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Decisão do plenário

Câmara desafia STF e suspende ação contra Ramagem por suposta tentativa de golpe

Câmara suspende ação penal do STF contra Ramagem
Decisão da Câmara que sustou ação por suposto plano de golpe contra Ramagem pode abrir brecha para beneficiar Bolsonaro. (Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados)

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A Câmara dos Deputados aprovou, na noite desta quarta-feira (7), a suspensão da ação penal no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), que era réu por suposta tentativa de golpe de Estado em 2022. Foram 315 votos a favor, 143 contra e 4 abstenções.

Logo após a aprovação, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), promulgou a decisão. Com isso, a medida tem efeito imediato. O texto não precisa ser analisado pelo Senado. Mais cedo, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) já havia aprovado a proposta.

“Esta resolução entra em vigor na data da sua promulgação. Determino o imediato encaminhamento desta resolução ao STF junto com as notas taquigráficas desta sessão”, afirmou o presidente da Câmara ao final da votação.

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Motta citou o regimento interno da casa para limitar a discussão no plenário e os deputados não puderam apresentar emendas ao parecer da CCJ, que poderiam alterar o texto, e pedidos de retirada de pauta. Nas redes sociais, Ramagem classificou a decisão como "uma grande vitória" e disse que o "parlamento está acordando".

“É a [vitória] da defesa do mandato parlamentar, do mandato do povo, que me escolheu para estar aqui, contra essas perseguições e usurpações de poder. estamos defendendo a Câmara dos Deputados e a Constituição”, disse Ramagem ao lado do deputado federal Marco Feliciano (PL-SP).

A Primeira Turma do STF tornou Ramagem, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros seis acusados réus por suposta participação na trama golpista no dia 26 de março. O deputado é o único denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) com foro privilegiado.

O texto aprovado é genérico e prevê que será “sustado o andamento da ação penal contida na Petição 12.100 [inquérito do golpe], em curso no STF, em relação a todos os crimes imputados”. A redação provocou embate entre os parlamentares, pois não especifica que a sustação do processo se refere apenas a Ramagem, que faz parte do do chamado "núcleo crucial", formado por oito denunciados.

Também são julgados neste grupo: Almir Garnier, ex-comandante da Marinha; Anderson Torres, ex-ministro da Justiça; Augusto Heleno, ex-ministro do GSI; Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro; Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa; e Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil.

Câmara enfrenta decisão do STF sobre Ramagem

No início de abril, o PL pediu à Câmara a suspensão da ação penal com base no artigo 53 da Constituição. A lei estabelece que, uma vez recebida a denúncia por crime ocorrido após a diplomação, o partido pode sustar o andamento da ação com voto da maioria da Câmara.

No entanto, o presidente do colegiado, ministro Cristiano Zanin, informou a Motta que apenas dois dos cinco crimes atribuídos a Ramagem poderiam ser sustados: dano qualificado pela violência e grave ameaça, contra o patrimônio da União, e com considerável prejuízo para a vítima; e deterioração de patrimônio tombado.

Essas acusações estão vinculadas aos atos de 8 de janeiro de 2023, portanto, após a diplomação do deputado realizada em dezembro de 2022. Com isso, o deputado continuaria a responder pelos crimes considerados mais graves: abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.

A decisão da Corte teria sido vista pelo presidente da Câmara como uma forma de interferência na prerrogativa do Legislativo. O relator do pedido do PL, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), considerou que todos os requisitos previstos na Constituição para suspender a ação penal foram observados: denúncia, recebimento da mesma pelo STF e que os crimes tenham sido cometidos a partir da diplomação, informou a Agência Câmara.

"Esta Casa não é menor do que qualquer Poder da República. Estamos decidindo os fundamentos das prerrogativas constitucionais deste Parlamento", disse Gaspar.

Embate entre oposição e base do governo

O líder do PT, Lindbergh Farias (PT-RJ), afirmou que a aprovação da medida vai beneficiar todas as 34 pessoas acusadas pelo suposto plano de golpe. O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), apontou que o objetivo da medida é provocar o STF e criar uma crise institucional.

“No debate na CCJ, ficou nítido que o objetivo político é tomar uma decisão na Câmara dos Deputados para elevar a tensão e o choque com o Supremo Tribunal Federal”, disse Silva.

Já o líder da oposição na Câmara, deputado Zucco (PL-RS), afirmou, em nota, que a decisão do plenário “representa um marco inequívoco da recuperação do equilíbrio entre os Poderes, da defesa das prerrogativas e da reafirmação da altivez do Poder Legislativo diante de evidentes violações processuais”.

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