Aprovação do presidente Jair Bolsonaro no Nordeste cresceu após o auxílio emergencial.| Foto: Alan Santos /PR
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O presidente Jair Bolsonaro vive um bom momento em relação à popularidade — inclusive, quem diria, no Nordeste. Levantamento divulgado pelo Datafolha nesta sexta-feira (14) apontou que a sua aprovação é a maior desde o início do mandato, com 37% dos brasileiros considerando o seu governo ótimo ou bom. Na semana passada, pesquisa do PoderData mostrou que Bolsonaro lidera a corrida presidencial para 2022, com 24 pontos de vantagem sobre o segundo colocado, Fernando Haddad (PT).

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Tanto a pesquisa do Datafolha quanto a do Poder360 indicam que Bolsonaro está ampliando sua base de apoio no Nordeste. Hoje, o percentual de moradores da região que consideram o governo ótimo e bom é de 33%, segundo o Datafolha; o mesmo índice era de 17% em agosto de 2019. E as intenções de voto para Bolsonaro no Nordeste somam 37%. Haddad tem 13%.

A ampliação da popularidade do presidente da República no Nordeste é significativa porque a região foi a única em que ele foi derrotado na eleição de 2018. Bolsonaro não foi o mais votado em nenhum dos nove estados da região. Além disso, foi no Nordeste que o PT conquistou seus quatro governos estaduais em 2018: Rio Grande do Norte, Piauí, Ceará e Bahia. E o Nordeste é também a terra do governador Flávio Dino (PCdoB-MA), que tem se colocado como liderança nacional da esquerda e candidato à sucessão de Bolsonaro em 2022.

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Em um passado recente, o Nordeste foi a região do país que deu índices de aprovação mais elevados à gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que governou o país entre 2003 e 2010.

O que explica o avanço de Bolsonaro no Nordeste?

O levantamento do PoderData verificou que a liderança de Bolsonaro nas intenções de voto para 2022 se espalha por praticamente todas as faixas de renda.

A ampliação do apoio no Nordeste, região em que parte significativa dos moradores se encontra nas camadas carentes da população, tem esse componente entre seus fatores. O governo está atualmente conduzindo o pagamento do auxílio emergencial, resultante da pandemia de coronavírus, e planeja o lançamento de um benefício que busca ser a versão atualizada do Bolsa Família.

"O governo entregou a transposição do São Francisco e vai entregar a transnordestina. Além do auxílio emergencial, que salvou muitas famílias, o governo ainda vai lançar o programa Renda Brasil", afirmou Carmelo Neto, ex-conselheiro Nacional de Juventude, militante bolsonarista e pré-candidato a vereador em Fortaleza pelo Republicanos, partido ao qual estão filiados dois filhos do presidente, o senador Flávio e o vereador Carlos.

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Um trecho da transposição foi entregue em junho por Bolsonaro em uma cerimônia no interior do Ceará, na qual o presidente cumpriu o rito de seus antecessores de tocar as águas do rio. Outra tradição seguida por Bolsonaro no Nordeste foi a de colocar chapéu de couro e andar de cavalo, como fez no Piauí, em julho.

A celebração de Bolsonaro por conta da inauguração da transposição foi questionada por integrantes do PT, visto que o projeto se iniciou durante o governo Lula. Membro do partido, o deputado federal Jorge Solla (BA) diz que ainda não se pode ter certeza que a elevação da aprovação de Bolsonaro no Nordeste é um processo consolidado. "O desastre que é o genocídio conduzido por Bolsonaro por conta da pandemia de coronavírus é algo sentido por todas as famílias. E vai ser difícil que ele se desvincule disso", declarou.

Solla disse também que a tentativa de Bolsonaro de capitalizar, em termos políticos, o auxílio emergencial, não se conecta com a trajetória do benefício. "Ele era contra o auxílio emergencial. Nunca mandou um só projeto com esse texto para o Congresso", afirmou. O parlamentar declarou também que o PT manterá o apoio ao projeto, ainda que a iniciativa renda dividendos eleitorais ao presidente.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]

Há ideologia em tudo isso?

Outdoor de apoio ao presidente Jair Bolsonaro em Valença, no interior da Bahia.| Foto: Reprodução / Facebook
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A eleição que consagrou Jair Bolsonaro em 2018 foi marcada pela ampliação do debate de cunho ideológico. Pela primeira vez em muitos anos, grupos políticos expressivos se declaravam abertamente conservadores e de direita. Sendo assim, o avanço de Bolsonaro no Nordeste poderia significar que a região também estaria passando por uma "guinada conservadora"?

Para Carmelo Neto, o Nordeste já era conectado com a corrente ideológica defendida por Bolsonaro, mesmo à época das eleições de 2018: "O Nordeste é conservador. Culturalmente somos conservadores! As pessoas estão percebendo isso e o presidente Bolsonaro tende a crescer ainda mais".

Já o deputado Daniel Coelho (Cidadania-PE), crítico tanto das gestões petistas quanto do governo Bolsonaro, não vê vínculo entre ideologia e a elevação da aprovação do atual governo — assim como acha que não houve conexão entre correntes ideológicas e o apoio que o Nordeste deu aos ex-presidentes Lula e Dilma.

"O Nordeste tem uma tendência a ser governista. A história de que o Nordeste é petista serve apenas para quem não olha o todo. No regime militar, nos governos FHC, Lula e Dilma, o Nordeste sempre esteve ao lado dos presidentes", declarou o parlamentar. Segundo Coelho, o quadro se explica porque o Nordeste "é mais carente de intervenção estatal", em virtude dos maus indicadores sociais que marcam grande parte da região, especialmente nas cidades do interior.

Os próximos testes nas urnas

Para o deputado Daniel Coelho, é pouco provável que o Nordeste dê votação expressiva em 2022 a um grupo político que não esteja ligado à gestão Bolsonaro. "Principalmente se forem forças de esquerda ou centro-esquerda. Há um viés de direita no país todo, o que chega também ao Nordeste. Se há possibilidade de uma força alternativa, essa força estaria na direita ou na centro-direita", disse.

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Mas antes de 2022 há a disputa municipal deste ano, agendada para novembro. Será a primeira eleição para prefeitos e vereadores com o bolsonarismo no poder. Carmelo Neto define como "importante a eleição de aliados do presidente" nos municípios, mas desmerece o vínculo entre o quadro eleitoral de 2020 e o da eleição seguinte. Como referência, ele cita o intervalo 2016-2018: "o PSDB foi o partido que mais elegeu prefeitos, e em 2018 o candidato deles não tirou nem 5%", em menção a Geraldo Alckmin, quarto colocado na última disputa presidencial.

Metodologia das pesquisas citadas

O Instituto Datafolha entrevistou, por telefone, 2.065 brasileiros entre 11 e 12 de agosto. Foram ouvidas pessoas de todos os estados. A margem de erro é de 2 pontos porcentuais para mais ou menos.

O PoderData, divisão de estudos estatísticos do portal Poder360, coletou dados, por telefone, entre os dias 3 e 5 de agosto. Foram 2.500 entrevistas em 512 municípios, nas 27 unidades da federação. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.