Discordâncias com política de meio ambiente teriam levado procuradores a usurpar função restrita ao Procurador Geral da República| Foto: Warley de Andrade/TV Brasil
Ouça este conteúdo

Nove dos doze procuradores que assinaram ação de improbidade administrativa contra o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, por suposta “desestruturação dolosa” da política ambiental, vão ter que prestar explicações à Corregedoria do Ministério Público Federal. O processo corre na 8ª Vara Federal de Brasília e pede o afastamento imediato de Salles do cargo.

CARREGANDO :)

Em ofício sigiloso, a corregedora-geral Elizeta Maria de Paiva Ramos pede aos procuradores o envio de informações sobre a ação contra Salles “considerando eventual usurpação de atribuição de Procurador da República que assina petição fora da unidade de lotação”. O objetivo é apurar se os procuradores excederam suas competências ao assinarem peça que não está vinculada às procuradorias que ocupam.

A corregedora também destaca que as explicações são necessárias “principalmente pela ausência de motivação legal para tanto e sem prévia autorização do Procurador-Geral da República”, Augusto Aras.

Publicidade

A ação de improbidade contra Salles é assinada por sete integrantes da força-tarefa Amazônia, três procuradores que atuam em Brasília, onde o processo foi apresentado, e dois membros da 4ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal, voltada para Meio Ambiente e Patrimônio Cultural.

O MPF acusa Salles de cometer improbidade administrativa em série de atos, omissões e discursos que caracterizariam conduta intencional “com o objetivo de fragilizar a atuação estatal na proteção do meio ambiente”’ e favorecer “interesses que não têm qualquer relação com a finalidade da pasta”.

Um dos casos citados é a exoneração de dois servidores, Renê Oliveira e Hugo Loss, e um diretor de fiscalização do Ibama, Olivaldi Azevedo, após ação contra garimpeiros que atuavam em terras indígenas em Altamira (PA).

Em depoimento, Renê Oliveira e Hugo Loss alegaram ter sofrido pressão do governo em operações de combate a crimes ambientais após o Fantástico exibir máquinas de garimpo sendo queimadas em fiscalização do Ibama. O chefe deles, Olivaldi Azevedo, foi chamado para conversa no Ministério do Meio Ambiente no dia seguinte à reportagem.

“O Olivaldi entrou em contato comigo para avisar que tinha sido chamado no Ministério e que, dependendo da situação, depois gostaria de falar comigo. Respondi que estava à disposição. Aí ele me ligou, por volta das 17h30 - 18h e pediu para nos encontrarmos”, relatou Oliveira. “Fomos lá no Ibama e recebi a informação dele assim, sem muitos detalhes: ‘a coisa ficou insustentável, estou saindo, fui exonerado, tive uma reunião agora no Ministério’”.

Publicidade

A destruição de máquinas de garimpeiros é uma operação que desagrada o presidente Jair Bolsonaro, que já se manifestou contra a queima dos equipamentos apreendidos. Uma mensagem divulgada sem querer por Bolsonaro mostra que o Planalto cobrou satisfações sobre a queima das máquinas de garimpeiros, incluindo do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro. O presidente queria saber se a Força Nacional estava envolvida na história.

Em nota, Salles classificou como “tentativa de interferir em políticas públicas” o pedido de afastamento apresentado pelo Ministério Público Federal. “A ação de um grupo de procuradores traz posições com evidente viés político-ideológico em clara tentativa de interferir em políticas públicas do Governo Federal”, afirmou. “As alegações são um apanhado de diversos outros processos já apreciados e negados pelo Poder Judiciário, uma vez que seus argumentos são improcedentes”.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]