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Valdemar Costa Neto, presidente do PL, que procurou explicar suas declarações para conter a polêmica.
Valdemar Costa Neto, presidente do PL, que procurou explicar suas declarações para conter a polêmica.| Foto: Divulgação/ZACK STENCIL/PL

O clima dentro do PL ficou tenso no começo desta semana após a imprensa divulgar que o presidente nacional da sigla, Valdemar da Costa Neto, não apenas acenou apoio à indicação do ministro da Justiça, Flávio Dino, para o Supremo Tribunal Federal (STF), como também se reuniu com o ministro dias antes e até mencionou a possibilidade de Dino ser um sucessor em potencial de Lula.

Essas informações foram vistas pelos correligionários, especialmente os mais próximos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), como um sinal de apoio de Valdemar ao ministro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que é candidato favorito a ocupar vaga aberta no STF com a saída da ministra Rosa Weber, que deve ocorrer ainda neste mês. Dino tem grande rejeição da oposição, de membros da base aliada do governo e da sociedade. Por isso, foi grande o desconforto e a agitação despertados dentro do partido oposicionista de direita.

Em reação, Valdemar publicou nas suas redes sociais nesta segunda-feira (2) uma explicação amparada em comentário feita por Bolsonaro sobre o episódio, de que as suas declarações se tratavam apenas de respaldar a condição de Lula como o responsável pela indicação. "O ato de indicar um ministro ao STF é prerrogativa do presidente da República e apoiamos a prerrogativa. Mas, a decisão de apoiar ou não o indicado é da bancada do Senado. Foi assim com o Cristiano Zanin e será assim com qualquer outro nome", escreveu.

Segundo parlamentares e conselheiros, o imbróglio ainda precisa ser digerido internamente, sem qualquer risco de racha. O líder da oposição no Senado, o ex-ministro Rogério Marinho (PL-RN), em entrevista ao jornal O Globo no último domingo (1º), afirmou que o Brasil "não merece Dino". Na semana passada, muitos parlamentares também expressaram a sua indignação, incluindo o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que declarou que "jamais votaria" em Dino para o STF, durante a sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) no Senado, pré-condição para avançar na indicação, que também tem de ser confirmada no plenário.

No Senado, a bancada do PL conta com 12 integrantes, um número de apoio bastante expressivo, caso a declaração de Valdemar Costa tivesse efeito direto sobre a decisão dos senadores da legenda. Até agora, não há ainda sinalização de apoio da bancada. Pelo contrário. O nome de Dino não é bem recebido pela oposição no geral e até um dos mais hostilizados. O senador Jorge Seif (PL-SC) questionou a declaração de Valdemar pelas redes sociais. “É pegadinha do malandro?”, escreveu. O senador Magno Malta (PL-ES), por sua vez, expressou esperança de que a fala de Valdemar tivesse sido “distorcida pela mídia”. No momento, a expectativa é de um acerto interno antes de o partido se posicionar oficialmente sobre os embates.

As redes sociais dos aliados próximos de Bolsonaro também ficaram agitadas com a notícia do encontro entre Dino e Valdemar. O vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PL), que atua como porta-voz informal de seu pai e ex-presidente nas redes sociais, emitindo recados prévios, postou sobre o assunto em sua conta do Instagram. Isso gerou um alvoroço entre os seguidores, incluindo pedidos para que Bolsonaro deixe o partido.

Valdemar Costa Neto tem pouca influência sobre senadores do PL

De acordo com analistas políticos, Valdemar tem pouca influência sobre os senadores, que são os responsáveis por votar na indicação para o STF, e a maioria deles já deixou claro que não apoia a escolha de Dino. Eles avaliam que a reunião entre o presidente do PL e o ministro pode ter tido uma agenda diferente, mas acabou prejudicando a imagem de Valdemar internamente no partido. Caso contrário, se a discussão era realmente sobre a indicação de Dino, isso demonstraria certo amadorismo por parte do ministro.

Isso ocorre porque a obtenção de apoio de potenciais indicados para o STF geralmente envolve uma abordagem mais direta com cada um dos senadores, o chamado beija-mão, que não estão sujeitos facilmente à influência de presidentes de partidos. Dino também cometeu um erro, na avaliação dos analistas políticos, ao afirmar que não recusaria o convite de Lula para o STF e que deixaria a política após assumir o cargo de ministro da Corte. Muitos indicam que ele tem planos futuros, inclusive a possibilidade de buscar a Presidência da República.

Valdemar da Costa Neto e o PL já foram parte da base de apoio de governo de Lula. No primeiro mandato do petista em 2003, o PL era a sigla do então vice-presidente, José de Alencar. Costa Neto foi acusado de envolvimento no escândalo do mensalão, um conhecido esquema de compra de votos, e chegou a ser condenado e preso.

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