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Filiação de Sergio Moro ao Podemos
Sergio Moro durante a solenidade de sua filiação ao Podemos.| Foto: Reprodução/Youtube/Podemos

A filiação do ex-ministro e ex-juiz Sergio Moro ao Podemos e o avanço de suas articulações com outros grupos políticos aumentaram a pressão nos demais partidos e pré-candidatos da chamada terceira via. Eles passaram a tentar reconquistar o espaço que Moro ocupou. E a pré-candidatura do ex-juiz também provocou ao menos um racha interno numa das legendas que tenta se viabilizar na terceira via.

No últimos dias, o PSD e MDB buscaram marcar posição, e confirmaram as pré-candidaturas a presidente dos senadores Rodrigo Pacheco (MG) e Simone Tebet, respectivamente. O ex-governador Ciro Gomes (PDT-CE) teria decidido mudar sua estratégia de comunicação para impedir o crescimento do ex-juiz.

Além disso, o episódio da suposta desistência de Luiz Henrique Mandetta da disputa pela Presidência para apoiar Moro sugeriu haver um racha no União Brasil, resultado da fusão entre DEM e PSL. O motivo dessa divisão interna seria justamente a intenção de parte do partido em ganhar espaço numa futura chapa do ex-juiz.

Moro se filiou ao Podemos no último dia 10. Desde então, deu entrevistas e ganhou os holofotes. Praticamente tornou-se o único pré-candidato "oficial" da terceira via no campo da centro-direita. Isso foi facilitado pelo imbróglio das prévias do PSDB, que impediu o partido de definir o seu candidato a presidente.

Esse cenário teve duas consequências. De acordo com a última pesquisa divulgada, do PoderData, Moro já aparece em terceiro ou quarto lugar na disputa presidencial, dependendo do cenário – veja aqui os números da pesquisa. Além disso, o ex-juiz também conseguiu avançar em negociações políticas que estão mais lentas nos outros partidos por causa da indefinição de nomes. Aproximou-se do Movimento Brasil Livre (MBL). E, com a filiação do general Santos Cruz ao Podemos, na quinta-feira (25), mostrou que pode ter o apoio de ao menos parte dos militares.

O que o caso Mandetta diz sobre o possível vice de Moro

Moro e o União Brasil vêm mantendo conversas sobre a eleição presidencial já há algum tempo. O ex-juiz e Mandetta inclusive já se reuniram. E uma aliança não é descartada.

Mas a divulgação de que o ex-ministro da Saúde teria desistido de sua pré-candidatura para que o partido apoie Moro causou um mal-estar interno no União Brasil. O presidente do partido, o deputado Luciano Bivar, egresso do PSL, chegou a confirmar publicamente a informação. Logo depois, Mandetta (que é da ala do DEM do União Brasil) negou a desistência.

Nesta sexta-feira (26), o jornal Valor Econômico informou que Bivar quer se viabilizar desde já como vice de Moro e que essa pretensão eleitoral teria deixado Mandetta contrariado. Nos bastidores, o nome do ex-ministro da Saúde vinha sendo cotado para ser o vice de Moro.

Ciro vai mirar "artilharia" em Moro

Pré-candidato do PDT a presidente, Ciro Gomes vinha tentando marcar posição com críticas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ambos são de esquerda. E a aposta dessa estratégia é de que, se Lula perder eleitores, eles vão migrar para Ciro.

Mas o potencial eleitoral de Moro ligou o sinal de alerta na pré-campanha do pedetista. Segundo reportagem do jornal O Globo, Ciro também passará a criticar o ex-juiz. De acordo com o jornal, a avaliação é de que o pedetista não perdeu eleitores para Moro, mas que o ex-juiz pode impedi-lo de crescer nas pesquisas e se viabilizar como o nome da terceira via capaz de romper a polarização entre Lula e Bolsonaro.

Com Pacheco, PSD não quer ficar para trás

No PSD, o presidente da sigla, o ex-ministro Gilberto Kassab, tem sinalizado que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), precisa se colocar como pré-candidato para começar a viabilizar sua candidatura presidencial, sob o risco de perder espaço para outros nomes da terceira via (como Moro).

Nesta semana, o PSD realizou uma convenção em Brasília para tratar sobre a candidatura de Pacheco. Até então, o senador vinha resistindo em se apresentar como pré-candidato com tanta antecedência por ser presidente do Senado. Desde que começou a ser cotado como presidenciável, Pacheco passou a ter a condução dos trabalhos na presidência do Senado questionada pelos seus adversários, principalmente por aliados do Palácio do Planalto. E ele queria evitar críticas de usar o cargo para viabilizar sua candidatura e prejudicar adversários.

Mas Moro mudou esse cenário. No evento com seus correligionários, Pacheco subiu o tom contra o governo do presidente Jair Bolsonaro e fez críticas aos seus apoiadores. "Revelar amor ao Brasil não é colocar uma camisa da Seleção Brasileira e sair na rua xingando o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional", disse.

Mesmo sem afirmar textualmente que pretende disputar o Planalto, o presidente do Senado disse que sua missão será “servir ao PSD”. "O que devo dizer a todos os senhores é que, convocado a esta missão de servir o PSD, eu o faço na condição de presidente do Senado e do Congresso. E em relação às eleições de 2022, eu repito: estarei de corpo, alma, mente e coração a serviço do partido e a serviço do Brasil", completou.

