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A secretária Mayra Pinheiro, uma das representantes do Ministério da Saúde que assinou o novo protocolo da cloroquina.
A secretária Mayra Pinheiro, uma das representantes do Ministério da Saúde que assinou o novo protocolo da cloroquina.| Foto: Reprodução/TV Brasil

Mesmo após a Organização Mundial da Saúde (OMS) suspender os ensaios clínicos com a hidroxicloroquina e a cloroquina no estudo global Solidarity, o Ministério da Saúde (MS) brasileiro afirma que não vai recuar da nova orientação para uso do medicamento, publicada na última semana.

Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, disse nesta segunda-feira (25) que o MS segue "tranquilo e sereno" com relação à indicação.

“Quanto aos estudos que são mencionados ou a um estudo específico, não se trata de um ensaio clínico, é apenas um banco de dados coletado de vários países. Isso não entra num critério de estudo metodologicamente aceitável para servir de referência para nenhum país do mundo, e nem pelo Brasil", afirmou.

"Nesses estudos não havia uma dose padrão, uma duração padrão, uma medicação padrão, para que possa ser considerado um ensaio clínico. Isso nos faz refutar qualquer possibilidade de citar esse estudo como referência para o Brasil recuar na sua orientação de respeitar a autonomia médica”, completou a secretária.

Foram três grandes estudos envolvendo as substâncias que mostraram que a hidroxicloroquina e a cloroquina não tiveram resultados satisfatórios ou contundentes no tratamento da Covid-19. O mais recente foi publicado pela revista científica Lancet – uma das mais respeitadas entre a comunidade médica mundial – na última sexta-feira (22).

Na pesquisa, classificada como um estudo clínico, foi realizada uma análise retrospectiva dos registros médicos de mais de 96 mil pacientes, distribuídos por 671 hospitais nos seis continentes do mundo. A conclusão dos pesquisadores foi de que a cloroquina aumentou em até cinco vezes o risco de arritmias cardíacas, mesmo em pacientes sem cardiopatias.

Mayra Pinheiro ressaltou que, para manter a orientação, o ministério trabalha com os princípios bioéticos de autonomia do paciente, respeito a justiça e beneficência. Mesmo assim, afirmou que pode haver mudanças, se for constatado “que não haja de fato comprovação".

Já o secretário-executivo substituto, Élcio Franco, defendeu o uso do remédio de forma mais enfática, mas sem embasamento técnico. “O país já tem experiência na administração da cloroquina para várias viroses. O meu filho, por exemplo, pegou malária e tomou cloroquina. Em 1996, eu tomei mefloquina, que tem o mesmo princípio, durante seis meses, ininterruptos, diariamente”, relatou.

O protocolo divulgado pelo ministério na semana passada orienta o uso das substâncias, em conjunto com a azitromicina, logo nos primeiros dias de sintomas da Covid-19. No termo de consentimento que deve ser assinado pelo paciente, divulgado em conjunto com o protocolo, a própria pasta admite que não há estudos comprovando a eficácia do medicamento.

Além disso, cita, apenas, um "estudo francês" como evidência de sucesso no tratamento com a cloroquina e a hidroxicloroquina. O estudo em questão foi retirado do ar, a pedido dos próprios autores, na semana passada.

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