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O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou nesta quarta (26) que as acusações que são imputadas a ele por suposta tentativa de golpe de Estado são graves e infundadas. A declaração ocorreu pouco depois de ele ser declarado réu por unanimidade pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF).
“Parece que tem algo pessoal contra mim, e a acusação é muito grave e são infundadas (sic). E não é da boca pra fora”, disse Bolsonaro em uma entrevista coletiva no Congresso, de onde assistiu ao julgamento de recebimento da denúncia mais cedo.
Ainda durante a coletiva, Bolsonaro voltou a pedir a anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023, citando principalmente o caso da cabeleireira Débora Rodrigues, que foi recebeu uma pena de Moraes a 14 anos de prisão por vandalizar a estátua "A Justiça" com batom.
"O povo não quer mais confusão, por isso que eu falo em anistia. Eu duvido que uma mãe aqui não se coloque no lugar da Débora e não queria anistia. Não encontraram nenhuma arma, tentativa armada. Que arma", questionou.
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Bolsonaro afirmou que o Brasil vive um momento de “intranquilidade” por causa da “criatividade de alguns”, sem citar especificamente quem. “[Alexandre de Moraes] bota o que ele quer lá [no inquérito], por isso seus inquéritos são secretos ou confidenciais”, mencionou em outro momento.
Bolsonaro e mais sete aliados se tornaram réus por unanimidade dos cinco ministros da Primeira Turma do STF pela suposta tentativa de golpe de Estado em 2022, em que ele é apontado como líder do plano para se manter no poder.
Além dele, os ministros aceitaram a denúncia da Procuradoria-Geral da República (STF) contra os ex-ministros Walter Braga Netto (Casa Civil), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Paulo Sérgio Nogueira (Defesa) e Anderson Torres (Justiça).
Foram denunciados, ainda, o almirante Almir Garnier Santos (ex-comandante da Marinha); o atual deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), que foi diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no governo Bolsonaro; e o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente, cuja delação premiada embasou a investigação sobre o caso.
“Estou sendo acusado de tentativa de golpe, algo da forma tão incisiva como o ministro Alexandre de Moraes conduz tem algo esquisito por aí. O que ele quer esconder”, questionou.
Bolsonaro afirmou, durante a entrevista coletiva, que a suposta minuta golpista que decretaria estado de sítio ou de defesa no país não poderia sequer ser assinada por ele sem a convocação dos conselhos da República e da Defesa, e que nem mesmo houve atos preparatórios para isso.
“Golpe não tem lei, não tem norma. Golpe tem conspiração com a imprensa, com o parlamento, setores do Poder Judiciário, da economia, fora do Brasil, Forças Armadas em primeiro lugar, sociedade, empresários, agricultores. Aí se começa a gestar um hipotético golpe. Nada disso houve”, justificou.
Ele disse que, após a derrota eleitoral de 2022, pediu à população que eventuais manifestações fossem “pacíficas” para não adotar os supostos métodos utilizados pela esquerda “que sempre prejudicaram a população”.
Mencionou também que gravou um vídeo para desmobilizar os bloqueios que começaram a ser feitos por caminhoneiros nas estradas do país, mas que estas observações não foram citadas no inquérito que levou à denúncia da PGR.
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Ajuda a Múcio
Jair Bolsonaro repetiu na entrevista o argumento levado por sua defesa ao julgamento, de que o então ministro da Defesa escolhido pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), José Múcio Monteiro, o procurou para abrir um canal de diálogo com as Forças Armadas, com quem tinha dificuldades.
“Ele foi pedir um apoio para mim, para que tivesse mais acesso aos respectivos ministérios. No dia seguinte, ele foi atendido em tudo”, ressaltou.
O ex-presidente pontuou, ainda, que Múcio entrou em contato novamente dias depois para que ele nomeasse os comandantes militares indicados por Lula, e que foi prontamente atendido.
“Foi o que eu fiz. Em dezembro, nomeamos dois comandantes. O outro saiu mais no final. Atendi ao presidente Lula. Se tivesse qualquer ideia de força, não deixaria os comandantes do Lula assumir”, completou.
Semelhante a outras declarações, Bolsonaro voltou a lembrar sobre falas de Múcio e do ex-presidente Michel Temer (MDB) em entrevistas de que os atos de 8 de janeiro de 2023 não foram uma tentativa de golpe de Estado, de que “golpe tem povo, mas, tem tropa, tem armas e tem liderança”.
“[Em] dois anos de investigação não descobriu quem, porventura, seria esse líder”, pontuou lembrando que estava nos Estados Unidos naquele dia, e que não tinha como ter participado.
Urnas eletrônicas e voto impresso
Bolsonaro também voltou a lembrar de declarações do passado de que o ministro Flávio Dino, do STF, e do Trabalho, Carlos Lupi, também já chegaram a colocar em dúvida o sistema eleitoral brasileiro de votação eletrônica. E que, em 2014, o PSDB contratou uma auditoria para analisar o resultado que deu vitória a Dilma Rousseff (PT), que teria alegado que as urnas seriam inauditáveis.
“Não sou obrigado a confiar, a acreditar no programador [das urnas]. Confio na máquina, não sou obrigado a confiar no programador”, completou voltando a defender a instituição do voto impresso e a contagem pública.








