Manifestação na Assembleia Legislativa do Paraná contra a privatização dos Correios.| Foto: Arquivo/Gazeta do Povo
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A Gazeta do Povo lançou o e-book Dossiê 2022, para que os nossos leitores tenham à mão todas as informações necessárias para acompanhar o xadrez político das próximas eleições presidenciais. A partir de perguntas formuladas por jornalistas, especialistas das mais diversas áreas dizem quais são fatores que vão influenciar o voto do brasileiro e como eles acreditam que serão as eleições. Este conteúdo é uma parte do e-book, que você pode baixar gratuitamente, na íntegra, ao fim do texto.

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Em 2018, os eleitores votaram em uma plataforma econômica liberal. Em grande medida, foi uma resposta à era de uma linha mais intervencionista.  Este “espírito” liberal deve continuar ganhando adeptos entre os eleitores ou pode haver um recuo?  

PEDRO MENEZES, editor e fundador do instituto Mercado Popular, dedica-se ao estudo de políticas públicas e é colunista na Gazeta do Povo. 

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Essa questão é complicada e depende de fatos futuros e incertos, mas é possível organizar o pensamento abordando alguns pontos envolvidos. Não acredito que a vitória de Bolsonaro se deve ao seu projeto econômico liberal. Os eleitores não citam o grau de liberalismo do governo como um fator importante na hora de decidir o presidente. Bolsonaro fez oposição às gestões PT e Temer, defendeu a Lava Jato e se alinhou com o eleitor mediano no tema da segurança pública. Talvez o discurso de Paulo Guedes tenha sido útil para reforçar as diferenças em relação ao PT e sinalizar para o eleitor a intenção de mudança.

O que deve acontecer, porém, é uma identificação da agenda liberal com Bolsonaro. Não importa qual seja o resultado econômico dos últimos anos do mandato, os adversários que pretendem apostar num discurso liberal terão que se diferenciar da plataforma de Guedes. O plano de Paulo Guedes, neste momento, é evidente: apostar nos juros baixos para que os dois anos finais do governo Bolsonaro sejam os melhores da economia brasileira desde o início da década de 2010. Caso a estratégia dê certo, o discurso econômico do governo ganhará muita força para 2022 e a reeleição fica mais provável. Não só pela prosperidade gerada, mas também porque juros baixos aumentam a propensão dos agentes econômicos às situações de risco. A Bolsa de Valores fica mais popular, financiamentos imobiliários ficam mais baratos... Em resumo, juros baixos deixam o brasileiro mais capitalista e diminuem o apoio a quem propõe aventuras macroeconômicas. Essa é uma estratégia promissora para os simpatizantes do governo, mas precisa ser muito bem executada para dar certo em meio à pandemia.

JULIA TAVARES, Associada do IEE desde 2015, é advogada e pós-graduada em Direito e Processo do Trabalho pela PUCRS. Participou do curso em Leadership for Young Leaders da Foundation Friederich – Naumann na Alemanha e do curso Atlas Think Tank Leadership Training- Atlas Network em NYC. Foi diretora de eventos e vice-presidente do IEE na gestão 2019-2020

Primeiramente, acho importante esclarecer que o atual governo não é liberal, conforme podemos ver na decisão (troca da direção) em relação a Petrobras. Sua plataforma de campanha tinha pontos importantes de liberdade econômica que infelizmente não foram até o momento colocados em prática. Mas felizmente acredito que o liberalismo tem muito espaço para crescer no Brasil e vem ganhando espaço, a pandemia também foi importante para mostrar o quão danoso é esse intenso controle do Estado nas nossas vidas. Além disso, as novas gerações buscam muito mais independência e liberdade, coisas que são intrínsecas ao liberalismo.

RODRIGO SARAIVA MARINHO, Advogado, Professor de Direito, Mestre em Direito Constitucional pela UNIFOR, membro do Conselho Editorial da Revista Mises, presidente do Instituto Liberal do Nordeste, membro do Conselho de Administração do Instituto Mises Brasil e diretor de operações da Rede Liberdade. 

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Apesar de ter votado numa plataforma mais liberal, sabia-se claramente que o histórico do presidente Bolsonaro sempre foi intervencionista e em vários momentos, durante o seu governo, ficou claro isso. O espírito liberal crescerá bastante após a pandemia, muitas liberdades individuais foram cerceadas e a liberdade é um direito humano.

ELENA LANDAU, economista e advogada, foi diretora de privatizações do BNDES durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Foi filiada ao PSDB e atualmente é conselheira acadêmica do movimento Livres.

Eu acho que para a agenda liberal ter algum apoio, nós liberais precisamos mostrar que esse governo não é liberal, que a pauta econômica não foi liberal, e portanto que não houve uma tentativa de liberalismo no Brasil. O espírito liberal que dominou na campanha de 2018 com vários candidatos liberais não se implantou. Também, nem deveria se implantar… não sei quem imaginou que sairia sendo o Bolsonaro o presidente. Tinha opções - Meirelles, Alckmin com Pérsio [Arida], João Amoedo com Gustavo [Franco] - que esses sim eram apostas liberais. Eu não sei se vai ganhar adeptos mais o discurso anti-PT. Na realidade foi um discurso anti-linha econômica intervencionista. Se a gente chega no final de 2022 com crescimento muito baixo, com desemprego muito baixo, já vai reforçar o que a gente já vê hoje, que é um saudosismo da heterodoxia. As pessoas não aprendem: deu errado, mas as pessoas acham que pode dar certo um dia.

Eu acho que vai depender muito de como nós, liberais, nos apresentarmos em 2022, como vai ter um candidato que de fato consiga ter uma agenda liberal crível. Neste sentido, se for um candidato que tem uma experiência na implementação de reformas, que mostrou durante seu governo, seja estadual, ou de volta o Meirelles, ou o Doria, ou o Kalil, ou o Eduardo Leite, sei lá, a gente tem que olhar a experiência desses candidatos para mostrar que eles são capazes de trazer uma proposta liberal. Porque o Bolsonaro, pela sua trajetória, todo mundo sabia que não era. Agora, se você pegar pessoas que, durante seu governo, sua prefeitura, sua experiência de vida pública tenham, de fato, defendido uma agenda liberal, aí é crível. E aí eu acho que tem muito espaço para essas pessoas.

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