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O general Eduardo José Barbosa, presidente do Clube Militar, em seu gabinete.
O general Eduardo José Barbosa, presidente do Clube Militar, em seu gabinete.| Foto: Divulgação/Clube Militar

Em 132 anos de existência, o Clube Militar já passou por diversos momentos de glória. Mas há muitas décadas não se encontrava tão próximo do poder como desde que o capitão reformado Jair Bolsonaro chegou à presidência da República. O atual presidente da instituição, general da reserva Eduardo José Barbosa, foi colega de Bolsonaro na Academia das Agulhas Negras (Aman) na turma de 1977, e mantêm relações de amizade com os generais que estão em postos-chave do governo. O próprio vice-presidente da República, Hamilton Mourão, presidiu o clube até a sua posse.

Seis meses depois do início do mandato de Bolsonaro, o general Eduardo mantém a avaliação do governo em alta. Mas acredita que teria sido possível realizar mais se não fosse uma conjunção de fatores que tem prejudicado o trabalho de Bolsonaro:  os outros Poderes (Legislativo e Judiciário). “Vemos até com muita tristeza que eles procuram colocar muitos obstáculos que o impedem de implementar seu programa”, observa o general Eduardo, referindo-se ao Decreto das armas e ao Pacote Anticrime.

Além disso, o general Eduardo aponta os “problemas” que surgem no governo por causa das intervenções do filho de Bolsonaro, o vereador Carlos Bolsonaro. Ele exemplifica citando a recente crise em que Carlos criticou a segurança do Presidente após a prisão de um militar com 39 quilos de cocaína no avião reserva da Força Aérea Brasileira (FAB). Carlos – que já investiu e é tido como responsável pela demissão de outros ministros – atacou o chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, que, em sua opinião, falhou no comando da segurança presidencial. “Carlos é um garoto que às vezes ele age e fala no sentido de ajudar o pai dele. Mas no fundo quase está mais atrapalhando do que ajudando”, afirma o general Eduardo, nesta entrevista à Gazeta do Povo.

Como o senhor avalia estes primeiros seis meses do governo do presidente Jair Bolsonaro?

General Eduardo José Barbosa – Acho que ainda vivemos um momento de muita expectativa. O Brasil foi muito maltratado nesses últimos anos. Não vou falar de partido A ou B. Mas o que acompanhamos do dia a dia da população é muito triste. São pessoas morrendo nos hospitais, nossa educação obtendo os piores índices em todas as provas internacionais, nossa segurança caótica. Tenho 63 anos e gosto de lembrar da minha infância quando andávamos pela rua de madrugada, o muro de minha casa tinha um metro e meio de altura. Hoje em dia as casas têm cerca elétrica, grades. Andamos na rua sem termos certeza se voltamos para casa.  Por isso, entendemos que o país não se conserta em seis meses. É muita coisa para fazer. Como se diz no governo, eles estão desfazendo o que foi feito errado para depois pensar em fazer o que precisa ser feito.

Fala-se muito na participação dos militares no governo e ultimamente alguns dizem que os oficiais da ativa já não se sentem tão confortáveis como antigamente. O senhor acha que isso está acontecendo?

Tenho contato com o comandante do Exército, general Pujol, com o ministro da Defesa, general Fernando, e muitos outros. E o que tenho visto é uma perfeita harmonia entre esses personagens e até onde eu sei essa suposta divergência é mais uma conversa de alguma imprensa mal intencionada. Tanto na ativa quanto na reserva o que nós pensamos é no bem do Brasil. Podemos às vezes até ter caminhos diferentes. Mas as divergências são saudáveis.

O senhor não acha que a demissão do general Santos Cruz fomentou a ideia de que existiria esse desconforto?

Há muitos jornais que a gente sabe que eles têm esse viés contra o governo. No caso do Santos Cruz, tudo que foi dito sobre a saída dele, ele mesmo não confirmou. O presidente está seguindo a linha que traçou na campanha. A troca de algum auxiliar é normal.

