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O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) chamou de “atitude patética” os elogios proferidos pelo também deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ) ao presidente Lula (PT) durante cerimônia para sanção do Projeto de Lei n° 3090/ 2023, que institui o Dia Nacional da Música Gospel, no início da semana.
“Eu iria comentar a atitude patética de alguém falando em nome da igreja evangélica do Brasil, agradecendo ao Lula pela liberdade religiosa, mas deixarei o povo decidir e cabe a Deus julgar”, escreveu Nikolas em seu perfil no X, nesta quinta-feira (17).
Na ocasião, Otoni de Paula disse que “Deus usou Lula” para sancionar leis favoráveis aos evangélicos e que os evangélicos talvez “estejam entre os brasileiros mais contemplados pelos programas sociais do governo Lula”.
Otoni de Paula também conduziu um momento de oração com imposição de mãos sobre o presidente.
Lula ainda foi prestigiado com uma breve apresentação de um coral evangélico. Otoni de Paula permaneceu ao lado do presidente durante a homenagem.
Otoni de Paula negou ser "ponte" entre Lula e evangélicos
Após a cerimônia no Palácio do Planalto, Otoni de Paula negou que seja “ponte” entre Lula e os evangélicos, criticou a postura de líderes evangélicos contra eleitores de Lula e chamou o ex-presidente Jair Bolsonaro de “bezerro de ouro”.
“O próprio governo Lula nunca me convidou para ser uma ponte, e acho que nunca me convidaria. Mas gostaria, sim, de ser uma ponte. Sabe para quê? Para tirar esse bezerro de ouro que construímos na igreja. Esse bezerro de ouro que nós construímos. Construímos uma adoração a um ser humano, que não é Deus, não é divino. É um político”, disse Otoni de Paula ao site O Fuxico Gospel.
“Não sou ponte nenhuma do PT com a igreja, não sou ponte do Lula com a igreja, mas sou ponte de oração. Essa briga vou comprar. Aonde eu for, vou dizer: orem pelo Lula, orem pelo governo. Não sou daqueles que torcem para o avião cair, só porque não gostam do piloto. Eu estou no avião”, completou.
Ao jornal O Globo, Otoni de Paula disse que continua sendo de direita e criticou "hipocrisia bolsonarista que faz que você finja que não dialoga no público, mas conversa no privado".
"Eu não preciso conversar com as câmeras desligadas", finalizou.
Otoni de Paula já chamou Lula de "ladrão"
Um dos representantes do público evangélico no Rio de Janeiro, Otoni de Paula foi um dos mais estridentes defensores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Conhecido por atacar duramente a esquerda nos últimos anos, Otoni de Paula chegou a chamar Lula de "ladrão" e "vagabundo" ao discursar na Câmara dos Deputados, em abril de 2022.
A relação do deputado com Bolsonaro foi abalada por conta do apoio do parlamentar à reeleição do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD). Otoni de Paula se negou a apoiar o candidato de Bolsonaro, Alexandre Ramagem (PL).
Atitude de Otoni de Paula dividiu lideranças evangélicas
A participação de Otoni de Paula na cerimônia junto do presidente Lula (PT) incomodou lideranças evangélicas.
O pastor Silas Malafaia e o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) criticaram o evento que classificaram como "oportunista". De acordo com os dois, a sanção da lei não é "mais que obrigação".
Ainda, na visão dos dois, caso o presidente resolvesse vetar a lei, enfrentaria forte reação do Congresso.
Ao comentar sobre a atuação de Otoni de Paula, o deputado Sóstenes disse que “ele poderia ter cumprido a missão sem exagerar nas falas”.
“Para quem foi vice-líder de Bolsonaro, as falas para Lula foram desvencilhadas da realidade. No lugar dele, não iria. Teria pedido para outro deputado ir no meu lugar, mas ele está caminhando cada vez mais à esquerda. O perfil do Otoni é ser governo, sem importar quem”, disse Sóstenes ao jornal O Globo.
Já o pastor Silas Malafaia disse que a sanção da nova lei é “uma balinha” a favor do petista.
“No primeiro mês de governo, a ministra da Saúde derrubou várias portarias que dificultavam o aborto e tirou o Brasil da aliança das nações contra o aborto”, lembrou Malafaia.
“Que bancada evangélica vai se aproximar de Lula? Alguns podem se aproximar, mas a massa não vai. O gesto do Otoni acontece porque ele quer jogar para os dois lados, ele quer dar uma de Bolsonaro, mas está queimado do lado de cá”, completou.
Já o líder da Frente Parlamentar Evangélica, Silas Câmara (Republicanos-AM), minimizou a atitude de Otoni de Paula e disse que o colega foi ao Planalto a seu pedido.