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Presidente Lula afirma que reação de Israel é “tão grave quanto” os ataques do Hamas, e que país está “matando inocentes”.| Foto: reprodução/Canal Gov

Ao dizer que o Estado de Israel pratica atos de terrorismo no combate ao Hamas em prounciamento no último dia 14, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) despertou a insatisfação da Frente Parlamentar Evangélica do Congresso Nacional e aumentou a distância entre o Palácio do Planato e o grupo que representa 235 parlamentares: 209 deputados e 26 senadores.

De acordo com o presidente da Frente Parlamentar Evangélica no Senado, o senador Carlos Viana (Podemos-MG), o grupo avalia entrar com nova obstrução legislativa contra o governo Lula. Nos bastidores, o descontentamento com a equiparação feita pelo chefe do Executivo seria generalizado entre os congressistas.

“Nós temos nossos posicionamentos muito bem definidos,um deles é a defesa de Israel. Estamos soltando nota conjunta de repúdio e não descartamos iniciar obstrução nas duas casas para deixar claro nosso descontentamento com o discurso do presidente”, disse o senador à Gazeta do Povo.

A defesa de Israel é uma das bandeiras defendidas pelo grupo, que já emitiu comunicados criticando a ação do Hamas e se solidarizando com o país governado por Benjamin Netanyahu. Lula já tentou uma aproximação com o grupo como parte do esforço de ampliar seu apoio no Congresso, mas o processo tem sido conturbado. A entrada do Republicanos na base do governo em setembro já dividiu opiniões no partido e a guerra em Israel agora deve tornar mais ainda mais difícil o processo, pois muitos dos integrantes do Republicanos são evangélicos.

Questionado sobre o distanciamento da bancada evangélica com o Executivo, o presidente da Frente Parlamentar Evangélica do Congresso Nacional, o deputado Silas Câmara (Republicanos-AM), repudiou a fala do presidente sobre Israel.

“A Frente continua distante, como sempre esteve, das ideias e práticas ideológicas do governo. Repudiamos os atos terroristas do Hamas, que tiraram vidas de inocentes em Israel. Também apoiamos o direito de defesa de Israel em reagir contra o Hamas. Torcemos pela sensibilidade também de que crianças, mulheres e homens, portanto vidas e famílias inocentes, precisam ser poupados”, disse Câmara à Gazeta.

Parlamentares criticam declaração de Lula

Na avaliação do deputados Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), que também é membro da bancada, a declaração de Lula mostra uma posição “antissemita” do governo federal.

“Como evangélicos, somos defensores de Israel por convicções de fé. Ontem, o Lula destilou todo o seu veneno de preconceito contra os Judeus, demonstrando claramente que ele é um antissemita. Cada vez mais fica claro que os evangélicos devem manter distância deste governo preconceituoso”, avaliou o deputado.

Segundo o senador Rogério Marinho (PL-RN), líder da oposição no Senado, Lula parece não saber diferenciar as atitudes de Israel e Hamas, o que seria ruim para o país já que o petista fala como o representante da nação. Além disso, o congressista avalia que as declarações do chefe do Executivo colocam o Brasil na mesma posição que países autoritários.

“O reflexo disso aqui dentro (no Congresso) deve acontecer dentro da consciência de cada parlamentar, mas eu acho que isso nos ombreia com as piores ditaduras do mundo, com os regimes totalitários, com as monarquias déspotas, com aqueles que têm uma visão distorcida, que discriminam, que têm antissemitismo, que acreditam que o terror pode ser um instrumento político. Então isso é a diferença entre barbárie e civilização, que é uma coisa que me parece que está meio confusa na cabeça do presidente Lula”, disse Marinho.

Relação de Lula com evangélicos deteriora

O relacionamento entre o PT e a bancada vem derretendo ao longo dos anos. Na eleição de 2002, o segmento apoiou Lula para a eleição presidencial, mas passou a reduzir seu apoio após avanço de pautas progressistas nos governos petistas. Nesse contexto, o grupo religioso migrou para a candidatura do PSDB até desaguar no ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que possui forte influência no grupo religioso.

No início do semestre, o governo ensaiou uma aproximação com o segmento e escalou o advogado-geral da União, Jorge Messias, e a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ) para dialogar com os parlamentares. O objetivo era facilitar a aprovação de propostas importantes, como a Reforma Tributária.

No entanto, o avanço do Supremo Tribunal Federal (STF) em pautas consideradas de responsabilidade do Legislativo, como a descriminalização do aborto e das drogas, pôs o governo na mira das pautas de costume e desencadeou um movimento de obstrução no Congresso.

De acordo com o cientista político, Juan Carlos Arruda, CEO do Ranking dos Políticos, a aproximação entre o PT e a causa palestina é um fator que torna conflitante a relação entre Lula e os evangélicos.

“Desde sua eleição, o Presidente Lula enfrenta tensões com o eleitorado evangélico, em grande parte devido às divergências entre os posicionamentos dele e seu partido em relação a questões de valores e costumes. Adicionalmente, é conhecida a ligação histórica entre o PT e a comunidade Palestina”, afirmou Juan.

Ele acrescentou: "Recentemente, ao se aproximar do Republicanos, partido predominantemente evangélico, o presidente não adotou uma postura firme em defesa de Israel, indo de encontro à tendência global. Esse cenário tem afetado a relação com a base parlamentar evangélica, uma parte significativa da sociedade brasileira, justamente em um período em que o governo necessita de apoio no Congresso Nacional. A tendência é que o presidente tenha de fazer novos acenos à base evangélica para reconquistar a confiança perdida.”

Fisiologismo dos parlamentares pode falar mais alto

Por outro lado, o cientista político Elton Gomes, professor na Universidade Federal do Piauí (UFPI), analisa que o fisiologismo dos parlamentares pode falar mais alto quando se trata de negociar com o governo, o que pode impedir movimentações drásticas por parte da Frente Parlamentar.

“Considerando a importância da defesa de Israel, as declarações de Lula podem gerar alguma tensão - uma vez que esse grupo parlamentar tem uma importância bastante significativa. Mas esse conflito não me parece ser determinante por conta do pragmatismo tanto de Lula, ao precisar dessa bancada para poder ampliar sua base no Congresso, quanto dos parlamentares evangélicos interessados em verbas, cargos, benefícios políticos e espaços administrativos”, destaca o professor.

“Então, a tendência é que isso possa gerar um imbróglio agora, atrasar um pouco as negociações. Talvez seja preciso pagar um valor maior, a fatura fica um pouco mais cara, mas não parece que esses parlamentares vão deixar de negociar com o governo e nem que o governo vai deixar de negociar com esses parlamentares”, acrescentou Elton.

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