Nesse caso, no entanto, teve outro componente que foram as críticas de Carlos Bolsonaro a Santos Cruz e que, dizem, foram decisivas na demissão. Agora Carlos tem criticado o ministro Augusto Heleno. O senhor teme que Heleno também acabe deixando o governo?

Carlos já criticou o Santos Cruz, Mourão (o vice-presidente Hamilton Mourão) e agora o Heleno. Carlos é um garoto que às vezes age e fala no sentido de ajudar o pai. Mas no fundo quase está mais atrapalhando do que ajudando. Aí já entra aquele Olavo (o astrólogo e filósofo Olavo de Carvalho) e põe mais lenha na fogueira. O que Carlos não percebe é que quando faz isso, o pai em vez de pensar nos grandes problemas do Brasil tem que perder tempo se envolvendo nessas intrigas.

No caso da cocaína, houve alguma falha na segurança ou não?

Na segurança do presidente, que é atribuição do GSI, não. Mas no episódio, é evidente. Brasília, até onde se sabe, não produz cocaína. Então com certeza tem outros envolvidos que podem ou não ser da Força Aérea. O general Heleno sabe que alguma coisa no GSI tem que ser ajustada. É perfeitamente normal que isso ocorra. Com certeza todo esse pessoal que estava nessas equipes vai ter que ser checado novamente.  O GSI talvez entendesse que eram elementos de confiança. Agora vai trabalhar nisso. A grande diferença é que quando no nosso meio alguém é pego, a pessoa é punida. A gente não passa a mão na cabeça de ninguém porque acima de tudo está nossa instituição.

O senhor acha que esse episódio seria suficiente para afastar o Ministro do cargo, como parece sugerir Carlos Bolsonaro em publicações no twitter?

Não tenho bola de cristal e não estou nos bastidores de Brasília. Mas acho que Heleno, saindo ou não, ficando ou não, terá sempre a total confiança do presidente. Se Bolsonaro por acaso tirar o Heleno, na minha opinião, ele vai estar perdendo. Vai tirar do lado dele alguém que está ali só para ajudá-lo e que é de total confiança. A presença de Heleno, a capacidade, a desenvoltura, a capacidade de relacionamento excepcional dá tranquilidade ao presidente. Querer tirá-lo só por causa dessa intriga será prejudicial.  Mas isso quem decide é a cabeça do presidente porque  a gente sabe que filho é filho.

O senhor acha que o governo está entregando o que prometeu na campanha?

O governo tem procurado atender aos anseios da população que o elegeu e tem buscado cumprir suas promessas de campanha, corrigindo o rumo de alguns setores. Mas vemos até com muita tristeza que eles [Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal] procuram colocar muitos obstáculos que o impedem de implementar seu programa. Aqueles que se dizem representantes do povo no Congresso Nacional e também os que estão no Judiciário.

 O senhor não acha que o Congresso está colaborando, nesta semana deve votar o primeiro turno da emenda da Reforma da Previdência [a entrevista foi realizada no dia 4 de julho, antes da aprovação da proposta em primeiro turno pela Câmara]....

Acho que nesse ponto, da Nova Previdência, sim. Mas parece que muitas vezes não há essa vontade política de resolver as coisas. Foi uma boa surpresa o fato de termos essa oportunidade de votar a Previdência antes do recesso. Será uma grande vitória se conseguirmos aprovar na Câmara dos Deputados. O Brasil agradece.

Nos últimos dias, muitos disseram que o próprio presidente Bolsonaro acabou atrapalhando ao pedir um tratamento diferenciado para policiais militares...

