Manifestação a favor da Lava Jato, em 2015: apoio dos lavajatistas em 2022 já não será tão crucial nas urnas como foi em 2018.| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo/Aqruivo
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A Gazeta do Povo lançou o e-book Dossiê 2022, para que os nossos leitores tenham à mão todas as informações necessárias para acompanhar o xadrez político das próximas eleições presidenciais. A partir de perguntas formuladas por jornalistas, especialistas das mais diversas áreas dizem quais são fatores que vão influenciar o voto do brasileiro e como eles acreditam que serão as eleições. Este conteúdo é uma parte do e-book, que você pode baixar gratuitamente, na íntegra, ao fim do texto.

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Para onde vão os apoiadores da Lava Jato?

GUILHERME DE CARVALHO, teólogo público e cientista da religião, com foco na articulação entre cristianismo e cultura contemporânea. É Pastor da Igreja Esperança em Belo Horizonte e diretor de L’Abri Fellowship Brasil. Foi diretor de Promoção e Educação em Direitos Humanos no Governo Federal.

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Certamente os lavajatistas de coração vão migrar para qualquer movimento comprometido com uma nova versão das famosas medidas anticorrupção. Penso que o próprio Deltan talvez saia desgastado demais da atual batalha judicial em torno da Lava Jato para liderar essa migração, mas sua bênção seria importante para um político que retome o discurso anticorrupção e contemporize com as críticas ao lavajatismo. O problema é que, segundo vimos com a reorganização política no Congresso e no Senado, a agenda anticorrupção não interessa a nenhum dos grandes corpos políticos, e não deve ser brandida por nenhum nome que queira amplo apoio nas casas.

É claro que, em tese, o combate à corrupção poderia ser uma saliência positiva importante para a direita não bolsonarista (a esquerda não deve se interessar por isso), mas seria necessário mostrar a relação dela com a atual crise econômica. Acho isso muito difícil; a pauta ambiental pode ser uma saliência mais clara, nesse sentido, inclusive sendo vinculada com a emergência da pandemia. Reconheço ser bastante pessimista a respeito dessa pauta neste momento. Se um partido minoritário como o Novo, por exemplo, incorporar a pauta anticorrupção, poderia se capitalizar com isso, mas dificilmente elegeria alguém de forma independente tendo essa agenda como carro-chefe.

PAULO KRAMER, cientista político com doutorado pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj). Professor aposentado de Ciência Política (UnB), assessor parlamentar e analista de risco político.

Continuarão fiéis ao seu ícone máximo, Sergio Moro. Ao qual, porém, falta “apelo” popular, ou, se você quiser, “populista”.

RODRIGO CONSTANTINO, presidente do Conselho do Instituto Liberal. É formado em Economia pela PUC-RJ, e tem MBA de Finanças pelo IBMEC. Trabalhou no setor financeiro de 1997 a 2013. É autor de vários livros, entre eles o bestseller "Esquerda Caviar". Foi colunista da revista Voto, dos jornais Valor Econômico, O Globo, Zero Hora, do site R7, e das revistas Veja e IstoÉ. É colunista da Gazeta do Povo, do ND, da revista Oeste e comentarista da Jovem Pan. É membro-fundador do Instituto Millenium. Foi o vencedor do Prêmio Libertas em 2009, no XXII Fórum da Liberdade.

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Essa é uma boa questão, porque muitos estavam com o Bolsonaro, em 2018, e muitos se decepcionaram com Bolsonaro até aqui. Problema é qual alternativa.

Imaginar que alguém da centro-esquerda, que vem flertando até com PT e PSOL, represente uma guinada no combate à corrupção é uma piada de mal gosto. Imagine que o Rodrigo Maia, ao lado desses tucanos todos, sejam nomes que representem um fortalecimento da Lava Jato, de novo também não convence ninguém. Então, a menos que seja o ex-juiz Sergio Moro, qualquer nome desses (João Doria, qualquer um) não vai convencer que combate a corrupção e o crime de colarinho branco. Imagine o Luciano Huck, que tem fotos com todos da Lava Jato, que foram réus ou condenados, tentando bancar o cara que vai ser firme no combate à corrupção. Ninguém vai acreditar.

