Paulo Guedes, ministro da Economia, ao lado do presidente Jair Bolsonaro.| Foto: Carolina Antunes/PR
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Em menos de um mês, a equipe do ministro Paulo Guedes (Economia) teve que mudar o seu discurso sobre como combater os efeitos na economia causados pela pandemia do novo coronavírus. Eles abandonaram a ideia que bastaria a aprovação de reformas estruturais e mais R$ 4 bilhões ou R$ 5 bilhões e passaram a desenhar medidas emergenciais para socorrer empresas e ajudar os trabalhadores que tiverem perda de renda.

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As medidas já anunciadas pelo governo e bancos públicos somam R$ 750 bilhões, ou 2,6% do PIB, segundo cálculos do ministro Paulo Guedes. "Quando nós somamos, nós já chegamos a 2,6% do PIB nesse orçamento de guerra, no que se chamou de orçamento de guerra e que eu chamo de medidas emergenciais. Nós já chegamos a 2,6% do PIB em medidas emergenciais. Já tínhamos um deficit estrutural de 2,6% e já está em 5,2% do PIB", disse Guedes nesta terça-feira (31).

O valor é composto em grande parte de dinheiro "desbloqueado" para os bancos, isto é, a retirada de amarras por parte do Banco Central para permitir que as instituições financeiras emprestem bilhões de reais para pequenas, médias e grandes empresas.

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Também há medidas que adiantam despesas do governo, como a antecipação do pagamento do abono salarial e do 13º salário de aposentados e pensionistas do INSS, e outras que retardam receitas, como a suspensão do recolhimento do FGTS e dos tributos federais do Simples Nacional por três meses.

A medida mais significativa de injeção de dinheiro novo na economia anunciada até aqui é o pagamento de um auxílio de R$ 600 durante três meses para trabalhadores autônomos, informais e desempregados de baixa renda que não recebem outro auxílio do governo ou do INSS, com exceção do Bolsa Família. Segundo cálculos da Instituição Fiscal Independente (IFI), o auxílio custará R$ 59,8 bilhões durante os três meses aos cofres públicos e beneficiará 30,5 milhões de pessoas.

O governo também já destinou, através de uma medida provisória de abertura de crédito extraordinário, R$ 3,1 bilhões para o programa Bolsa Família. Com esse dinheiro novo, 1,2 milhão de pessoas que estão na fila poderão integrar o programa e passarão a receber o benefício.

O governo também está na iminência de anunciar um auxílio para os trabalhadores da iniciativa privada que tiverem seus salários reduzidos durante a crise. Quem tiver o salário suspenso, receberá seguro-desemprego. O programa deverá ter um custo de R$ 50 bilhões, segundo Guedes.

Outro anúncio esperado para abril é a liberação de uma nova rodada de saques do FGTS, tal qual a feita no ano passado, quando o governo possibilitou a retirada de até R$ 998 das contas ativas e inativas dos trabalhadores.

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“Tudo isso para defender a vida, a saúde e os empregos dos brasileiros. São dinheiros diferentes. Um é para dar liquidez para as empresas [as medidas de crédito], o outro é para complementar o salário das empresas que quiserem manter o emprego”, afirmou o ministro Paulo Guedes em vídeo divulgado por sua pasta na última sexta-feira (27).

“Não vão faltar recursos para defender as vidas, a saúde e o emprego dos brasileiros. Nenhum brasileiro vai ficar para trás”, completou, enfatizando que essa foi a determinação que recebeu do presidente Jair Bolsonaro.

Discurso antes era diferente: reformas e até R$ 5 bilhões

O discurso, há poucas semanas, era diferente. No começo da segunda semana de março, Guedes e Bolsonaro descartavam medidas emergenciais. Guedes, inclusive, afirmou a jornalistas que o melhor remédio para o país naquele momento seria a aprovação das reformas econômicas.

Ele chegou a encaminhar no dia 10 de março um ofício aos presidentes da Câmara e do Senado elencando 19 projetos prioritários para aprovação do Congresso. A lista incluía textos que nem sequer foram enviados pelo Executivo, como as reformas administrativa e tributária.

No dia seguinte, questionado por jornalistas se o governo iria mesmo focar apenas nas reformas, o secretário especial de Fazenda do ministério da Economia, Waldery Rodrigues, afirmou que a equipe estava monitorando as medidas que outros países vinham adotando para reduzir os efeitos econômicos do surto de coronavírus, mas ressaltou que a diretriz do ministro Paulo Guedes continuava sendo a defesa das reformas.

