Possíveis articuladores políticos de Bolsonaro, Onyx Lorenzoni e Joice Hasselman ainda não se mostraram capazes de ‘assumir o posto’. Fotos: Marcelo Carmargo / Agência Brasil| Foto:

Diz a lenda que a lua de mel de um novo presidente com o Congresso, com o eleitorado e com o mercado financeiro dura 100 dias. O prazo chegou ao fim.

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Uma pesquisa da XP Investimentos divulgada nos últimos dias revela a deterioração na relação da Câmara com o Planalto: 55% dos deputados consideram ruim ou péssima a relação da Casa com a Presidência da República. Em fevereiro, o percentual era de 12%.

No fim de março, de acordo com a terceira pesquisa de aprovação popular do Ibope, a avaliação do governo Jair Bolsonaro (PSL) como ótimo ou bom caiu 15 pontos percentuais. Em janeiro, a aprovação era de 49%, contra 39% em fevereiro e 34% em março.

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Para reverter a situação, um articulador político seria essencial. Com o fim da lua de mel, o governo pode apelar à velha política? Esse é o tema do Podcast República desta semana.

Mediado pelo jornalista Giorgio Dal Molin, o podcast teve a participação dos jornalistas Lúcio Vaz, correspondente e blogueiro, e da também correspondente Jéssica Sant’Ana, ambos da Gazeta do Povo em Brasília. Acompanhe e veja um resumo da conversa.

O despreparo de Onyx Lorenzoni na articulação política

No início do mandato, o governo parecia ter um articulador de peso para a reforma da Previdência: Rodrigo Maia, presidente da Câmara. Mas a situação mudou e Rodrigo Maia chegou a trocar farpas com Jair Bolsonaro.

“O governo quer aprovar até julho, e o Rodrigo Maia era o principal fiador da reforma com um discurso bem alinhado ao do governo. Ele dizia que seria possível, mas depois que entrou em embate com o executivo isso mudou”, afirma Jéssica.

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Lúcio Vaz recorda, por exemplo, que outros presidentes sempre tiveram bons articuladores. Michel Temer, por exemplo, mesmo com aprovação popular muito inferior à de Bolsonaro, tinha apoio parlamentar de 80% do Congresso no início de 2017, em grande parte graças a um interlocutor direto: o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha.

Outro presidente que teve articuladores de peso - ainda que posteriormente tenham sido ‘desmascarados’ em escândalos como Mensalão e Petrolão - foi o ex-presidente Lula: José Dirceu e Antonio Palocci, ambos na posição de ministros da Casa Civil, dialogavam com aliados e oposição.

Neste sentido, os três participantes do Podcast República concordam que a posição de articulação deveria ser realizada pelo chefe da Casa Civil, atualmente Onyx Lorenzoni. Isso já foi admitido, inclusive, pelo ministro da Economia, Paulo Guedes: “O próprio [ministro] Onyx, que é responsável pela coordenação política, tem lá suas dificuldades”, afirmou Guedes em sabatina na última semana.

“Tudo indicaria que seria o Onyx, mas por algum motivo não assumiu essa função [de articulador]. Não sei se é falta de experiência ou de vontade, mas ele se omitiu. Primeiro que ele não era um grande nome como articulador no Congresso quando era deputado. Não era do baixo clero, mas não era um grande cacique”, comenta Lúcio.

Onyx assumiu como deputado federal pela primeira vez em 2003, pelo PFL, e se manteve no partido quando a sigla mudou a nomenclatura para DEM. Foi reeleito em 2018.

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Não é a função de Guedes

Os jornalistas lembram que, inclusive, chegou-se a cogitar como articulador da Previdência o ‘pai da reforma’, o ministro da Economia, Paulo Guedes. Contudo, após a troca de ofensas com a oposição em audiência na Comissão de Constituição de Justiça da Câmara, o ministro desistiu da ideia, e até brincou com a situação posteriormente:

“Eu não tenho a pretensão de ser coordenador político [da reforma]. Vocês viram meu desempenho lá. Não tenho temperamento para isso”, afirmou. “Sou um animal de combate em economia”, completou.

E a líder do governo no Congresso, Joice Hasselman?

Líder do governo no Congresso, a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) também não se mostra preparada para ser articuladora política, na avaliação dos membros do podcast.

“A Joice não parece disposta a dialogar. Na leitura do relator [da Previdência na CCJ], Marcelo Freitas, a oposição conseguiu obstruir a sessão por quatro horas. E quando a base viu isso, chamaram a Joice, que acabou sentando ao lado do Felipe Francischini, e a Maria do Rosário (PT-SP) reclamou que começou a ser filmada [pela Joice]. Gerou um bate-boca por 15 minutos”, lembra a correspondente da Gazeta do Povo, que acompanhou pessoalmente a situação.

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Lúcio Vaz avalia que o PSL precisa de alguém para conseguir conversar não apenas com aliados, mas também com a oposição de forma equilibrada. “A Joice acha que vai conseguir negociar por redes sociais? Essa coisa de brigar por redes sociais é para eleição. Agora é hora de negociação, de acerto”, opina o blogueiro, ao recordar que a deputada ironizou no Twitter a troca do nome do PPS para Cidadania e foi rebatida pelo líder da legenda na Câmara, deputado Daniel Coelho (PE). Depois, bateu boca com o deputado Kim Kataguiri (DEM-SP), chamando-o de “oportunista” e “moleque”: tudo pela mídia social.

Velha política pode assumir a articulação?

Os jornalistas comentam ainda alguns nomes que poderiam ocupar a brecha deixada por Rodrigo Maia. Jéssica Santa’Ana destaca que, atualmente, o secretário Rogério Marinho, apesar de estar no segundo escalão do ministério da Economia, tenta negociar a Previdência pelo bom relacionamento que tem com a Câmara, já que foi deputado. Mas a negociação efetiva precisa de um nome de peso do Congresso.

Seria o caso de apelar à ‘velha política’? No começo do ano o governo chegou a flertar com Renan Calheiros na candidatura para a presidência do Senado. Lúcio Vaz opina que o PSL de Bolsonaro fez bem em não assumir esse compromisso, pois estaria se distanciando de algo que pregava desde a campanha: a ‘nova política’.

Há outros nomes que surgiram na conversa. Clique aqui e acompanhe no Podcast República desta semana.

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