Integrantes do PSD admitem que a entrada de Sergio Moro no Podemos ampliou sua popularidade e consequentemente sua viabilidade deve crescer junto aos apoios que vem buscando com outros grupos políticos.

Para o presidente do PSD, Gilberto Kassab, o nome de Pacheco também deve ganhar musculatura quando o presidente do Senado assumir sua pré-candidatura. Na avaliação de integrantes do partido, a entrada de Pacheco pode atrasar definições por parte de outras legendas da chamada terceira via, entre elas o PSDB e o MDB.

“Existe uma apreensão de que o Pacheco demore muito para se colocar na disputa e com isso perca mais espaço para Sergio Moro. Ele precisa se colocar como pré-candidato até para poder negociar com os demais partidos da terceira via”, admite um integrante do PSD. Nos bastidores, integrantes do partido admitem que, eventualmente, Pacheco poderia se cacifar como vice em alguma chapa, incluindo uma composição com o ex-presidente Lula (PT).

A manobra, no entanto, vem sendo negada por Kassab, que afirma que o presidente do Senado é “candidatíssimo”. Para ele, o discurso de Pacheco na convenção do PSD foi o pontapé na pré-campanha. "Mineiro, falando como ele falou, é candidatíssimo", disse.

MDB admite que Simone Tebet pode ser vice de Moro

Divido entre aliados de Lula, integrantes do governo Bolsonaro e defensores da terceira via, o MDB oficializou a pré-candidatura da senadora Simone Tebet (MS) ao Palácio do Planalto. Para a cúpula emedebista, liderada pelo presidente do MDB, deputado Baleia Rossi (SP), a pré-candidatura de Simone Tebet será essencial para a renovação da imagem do partido. Além disso, pretende evitar que o partido se alie a Lula ou a Bolsonaro e busca aumentar o poder de negociação do MDB com outros candidatos da terceira via.

O grupo ligado a Baleia Rossi tenta conter os avanços dos acordos feitos por caciques emedebistas com Lula no Nordeste e com Bolsonaro no Sul. Nesta ala, a avaliação é a de que Simone ajudará o MDB, e vice-versa.

“Desde março, tive conversas com dirigentes nacionais e regionais do MDB. A conclusão geral é que precisamos de um nome do partido para 2022. Por isso iremos homologar Simone Tebet como pré-candidata ao Planalto”, escreveu Baleia Rossi nas redes sociais.

Mas, assim como no PSD, a entrada de Simone Tebet na disputa pela pré-campanha é vista pelos emedebistas como uma forma de ampliar o poder de negociação com os demais partidos da terceira via. Antes da projeção ganhada por Sergio Moro, o partido pretendia lançar o nome de Simone Tebet em apenas um eventual virtual. Agora, o grupo prepara um evento em Brasília para reunir a militância do partido.

Para tentar angariar apoios, a pré-candidatura de Simone Tebet será construída através do manifesto “Todos Por um Só Brasil”, lançado em agostos pelos emedebistas. Em um dos trechos, o texto destaca que a concepção do manifesto é “romper a falsa polarização entre a extrema direita e uma esquerda irresponsável que lançou o país em uma grave crise”.

“A Simone Tebet tem habilidade de lidar com grandes desafios de uma forma firme e equilibrada. Uma mulher que também tem uma característica conciliadora, que jamais foge das suas responsabilidades. Simone Tebet está preparada para ser a presidente da República”, disse a presidente do MDB Mulher, Fátima Pelaes.

Mas, diante do novo cenário imposto por Moro, integrantes do MDB não descartam aderir à candidatura do ex-juiz caso o nome de Tebet possa, por exemplo, compor como vice. A senadora é bem vista na cúpula do Podemos e chegou a ser convidada pela bancada do partido no Senado para ingressar na sigla, quando ela perdeu a disputa pela presidência do Senado no começo deste ano para Rodrigo Pacheco.

Aos seus aliados, Moro tem sinalizado que gostaria de ter Simone Tebet no grupo por causa de seu perfil conciliador e de sua trajetória no Congresso.

Além de Moro, a senadora do MDB conta com acenos do governador de São Paulo, João Doria, que disputa as prévias do PSDB para tentar se lançar na disputa pelo Palácio do Planalto. Caso seja confirmado na disputa, o tucano já sinalizou que irá ter uma mulher como vice na sua chapa.

“Se tivermos oportunidade de vencer, além de dialogar com vários outros partidos, vamos buscar uma mulher para ser vice na chapa do PSDB na Presidência da República”, disse. Doria é próximo do presidente do MDB e mantém interlocuções com Sergio Moro. A expectativa do grupo é de que o nome mais viável antes do registro das candidaturas receba o apoio dos demais.

Metodologia da pesquisa citada na reportagem

A pesquisa do PoderData, divisão de estudos estatísticos do portal Poder360, foi realizada em parceria com o Grupo Bandeirantes. Foram feitas 2.500 entrevistas, por telefone, com pessoas de 459 municípios nas 27 unidades da federação, entre os dias 22 e 24 de novembro. A margem de erro é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos.

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