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"Nós já temos respostas positivas no curto prazo por termos avançado no zelo fiscal e essas propostas enviadas mudam estruturalmente a economia e podem abrir espaço fiscal já no curto prazo”, afirmou. “Nós perseguiremos com as reformas, que nos permitem que a gente dê respostas sólidas, não somente a essas crises, mas aos graves problemas estruturais da economia”, completou Waldery.

Em entrevista à revista "Veja", publicada no dia 13 de março, o ministro Paulo Guedes reafirmou que o melhor caminho para responder à crise provocada pelo coronavírus era a aprovação de reformas. E disse que R$ 4 bilhões ou R$ 5 bilhões seriam suficientes para “aniquilar o vírus”.

"Se promovermos as reformas, abriremos espaço para um ataque direto ao coronavírus. Com 3 bilhões, 4 bilhões ou 5 bilhões de reais a gente aniquila o coronavírus. Porque já existe bastante verba na saúde, o que precisaríamos seria de um extra. Mas sem espaço fiscal não dá", afirmou na entrevista à "Veja".

Primeiro pacote econômico

Somente no dia 16 que a equipe econômica mudou pela primeira vez o seu discurso: o ministro Paulo Guedes anunciou um pacote de até R$ 147,3 bilhões para reduzir os efeitos do coronavírus na economia. Foram anunciados até R$ 83,4 bilhões destinados para a população mais vulnerável (idosos, pensionistas e beneficiários de programas sociais), até R$ 59,4 bilhões para as empresas com o objetivo de garantir a manutenção de empregos e mais R$ 4,5 bilhões para o Sistema Único de Saúde (SUS).

Ainda assim, o ministro defendeu que os jovens e pessoas saudáveis continuassem trabalhando normalmente, mesmo com parte do mundo já adotando naquela época medidas restritivas de circulação de pessoas.

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“Não sou médico, mas os mais velhos devem ficar em casa, os mais jovens, com mais saúde, devem circular, vão trabalhar. Quem tem de falar é o Ministério da Saúde, mas, como economista, me parece mais interessante”, disse em coletiva de imprensa. “Se ficar todo mundo em casa [a economia] entra em colapso. Tem que haver o meio-termo”, completou.

Na mesma coletiva, o ministro disse que, em termos percentuais, o novo coronavírus “só” matou “5 mil pessoas” na China. “Os dados que me dão são impressionantes. Em um país de 1,5 bilhão de pessoas, dizem que morreram só 5 mil pessoas. Não sei as informações que saírem de lá são absolutamente confiáveis, mas é impressionante.”

Tom de Guedes mudou com o agravamento da pandemia

Com o agravamento da pandemia no Brasil e mundo afora, o governo mudou seu discurso. Foi decretado o estado de calamidade pública, que dispensou a União de cumprir a meta fiscal, evitando contingenciamento de recursos e permitindo mais gastos emergenciais. E o próprio ministro mudou o seu discurso e passou a defender o isolamento horizontal por um certo período de tempo.

"Eu mesmo, como economista, gostaria que pudéssemos manter a produção, voltar o mais rápido possível. Eu, como cidadão, seguindo o conhecimento do pessoal da Saúde, ao contrário, quero ficar em casa e fazer o isolamento”, afirmou o ministro no último domingo (29), durante uma videoconferência com representantes da Confederação Nacional dos Municípios (CNM).

"Para a saúde, aparentemente, você precisa desses dois ou três meses [de quarentena]. Então, nós estamos aí esticados, espremidos, porque mais de dois, três meses a economia não aguenta. Mas menos de dois, três meses, parece que a saúde também se precipita. Nós temos que estar atentos. Temos que ter respeito pela opinião dos dois lados. Vamos conversar sobre isso de uma forma construtiva", ponderou o ministro.

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Em coletiva no Palácio do Planalto nesta terça-feira (31), Guedes voltou a dizer que tem que haver sensibilidade entre a Economia e a Saúde para saber quanto tempo será necessário de isolamento. Ele destacou, também, que não faltará dinheiro para proteger a vida dos brasileiros.

"Entre tomarmos conhecimento da gravidade da crise, entre aquele momento quando o ministro Mandetta foi no Congresso e na Presidência [da República] e hoje, são três semanas ou quatro. Nós já injetamos 800 bi [R$ 750 bilhões, mais exatamente] para os próximos dois ou três meses, esse é um cinturão de defesa não só das empresas, da renda, mas da vida", explicou Guedes.