Ministro Flávio Dino, da Justiça, afirma que política de flexibilizar armas no Brasil não tem relação com redução de homicídios.| Foto: André Borges/EFE
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O ministro Flávio Dino, da Justiça e Segurança Pública, disse nesta quinta (21) que o Brasil teve uma política de “armamentismo irresponsável” que não se refletiu na queda de homicídios que supostamente se pregava antes. A afirmação ocorreu durante a apresentação de um balanço da atuação dele à frente da pasta, que vai se encerrar no dia 8 de janeiro para tomar posse do cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).

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Dino também apresentou dados relativos ao combate ao tráfico de drogas, disse que as operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) realizadas por governos anteriores eram "desastradas", confirmou que vai promover um ato em alusão ao 8 de janeiro e que o caso Marielle Franco será resolvido, mesmo se ele não estiver mais à frente do ministério.

Segundo Flávio Dino, a quantidade de crimes violentos intencionais deve fechar o ano de 2023 com uma queda de aproximadamente 6% na comparação com o ano de 2022, com uma projeção de 40,1 mil contra 42,6 mil do ano passado. Até o mês de novembro, que tem os dados contabilizados apresentados por ele, foram registrados 36,8 mil mortes tipificadas como homicídio doloso, lesão corporal seguida de morte, latrocínio e feminicídio.

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“Quero destacar os decretos sobre armas que aqueles arautos do caos diziam que a hora que houvesse a restrição de armas, os homicídios subiriam. Não, não aconteceu. Portanto, essa falácia foi definitivamente desconstituída, pois temos uma tendência, quase confirmação, de redução da ordem de 6% (5,7%) na comparação com 2021 e 2022”, disse Dino.

As ações contra armas foram as primeiras a serem citadas na apresentação, afirmando que, em 1º de janeiro, houve o estabelecimento do decreto que suspendeu novos registros e determinou o recadastramento de armas. E, em julho, o que criou novas regras para a aquisição e registro dos armamentos, "resultando em menor número de armas circulando".

Dino afirmou que os dados computados pelo ministério apontam que “não há correlação lógica entre crescimento de armas e redução de mortes violentas ou de homicídios. Não há”. “Durante anos foi repetida essa ideologia que se revelou, definitivamente, desconforme com a realidade”, completou.

O balanço do ministério aponta que houve uma redução de 79% na quantidade de registro de armas em 2023 após a imposição dos decretos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) logo no primeiro dia de governo. Foram 28,3 mil até o mês de novembro contra 135,9 mil ao longo de 2022.

O ministro também enfatizou que houve um aumento de 16% na quantidade de armas ilegais apreendidas, de 9,8 mil também até novembro contra 8,5 mil em todo o ano passado. Flávio Dino classificou as políticas anti-armamentistas do governo como as principais "conquistas institucionais" do ano.

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Armas ligadas ao tráfico de drogas

Dino afirmou que muitas das armas ilegais apreendidas eram ligadas ao tráfico de drogas, em que o ministério conseguiu avançar na descapitalização das organizações criminosas.

De acordo com o balanço do ministério, houve um aumento de 10,3% no volume patrimonial descapitalizado das quadrilhas, passando de R$ 5,2 bilhões em 2022 para R$ 5,7 bilhões em 2023. “Na minha visão, vai passar dos R$ 6 bilhões”, disse Dino em relação aos números de dezembro que ainda devem ser apurados.

“Nos próximos dias, deve sair um decreto de estruturação da rede tornando legal a apreensão de bens de quadrilhas ligadas ao crime organizado”, ressaltou o ministro.

Crimes na Amazônia

Ainda na questão das organizações criminosas, Flávio Dino afirmou que a força-tarefa do Ministério da Justiça com a Polícia Federal após a criação de uma diretoria específica contra crimes na Amazônia ajudou a reduzir em 45% os alertas de desmatamento de corte raso e de 54% da presença de dragas garimpeiras.

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“Estes números serão ainda maiores na medida que fechemos os caminhos da lavagem de dinheiro. Coordenamos a elaboração de um projeto de lei que está na Câmara que fecha esse duto pelo qual a lavagem de dinheiro do ouro extraído ilegalmente”, ressaltou.

Dino também explicou que a força-tarefa conseguiu destruir “um número recorde” de mais de 750 balsas garimpeiras que atuavam na região.

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Operações GLO antes eram “desastradas”, diz

Outro ponto considerado prioritário por Dino durante a gestão à frente do ministério foi a implantação de uma operação da Garantia da Lei e da Ordem (GLO) específica para as áreas de jurisdição federal, como portos e aeroportos de São Paulo e Rio de Janeiro e áreas de fronteira no Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Ele afirmou que este foi um “modelo exitoso” em que houve um “limite territorial” focado no ataque à logística, descapitalização e lavagem de dinheiro das organizações criminosas. O modelo, afirma Dino, “substituiu as operações desastradas com balas perdidas e assim sucessivamente”.

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Entre os dados apresentados relativos à GLO desde novembro, estão a apreensão de R$ 48 milhões em “ativos ilícitos” das quadrilhas, a prisão de 432 pessoas e a apreensão de 56 toneladas de drogas.

O ministro também enfatizou que, ao longo do ano, operações em presídios estaduais apreenderam 2,4 mil aparelhos celulares, e ações em parceria com o governo federal resultaram na apreensão de outros mais de 8 mil.

8/1, caso Marielle e ações do MJ

Ao final da apresentação, Dino confirmou a realização de um ato no dia 8 de janeiro no Senado, em alusão ao primeiro ano da invasão e depredação das sedes dos Três Poderes, em Brasília, e reafirmou que o caso Marielle e Anderson será esclarecido, mas ainda sem uma previsão de quanto tempo levará.

“Em razão desse caso em si e da importância simbolicamente para o Brasil, de proteção às mulheres na política e combate à impunidade, independente da minha presença aqui”, ressaltou.

Ainda durante a apresentação de balanço das ações à frente do MJ, Dino ressaltou o investimento total de R$ 18 bilhões na área de segurança, com ações da Polícia Federal e apoio a estados e municípios como viaturas, equipamentos, diárias e repasses do Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP).

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Um pouco mais cedo, anunciou a entrega de 700 viaturas a estados e municípios – sendo 500 imediatamente e 200 em janeiro –, algumas delas estão estacionadas em frente ao ministério, na Esplanada. Dino também anunciou a doação de câmeras corporais para a polícia da Bahia, como o início de um projeto federal de uso do equipamento.

Outra iniciativa anunciada por Dino foi a instituição de uma lista de procurados pelo Sistema Único de Segurança Pública (SUSP), com o oferecimento de recompensa, e o repasse de mais R$ 78 milhões do FNSP aos estados com foco na investigação de homicídios, busca de desaparecidos e combate ao crime organizado.