É claro que qualquer coisa que o presidente Bolsonaro fizer – ele pediu aí para atrasar um dia ou dois – vão dizer que tudo está atrasado por culpa dele. Isso tudo já poderia ser resolvido há muito mais tempo. Mas são coisas protelatórias dos próprios congressistas. Ainda estão discutindo se os Estados entram... Ora, eu fico imaginando aqui, como é que se pode, por exemplo, aprovar uma nova previdência valendo para o governo federal e deixar os Estados de fora? Fico imaginando como um Estado que está quebrado vai depois pedir dinheiro para o governo federal? O governo está fazendo seu dever de casa, saneando suas contas e depois vai socorrer um Estado porque o governador não quer que a casa seja arrumada? É um absurdo que a gente não consegue entender.

Em quais casos específicos o senhor diz que o Congresso está atrapalhando?

Temos aí o pacote anticrime que eles estão mudando porque dizem, entre outras coisas, que a população carcerária é muito grande e que ninguém mais pode ir preso e isso e aquilo. Nós temos é que garantir o direto de ir e vir dos cidadãos de bem. Os que roubaram, mataram, têm que ficar presos. É uma vergonha para o Brasil ter um ex-presidente preso (Luiz Inácio Lula da Silva). E já tivemos dois porque o Temer (Michel Temer) também passou uns dias na cadeia e só está solto por causa dos recursos e da Justiça. Mas eles têm que estar presos e aqui deveria ser como na Coreia do Sul, onde a presidente foi condenada por corrupção e saiu do tribunal, algemada e direto para o presídio. Não importa que seja ex-presidente. Nós achamos que essas mordomias do ex-presidente Lula em Curitiba são completamente infundadas. Um governante quando rouba como ele roubou? Como pode? As pessoas estão morrendo por conta disso. Chega no hospital e não tem medicamento e onde está o dinheiro desse medicamento? Está nas contas deles no exterior, nas joias que roubavam.  Esses governantes que roubavam de toda a população são muito piores que ladrões que batem carteira na rua. Por que eles roubaram de milhões de pessoas ao mesmo tempo.

O que o senhor acha das suspeitas que vêm sendo levantadas contra o ministro da Justiça, Sérgio Moro, por esses supostos diálogos que têm sido revelados pelo jornal The Intercept?

Moro merece todo nosso respeito. As manifestações favoráveis a ele foram pequenas diante do que merece. Instituições jurídicas mundo afora tem dito que a Lava Jato é um exemplo para o mundo. É claro que o juiz Sérgio Moro sozinho não fez isso. Foi feito com sua equipe. Mas ele não pode ser julgado por nada do que tenha feito na Lava Jato. Como ele tem dito nas audiências no Congresso, ele não poderia ter feito outra coisa. Tanto é que nestes casos a Promotoria tem pedido a prisão por que há elementos mais do que suficientes para condenar os réus. Como aqui no Rio com o juiz Marcelo Bretas. Aqui temos dois ex-governadores presos, ex-presidentes do Tribunal de Contas do Estado, da Assembleia Legislativa.. Foi uma festa aqui.

Os diálogos, em sua opinião, não são verdadeiros?

Essas matérias são ilegais e o próprio Intercept já reconheceu que deturpou conversas e colocou nomes de procuradores que não tinham nada a ver com isso. Então, o que se vê é que o único objetivo disso é libertar o ex-presidente Lula. Só que tem não mais como dizer que Lula é inocente. Só quem acredita é esse pessoal aí que é radical e cego e fica dizendo que ele é inocente. Mas essas matérias foram um tiro no pé. Porque a credibilidade do Intercept é zero.  E essa divulgação, além de ser ilegal, mostra conversas que no entender de todos no meio, e eu já fui juiz da Justiça Militar, são comuns. Juiz fala com advogado, com promotor. É perfeitamente normal. Nunca vi nada demais nisso. Cabe ao juiz, sim, pedir mais diligências quando precisa de outros elementos para trabalhar no processo. Eu diria que essas reportagens são atitudes desesperadas de um grupo, e a gente sabe que esse jornalista é ligado a um grupo, a um partido radicalmente contra o governo e radicalmente a favor do ex-presidente Lula. Não temos dúvidas de que o objetivo foi tentar denegrir todo o trabalho da Lava Jato, confirmado até na terceira instância.

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