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Rodrigo Maia vai deixar a presidente da Câmara dos Deputados em fevereiro de 2021, cargo que ocupa desde 2017.
Rodrigo Maia vai deixar a presidente da Câmara dos Deputados em fevereiro de 2021, cargo que ocupa desde 2017.| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A eleição para escolha do novo presidente da Câmara dos Deputados ainda está distante — ocorre apenas em fevereiro de 2021. Mas movimentações recentes do presidente Jair Bolsonaro na busca por uma base de apoio no Congresso Nacional fizeram com que o assunto entrasse já na pauta da política nacional.

Bolsonaro se reuniu com dois potenciais candidatos a presidir a Câmara a partir do ano que vem: Arthur Lira (PP-AL) e Marcos Pereira (Republicanos-SP). Os dois nomes, além de Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), são os mais citados até o momento para a disputa. Além deles, o coordenador da Frente Parlamentar da Segurança, a chamada "bancada da bala", Capitão Augusto (PL-SP), já faz campanha aberta entre os deputados. Outros cotados para entrar na disputa são Alessandro Molon (PSB-RJ), Marcelo Ramos (PL-AM) e Fábio Ramalho (MDB-MG).

Os parlamentares buscam ocupar a cadeira que hoje é de Rodrigo Maia (DEM-RJ), na função desde 2016. O deputado chegou ao posto em um "mandato-tampão" após a queda de Eduardo Cunha (MDB-RJ), foi reeleito em 2017 e venceu a eleição novamente no ano passado, após a mudança da legislatura.

As regras atuais impedem que Maia concorra mais uma vez: a reeleição é vedada dentro de uma mesma legislatura. Como Maia faz uma gestão aprovada pela maior parte dos deputados, chegou-se a discutir a possibilidade de alteração nas regras para permitir uma nova reeleição, mas a ideia não avançou.

Jogo de xadrez na Câmara

Maia é também peça-chave para a compreensão da "antecipação" do debate em torno da disputa eleitoral na Câmara. O fato de ele e Bolsonaro terem trocado farpas públicas recentemente ampliou o interesse do presidente da República em ter um aliado seu no comando da Casa, assim como motivou em Maia o desejo de fomentar uma candidatura alinhada com seu pensamento.

Arthur Lira e Marcos Pereira representariam a candidatura mais conectada com Bolsonaro. Pereira, que é o atual vice-presidente da Câmara, tem alguns elementos que ampliam sua proximidade com o presidente da República. Ele é pastor licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, que apoia o governo. O deputado é ainda presidente nacional do Republicanos, partido ao qual se filiaram recentemente dois filhos de Bolsonaro, o senador Flávio e o vereador Carlos.

Já Lira gravou um vídeo ao lado de Bolsonaro no dia 20 de abril, durante reunião entre eles, no Palácio do Planalto. Na gravação, ambos estão bastante sorridentes. O chefe do Executivo manda abraços à esposa e ao filho do deputado alagoano e afirma que Lira é “pai e maridão”. Lira diz que seus familiares são fãs do presidente e a “toda hora” pediam uma gravação ao lado de Bolsonaro. O parlamentar do PP de Alagoas é um dos líderes do Centrão na Casa.

À Gazeta do Povo, a assessoria de Pereira disse que o parlamentar considera precipitada a discussão sobre a eleição. "O deputado federal Marcos Pereira afirma que ainda é cedo para tratar de sucessão à Presidência da Câmara. Todas as menções ao seu nome foram feitas por terceiros, sendo que ele próprio nunca se manifestou a respeito do assunto. No entanto, essa é uma discussão que será feita no momento oportuno, tendo em vista que ele está neste momento focado em ajudar o país na luta contra o novo coronavírus", disse ele, por meio de nota enviada pela sua assessoria.

Um deputado da base governista que conversou em off com a reportagem afirmou que não recebeu, até o momento, nenhuma orientação de Bolsonaro sobre a eleição. "É claro que alguns deputados já se colocam como candidatos e fazem conversas preliminares, mas não houve nenhuma indicação oficial por parte do presidente Bolsonaro. Não procede que já teríamos um candidato", destacou.

Já a candidatura de Aguinaldo Ribeiro contaria com o respaldo de Maia e dos deputados que, hoje, dão sustentação ao presidente da Câmara. Ribeiro está em seu terceiro mandato e é o atual líder da Maioria na Câmara, posição que o coloca em diálogo constante com parlamentares de diferentes grupos, principalmente do Centrão . Ele foi ministro do governo de Dilma Rousseff (PT).

"O PP vai ter apenas um nome"

O deputado federal Cacá Leão (PP-BA) avalia que as eleições na Câmara passarão a ter um quadro mais consolidado após a eleição municipal, que está inicialmente prevista para outubro, mas pode ter seu calendário alterado por causa da pandemia de covid-19. Muitos deputados são pré-candidatos a prefeito, como Daniel Coelho (Cidadania-PE) em Recife, Joice Hasselmann (PSL-SP) em São Paulo, Marcelo Freixo (PSOL-RJ) no Rio de Janeiro e Elias Vaz (PSB-GO) em Goiânia.

Leão disse ver como "muito bom" o fato de seu partido ter dois nomes citados como possíveis candidatos ao comando da Câmara. Mas, segundo ele, a tendência na legenda é a de se chegar ao entendimento em torno de um só nome. "No momento oportuno, vamos elaborar um consenso e o PP vai ter apenas um nome", afirmou.

Maia venceu no primeiro turno em 2019

A última eleição para o comando da Câmara foi decidida no primeiro turno. Maia teve 334 votos na disputa de fevereiro de 2019. O segundo colocado, Fábio Ramalho (MDB-MG), recebeu apenas 66 votos.

O placar confortável registrado a favor de Maia disfarça, entretanto, as longas negociações travadas em torno de sua candidatura. A base de apoio de Jair Bolsonaro tinha interesse em apresentar nomes mais identificados ao presidente da República, como Capitão Augusto, Delegado Waldir (PSL-GO) e até mesmo Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente. Mas houve o entendimento de que o apoio a Maia traria mais frutos ao governo.

No campo oposto da ideologia, a adesão a Maia levou a uma disputa na esquerda: PCdoB e PDT apoiaram Maia, enquanto o PT declarou voto em Marcelo Freixo. O deputado do Rio, entretanto, teve 50 votos, número inferior ao da bancada petista na ocasião.

Maia recebeu, em 2019, 41 votos a mais do que ele obtivera em 2017. Na ocasião, foi escolhido por 293 deputados e também ganhou em primeiro turno. O último colocado daquela eleição recebeu apenas quatro votos: Jair Bolsonaro.

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