O público da Lava Jato está um tanto órfão e eu acho que no final, no frigir dos ovos, vai concluir que o Bolsonaro – por não ter permitido, até aonde alcança a vista, os velhos esquemas de corrupção, ainda que tenha se aproximado do centrão por governabilidade e para se blindar do impeachment – é o melhor, por falta de opção.

THIAGO RAFAEL VIEIRA, presidente do Instituto Brasileiro de Direito e Religião, cronista da Gazeta do Povo, colunista em diversos sites e blogs evangélicos, advogado especializado em Direito Religioso, atendendo mais de 3 mil igrejas no Brasil. Membro da Igreja Batista Filadélfia em Canoas. Membro do sub-comitê da rede de apoio das entidades temáticas em Defesa e Promoção da Liberdade Religiosa da ALESP. Em 2019, foi um dos delegados do Brasil na Universidade de Brigham Young (Utah/EUA) no 26º Simpósio Anual de Direito Internacional e Religião, evento com mais de 60 países representados.

Não é novidade que parte dos votos depositados em Bolsonaro são oriundos dos defensores da pauta anticorrupção, os apoiadores da “lava-jato”, os quais têm em Sérgio Moro um de seus representantes. Acredito que se Moro conseguir ter viabilidade política para a corrida presidencial muitos dos apoiadores da lava-jato estarão com ele. Entretanto, em um cenário eleitoral sem a presença de Moro, não sei para “onde possam correr”. Atualmente não vejo outro nome que agregue tais apoiadores. Observemos o exemplo do Senador Álvaro Dias, representante de primeira hora da lava-jato, que recebeu uma votação inexpressiva e hoje tem apoiado diversas pautas do governo Bolsonaro. Certamente que boa parte dos apoiadores da lava-jato se sentem “traídos” por Bolsonaro, mas, na hora “H” votarão no PT? Creio que não, mas, é apenas uma crença.

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MÁRCIO COIMBRA, coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, Cientista Político, mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos (2007). Ex-Diretor da Apex-Brasil. Diretor-Executivo do Interlegis no Senado Federal. 

Certamente acompanham Moro caso decida ser candidato. Porém este é um contingente de eleitores muito importante que apostou em Bolsonaro em 2018 e se desiludiu por completo com sua agenda real depois de chegar ao poder. Existe uma rejeição enorme deste grupo ao Presidente, que somente herda parte destes votos em caso de um segundo turno entre Bolsonaro e o petismo. A tendência normal é que estes eleitores acompanhem o centro, seja representado João Doria, Eduardo Leite, ACM Neto ou mesmo Luiz Henrique Mandetta, nomes que circulam pelo tucanato e as hostes demistas. Entretanto, se um deles se desgarrar e cerrar fileiras ao lado de Luciano Huck, por exemplo, existe chance de migração do eleitorado lavajatista para esta nova frente.

O cenário ainda está aberto, mas alguns sinais estão bem definidos. Reconciliação do eleitor com a política, uma terceira via esperando por Moro e um nome desgarrar-se do sistema para compor uma chapa com ele ou Huck. Certamente estaremos diante de uma eleição muito disputada onde três frentes tem chances reais de vitória.

DENNYS GARCIA XAVIER, autor e tradutor de dezenas de livros, artigos e capítulos científicos, é professor de Filosofia Antiga, Política e Ética da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Professor do Programa de Pós-graduação em Direito (UFU) e diretor acadêmico da Pós-Graduação em Escola Austríaca do Instituto Mises Brasil (IMB). Possui graduação em Filosofia pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e mestrado em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP - Bolsista FAPESP). Pós- graduado em Administração Pública pela Universidade UNICESUMAR, tem doutorado em "Storia della Filosofia" pela "Università degli Studi di Macerata", pós-doutorado pela Universidade de Coimbra (Portugal) e pela PUC-SP

Ou migrarão para uma chapa de centro, que saiba dialogar com aqueles que votaram em Bolsonaro não por mérito do candidato, mas por terem buscado nele uma espécie de “anti-petismo” inspirado em forte e decisivo apoio a iniciativas anticorrupção (hoje evidentemente órfãos), ou continuarão com Bolsonaro, por não contarem com caminho alternativo. Dificilmente optariam por configuração política, digamos, mais à Esquerda, ainda fortemente marcada pelos sucessivos escândalos eviscerados pela operação.

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