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Interrogatório no STF

Cid detalha pressões sobre Bolsonaro em 2022, diz que ele enxugou decreto para ‘golpe’, mas não assinou

Tenente-coronel Mauro Cid é o primeiro réu a ser ouvido em interrogatório no STF. (Foto: Reprodução/ YouTube TV Justiça)

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Ao responder o interrogatório do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), nesta segunda-feira (9), o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, negou qualquer tipo de coação na delação premiada e voltou a confirmar a suposta tentativa de golpe por parte de integrantes do último governo e do ex-mandatário.

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Cid foi o primeiro réu a participar do interrogatório, que teve início nesta segunda (10) e segue até quinta-feira (12). A expectativa é que o ex-presidente seja ouvido na quarta ou na quinta-feira (12). Todos os acusados estarão na sede do Supremo em Brasília, com exceção do ex-ministro Walter Braga Netto, que será interrogado por videoconferência, já que está preso no Rio de Janeiro desde dezembro de 2024.

O tenente-coronel Mauro Cid detalhou bastidores das pressões enfrentadas pelo então presidente Jair Bolsonaro em 2022. Segundo o ex-ajudante de ordens, Bolsonaro chegou a ler e revisar um documento que previa medidas para anular o resultado das eleições presidenciais daquele ano, incluindo a prisão de autoridades do Judiciário e do Legislativo. Cid afirma que o texto foi “enxugado” por Bolsonaro, mas não chegou a ser assinado.

“Sim, [Bolsonaro] recebeu e leu. Ele enxugou o documento. Basicamente, retirando as autoridades das prisões, somente o senhor [Moraes] ficaria como preso. O resto, não”, relatou Cid ao ministro, confirmando a existência do plano para instaurar uma nova eleição por meio de uma comissão eleitoral.

O militar também reafirmou que assinou o termo de colaboração de forma espontânea e negou qualquer tipo de coação. Ele manteve integralmente os relatos já prestados em depoimentos anteriores.

Atuação de militares

Durante o interrogatório, Moraes questionou sobre a atuação de aliados civis e militares na tentativa de legitimar um eventual golpe. Segundo Cid, o general Mario Fernandes - ex-número dois da Secretaria Geral da Presidência no governo Bolsonaro - atuava de forma intensa entre os militares, buscando convencer generais a apoiar a assinatura de um decreto que permitiria uma ruptura institucional.

“Estava muito ostensivo no meio dos militares, em grupo de generais, muito radical nas ações que deveriam ser tomadas”, disse Cid, relatando que a “grande pressão” era para que Bolsonaro assinasse o documento, que contaria com o apoio do Alto Comando das Forças Armadas. “Essa era a grande construção que se tentava fazer. Nunca com algo concreto, para prender alguém. Era pressão para assinar o decreto."

O depoimento também trouxe à tona conversas reveladas entre Cid e o major Rafael Oliveira, réu em outra ação penal sobre a tentativa de golpe. Segundo Cid, Oliveira o procurou solicitando recursos financeiros para ações que incluíam o transporte de manifestantes do Rio de Janeiro para Brasília. Cid afirma ter buscado ajuda com o general Braga Netto, que o orientou a procurar o partido Liberal.

“Eu falei com o coronel, não me lembro o nome, tesoureiro do partido. Mas com certeza não foi os 100 mil, porque até pelo volume não era tanto, né?”, relatou. O montante, entregue ao major Oliveira no Palácio da Alvorada, teria sido repassado em uma caixa de vinho. “Eu recebi do general Braga Netto e depois, no mesmo dia, passei para o major Oliveira.”, declarou.

Correção

A primeira versão deste texto informava, erroneamente, que Mauro Cid havia conversado com o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Jorge Oliveira, que não tem qualquer envolvimento com o caso. O tenente coronel Mauro Cid, na verdade, fez referência ao major Rafael de Oliveira, integrante das Forças Especiais do Exército, "kid preto" e réu em outra ação penal que apura a suposta tentativa de golpe. Pelo erro, pedimos desculpas.

Corrigido em 12/06/2025 às 09:38

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