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Brasil sediará conferência de paz vista como anti-Irã e pró-EUA
O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, com o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, quando os dois anunciaram que o Brasil iria sediar a conferência de paz no Oriente Médio.| Foto: AFP

O Brasil vai sediar uma conferência sobre paz no Oriente Médio apenas um mês depois do ataque ordenado por Donald Trump que matou o general iraniano Qasem Soleimani. A reunião, promovida pelo governo dos Estados Unidos, é vista como pró-americana e anti-Irã. São esperadas autoridades dos Estados Unidos e de outros países rivais dos iranianos, como Israel e Arábia Saudita.

A realização do evento, marcado para os dias 5 e 6 de fevereiro, em Brasília, já estava prevista desde setembro de 2019, quando o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, fez uma visita aos Estados Unidos e teve um encontro com o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo. Na ocasião, Pompeo anunciou que a reunião no Brasil trataria especialmente sobre refugiados e temas humanitários.

O Itamaraty tem chamado o evento de “processo de Varsóvia”, em referência à primeira edição da conferência, que ocorreu em Varsóvia, na Polônia, em fevereiro de 2019. Naquela ocasião, nenhum aliado do Irã compareceu. Pelo contrário: o encontro foi marcado por uma forte presença de nações alinhadas com os Estados Unidos.

Irã considerou a 1.ª reunião como um movimento hostil dos EUA

Antes do evento na Polônia, a chancelaria do Irã afirmou que a conferência era “um movimento hostil dos Estados Unidos contra a República Islâmica” e disse esperar que os poloneses se abstivessem “de colaborar com os Estados Unidos”. O governo iraniano ainda não se manifestou sobre a conferência a ser realizada no Brasil.

O governo Bolsonaro, que até antes do ataque a Soleimani tentava exibir uma atitude de neutralidade em relação ao Oriente Médio, deixou clara sua posição pró-Trump ao classificar o assassinato do iraniano como uma ação em prol do combate ao terrorismo. Posteriormente, o governo brasileiro adotou um tom mais diplomático em relação ao Irã. Mas, ainda assim, a cúpula de paz é vista internacionalmente como um evento pró-Israel e anti-Irã.

A atual representante da embaixada brasileira no Irã, Maria Cristina Lopes, já foi chamada para uma reunião com o governo iraniano. O Itamaraty disse que a reunião foi “cordial”, mas não esclareceu se a conferência sobre paz no Oriente Médio foi um tema da conversa. Afirmou que o teor do encontro “é reservado e não será comentado pelo Itamaraty”.

Itamaraty diz que evento terá teor “estritamente humanitário”

O Ministério das Relações Exteriores já confirmou o evento para os dias 5 e 6 de fevereiro, em Brasília, mesmo depois dos acontecimentos no Iraque. Disse que a programação está em fase de elaboração e que ainda não há uma lista de presenças confirmadas. Mas informou ter chamado “os mesmos países convidados para a reunião ministerial do processo de Varsóvia e para os demais grupos de trabalho”. O órgão não divulgou uma lista dos países convidados.

A estratégia do Itamaraty parece ser resguardar o evento de qualquer teor conflituoso. Os membros do ministério têm evitado relacionar a conferência de fevereiro com o ataque a Soleimani e com a crise subsequente. Enfatizam a temática original do evento, em torno do apoio humanitário à região, e falam da busca de soluções a longo prazo.

Segundo a nota oficial do Itamaraty, trata-se de um “grupo de trabalho de nível técnico” e com tema “de recorte estritamente humanitário”, como já havia adiantado Mike Pompeo em setembro do ano passado.

Dentro do tema geral da conferência, segundo o Itamaraty, dois assuntos ganharão destaque: o acesso à educação e a proteção de crianças e jovens, considerados “de importância central para objetivos de construção da paz e mesmo de desenvolvimento sustentável na região”.

Segundo o Ministério das Relações Exteriores, “partindo do reconhecimento de que as diversas crises no Oriente Médio têm grande impacto sobre crianças e jovens, e da necessidade de se evitar a perda de capital humano em razão dos deslocamentos e crises provocados por conflitos”, o grupo de trabalho trocará “experiências, melhores práticas e lições aprendidas entre países e organizações”. O objetivo é “gerar diagnósticos, recomendações e análises que possam contribuir para dar maior visibilidade ao tema e subsidiar futuras discussões”.

Como o Brasil se posicionou na reunião de Varsóvia

Na conferência anterior, em Varsóvia, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, fez uma apresentação com o tema “Refugiados: desafio no Oriente Médio e a experiência brasileira”. Falou sobre a Operação Acolhida, que dá apoio a imigrantes venezuelanos que têm entrado no Brasil por Roraima e que é considerada um caso de sucesso no tratamento a refugiados.

O encontro na Polônia marcou a primeira viagem internacional de Araújo desde o início do governo Bolsonaro.

Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, foi à reunião. Dos EUA, Pompeo e Mike Pence, vice-presidente, estiveram presentes.

Parceiros geopolíticos dos Estados Unidos – como Itália, Japão, Canadá e Reino Unido – compareceram com autoridades de nível ministerial. Mas outras nações europeias menos alinhadas com o governo Trump, como França e Alemanha, não levaram representantes de alto escalão.

A União Europeia não boicotou abertamente o evento, mas sua representante para Política Externa e Segurança, Federica Mogherini, não compareceu. A Rússia, aliada do Irã no Oriente Médio, não participou.

Nos grupos de trabalho que sucederam a reunião de nível ministerial em Varsóvia, ocorridos ao longo de 2019, a composição de países presentes foi semelhante à da reunião de fevereiro.

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