula ter tentado acelerar o acordo no ano passado, o projeto não tem caráter apenas político. Isso porque atualmente o país compra gás natural da Bolívia, mas analistas apontam que as jazidas bolivianas estão no fim e um novo fornecedor deve ser encontrado. A Argentina é a principal candidata.
Os chanceleres também trataram da renovação de acordos sobre pontes binacionais e sobre uma licitação para construir uma ponte ligando São Borja, no Brasil, a Santo Tomé, na Argentina. Também abordaram o tema da uma possível venda de blindados Guarani, produzidos por uma multinacional no Brasil, para o governo argentino.
"Nossos governos estão comprometidos em seguir trabalhando para ampliar e aprofundar essa relação”, afirmou Modino após ter uma série de reuniões com Vieira no Palácio do Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores em Brasília. A chanceler argentina chamou a relação com o Brasil de "aliança estratégica".
A chefe da diplomacia da Argentina também afirmou ter interesse em "ampliar" as discussões e o multilateralismo através do Mercosul, bloco regional formado por Argentina, Brasil, Uruguai, Paraguai e, desde o ano passado, a Bolívia. A afirmação de Mondino volta a colocar um tom ameno em declarações anteriores de Javier Milei, que havia ameaçado deixar o bloco caso fosse eleito para a presidência argentina.
Milei deve manter acordos com Brasil, apesar de não manter laços com Lula
Os próximos meses, conforme apurou a Gazeta do Povo com membros do governo argentino, devem ser de negociações entre Brasil e Argentina. No encontro entre Mondino e Vieira desta semana, a chanceler argentina reforçou o interesse do país em manter negociações iniciadas na gestão anterior e que, nos últimos meses, estavam paralisadas.
A principal delas, deve ser o acordo sobre o gasoduto de Vaca Muerta. A ministra de Javier Milei chegou a se encontrar com o vice-presidente do Brasil e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, para tratar sobre o tema. No ano passado, alas do governo federal tiveram intensas negociações com o ex-presidente da Argentina Alberto Fernández com a intenção de negociar um financiamento para concluir as obras do Gasoduto Néstor Kirchner.
A instalação está localizada na região de Vaca Muerta, uma formação geológica situada no norte da Patagônia, na Argentina. A construção teve uma primeira parte inaugurada ainda no ano passado. A obra é vantajosa para a Argentina e também para o Brasil, que tem interesse em fazer o transporte do gás natural a terras brasileiras com a intenção de substituir um possível desabastecimento da Bolívia, principal fornecedor de gás natural do Brasil.
A princípio, as tratativas buscavam uma ação comum por meio do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e bancos da Argentina e da América Latina para financiar a finalização da obra. Porém as negociações não foram concluídas. Na visita de Mondino nesta semana, a chanceler reforçou o interesse de seu país em manter as conversas sobre o financiamento para o gasoduto, que devem prosseguir nos próximos meses.
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, também afirmou que as tratativas sobre a venda de blindados Guaranis para o governo argentino serão mantidas. No ano passado, os dois países assinaram uma Carta de Intenções que previa um acordo para a venda de 156 carros de combate para Buenos Aires. A negociação não chegou a ser fechada e, conforme apurou a reportagem com membros do governo argentino, ainda não há detalhes de como os diálogos podem seguir nos próximos meses.
O encontro entre chanceleres também contou com conversas sobre pontes binacionais entre os dois países, como a licitação para a ponte São Borja-Santo Tomé, localizada no Rio Uruguai e que interliga os dois países.
Afastando a possibilidade de qualquer distanciamento entre os países, devido ao ruído entre Lula e Milei, a chanceler Diana Mondino afirmou que "os projetos entre Brasil e Argentina são independentes e superiores a quem quer que esteja dirigindo os destinos de ambos os países”.
Relação Brasil-Argentina avança, mas Milei e Lula não devem estreitar laços
Apesar de terem adotado um tom mais moderado, Lula e Milei provam que não estão do “mesmo lado da moeda”. Enquanto o brasileiro tem adotado discursos radicais voltados para esquerda, Milei tem caminhado na direção das democracias liberais e da direita. Um exemplo disso, é a forma como os dois líderes têm se posicionado sobre os conflitos em curso no mundo.
O presidente Lula proferiu diversos ataques verbais contra Israel desde que o país foi invadido pelo grupo terrorista Hamas. O petista chegou a acusar o país de cometer genocídio contra o povo palestino e causou um ruído diplomático com Jerusálem depois que comparou a contraofensiva israelense na Faixa de Gaza ao Holocausto na Segunda Guerra Mundial.
Javier Milei, por outro lado, chegou a visitar Israel depois que o país foi atacado pelo Hamas. Em fevereiro deste ano, o argentino declarou apoio ao país e defendeu o direito de Israel de se defender — postura oposta à de Lula.
Mais recentemente, o libertário comemorou uma decisão de um tribunal de cassação argentino. O órgão determinou que o ataque cometido em 1994 contra a Associação Mutual Israelita Argentina (Amia), que deixou 85 mortos e 300 feridos em 1994, foi patrocinado pelo Irã. De acordo com Milei, a decisão colocou fim a “décadas de adiamento e encobertamento”. A decisão foi vista como mais um aceno do argentino à Israel.
Milei também deu uma alfinetada em Lula na última semana. Após a repercussão da exposição feita pelo empresário Ellon Musk sobre ações de censura do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes ao X (antigo Twitter), Milei demonstrou apoio a Musk.
O empresário, que é o dono da rede social, acusou Moraes de censura e expôs que o ministro vinha pedindo a suspensão de dezenas de perfis na plataforma ligados ao “bolsonarismo”. Após a exposição feita por Musk, Moraes ordenou que o bilionário fosse incluído no inquérito das milícias digitais e investigado por obstrução da Justiça.
Lula não fez comentários diretos sobre o caso, mas fez referências em recentes discursos. Na última semana, o petista afirmou que o “extremismo” possibilitou que “empresário americano, que nunca produziu um pé de capim desse país, ouse falar mal da Corte brasileira, dos ministros brasileiros e do povo brasileiro".
Após a polêmica, o argentino se reuniu com Musk durante uma viagem que fez aos Estados Unidos. De acordo com o embaixador argentino no país norte-americano, Gerardo Werthein, Javier Milei ofereceu “ajuda” ao bilionário no seu “conflito” no Brasil. A ideia seria acolher funcionários do X que pudessem ser ameaçados pelo STF. Em visita ao Brasil, a chanceler argentina, Diana Mondino, tentou apaziguar a situação e garantiu que não haverá interferência da Argentina em assuntos internos do Brasil.
“Os temas internos e judiciais de cada país são próprios de cada país. O governo argentino jamais vai interferir nos processos democráticos ou nos processos judiciais de cada país. Confiamos na Justiça de cada país. Nós defendemos a liberdade de expressão em todos os sentidos”, disse Mondino a jornalistas no Itamaraty.
-
Impasse sobre guerras ofusca agenda de Lula no G20 para combater a fome e taxar super-ricos
-
Após críticas de Maduro, TSE desiste de enviar observadores para as eleições da Venezuela
-
Decisão do STF de descriminalizar maconha gera confusão sobre abordagem policial
-
Enquete: na ausência de Lula, quem deveria representar o Brasil na abertura da Olimpíada?
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF
Deixe sua opinião