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Gritando "Fora Moraes" a plenos pulmões por quase 20 minutos do lado de fora do Congresso, um manifestante chamou a atenção das principais lideranças da oposição na manhã desta terça-feira (5). O protesto solitário do comerciante Felipe de Deus em Brasília personificou um sentimento que muitos parlamentares oposicionistas mencionaram nos bastidores: a vontade de ver o povo nas ruas protestando sem medo do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
A determinação da prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por Moraes na segunda-feira (4) gerou um clima de alta tensão em Brasília, que perdura nesta terça-feira (5).
As principais lideranças da oposição se reuniram de forma extraordinária na rampa do Senado para fazer pronunciamentos à imprensa às 11h. O secretário-geral do PL, Rogério Marinho, criticava a decisão de Moraes de expulsar cinco deputados do PL que fizeram um protesto pacífico na Praça dos Três Poderes, em Brasília, na noite do dia 1º de agosto, quando foi interrompido pelos gritos de "Fora Moraes". O comerciante Felipe de Deus gritava sozinho, a cerca de 150 metros dos deputados, atrás de grades instaladas pelas forças de segurança. "É a voz do povo", celebraram muitos dos parlamentares.
"Eu não votei no Bolsonaro em 2018, mas não tem como você não ver as coisas que estão acontecendo agora e não tomar um lado. Tem até pessoas exiladas em outro país fugindo desse regime. Não dá para a gente ver essas coisas e ficar em casa calado. Quando a ditadura chegar, a quem a gente vai recorrer?", disse o manifestante. "A gente fica com medo depois de ver tantas pessoas condenadas, mas o Supremo é o povo", afirmou.
A reportagem apurou que entre os membros da oposição há uma grande esperança de que a população não espere a convocação da próxima manifestação, em 7 de setembro, para sair às ruas e protestar pacificamente contra Alexandre de Moraes.
"O meu pai dizia que um gato é o animal mais medroso do mundo, mas quando você acha ele num canto de uma parede, ele se desespera e ele se defende. É isso que o povo hoje está sendo: um gato acuado que está completamente assustado com as inconstitucionalidades do Alexandre Moraes", disse o deputado Zé Trovão (PL-SC).
Após a determinação da prisão domiciliar de Bolsonaro, a Esplanada dos Ministérios, onde ficam o Congresso, o Palácio do Planalto e o STF, amanheceu com grades e tropas da Força Nacional e da Polícia Militar. Manifestantes preparam para as 19h desta terça-feira uma grande carreata, que partirá da Torre de TV, também na Esplanada. Alguns manifestantes falam em começar a reunir motociclistas, caminhoneiros e agricultores com o objetivo de parar o Brasil em futuros protestos.
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Na entrevista na rampa do Senado, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e as principais lideranças da oposição delinearam um plano para pedir o impeachment de Alexandre de Moraes, pressionar pela votação da Proposta de Emenda Constitucional do fim do Foro Privilegiado e do projeto de anistia aos presos de 8 de janeiro.
Horas depois, os parlamentares começaram a colocar a estratégia em prática, ao levar protestos para dentro do Congresso e barrar o início das sessões plenárias na Câmara e no Senado. Eles tomaram as Mesas Diretoras usando mordaças em protesto pela liberdade de expressão. A ideia é pressionar os presidentes das duas Casas, Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União-AP), a pautar a anistia e o impeachment de Moraes. O protesto resultou em bate-boca com parlamentares governistas.
Para o deputado Luiz Lima (Novo-RJ), em um cenário ideal, a ação da oposição no Parlamento deve ser apoiada por protestos pacíficos da população nas ruas. "O povo na rua ajuda demais, mas o jogo é jogado no Congresso Nacional", afirmou.
"O povo perdeu o medo do Alexandre de Moraes no domingo. Foi uma manifestação clara. Nós tivemos desde 2022 as maiores manifestações já vistas por todo o Brasil. O povo não suporta mais. Apesar da intimidação que ele faz com as prisões arbitrárias, o povo tá dando a resposta", disse o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ).
Na noite se segunda-feira (4), um primeiro "buzinaço" foi impedido de entrar na Esplanada dos Ministérios. Manifestantes preparam a nova carreata para a noite desta terça-feira (5) e querem chegar até a casa de Bolsonaro, no Jardim Botânico, em Brasília. A ideia é repetir o protesto todos os dias.







