O PT abriu na última sexta-feira (19) a sétima edição de seu congresso. O lançamento foi a primeira etapa de um longo processo cujo auge ocorrerá em 24 de novembro, quando a sigla escolherá sua nova direção nacional. A eleição poderá marcar o fim da gestão da deputada Gleisi Hoffmann (PR) no comando da legenda, ou a reeleição da presidente para um novo mandato de dois anos.
Líderes petistas evitam falar em candidaturas. Duas correntes, entretanto, têm ganhado força no partido. Uma é a da recondução de Gleisi. A outra é a da indicação de Fernando Haddad para a presidência nacional da legenda. Ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo, Haddad comandaria o PT credenciado pelo seu desempenho na eleição presidencial de 2018, quando foi ao segundo turno contra Jair Bolsonaro (PSL) e recebeu mais de 47 milhões de votos.
Uma terceira vertente, mais em alta no primeiro semestre, defende que o presidente do PT seja um político do Nordeste, região em que o partido registra seu melhor desempenho eleitoral. Até hoje, o partido não teve nenhum presidente de vínculo político específico com a região – o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-deputado José Genoino, que comandaram o PT nacional, são nascidos no Nordeste, mas originaram suas carreiras políticas em São Paulo.
"Para o PT, o processo eleitoral é muito importante. Dá uma boa dinâmica e garante mobilização dos filiados. Mas o debate sobre as candidaturas à presidência ainda está em curso. Há vários quadros que teriam condições de presidir o partido", diz o deputado federal Jorge Solla (PT-BA).
"Haddad lá"
Um dirigente petista, porém, foge da cautela na hora de apontar o nome que gostaria de ver na presidência nacional da legenda. Para o presidente do PT do estado do Rio de Janeiro, Haddad é quem tem mais credenciais para o cargo.
"Nós precisamos oferecer uma alternativa ao país, e o Haddad é quem mais pode fazer isso. Ele é quem tem mais condições de dialogar com diferentes grupos, diferentes segmentos da sociedade", afirma Washington Quaquá, ex-prefeito de Maricá (RJ), que foi candidato a deputado federal em 2018.
Haddad, no momento, não fala abertamente sobre o interesse de concorrer ao comando do PT. O ex-presidenciável está sem mandato público desde 2016, quando perdeu para João Doria (PSDB) a reeleição à prefeitura de São Paulo. Recentemente, o petista negou a intenção de voltar a disputar o posto de prefeito em 2020. O fato é visto como positivo por alguns petistas – para eles, Haddad teria mais disponibilidade para administrar o partido do que outros petistas.
Além de ser um nome forte para presidir o PT, Haddad é também visto no partido como um candidato natural à sucessão de Bolsonaro. Ele chegou a ser saudado como "futuro presidente do Brasil" durante a abertura do congresso, o que despertou críticas de petistas que defendem que a legenda deve manter o nome de Lula como seu presidenciável.
"Ele é um bom nome, cacifado pela votação que teve na eleição presidencial. Mas precisamos ver se ele quer, se o sentimento do partido é o de ter um nome como o dele. Outras coisas também têm que ser avaliadas, como a de identificar qual nome é mais capaz de manter o PT unido", afirma o líder do partido no Senado, Humberto Costa (PE).
O senador é também apontado como nome para presidir o PT, principalmente se o partido optar por privilegiar um nome do Nordeste. O deputado José Guimarães (CE) é outro mencionado, na mesma vertente. Costa desconversa: "por enquanto, ainda não há nada. Eu mesmo não estou em nenhuma combinação, não apresentei meu nome até o momento".
Gleisi, entre defeitos e virtudes
Washington Quaquá aponta que, se Haddad optar por não se candidatar e Gleisi se apresentar para a reeleição, a paranaense terá seu apoio. Humberto Costa avalia que a deputada "faz uma excelente gestão" no comando do partido.
O senador por Pernambuco coloca, entretanto, que um desafio que o PT precisa superar nos próximos anos é o de "não falar apenas para o terço da sociedade que já vota no PT". "Precisamos de uma direção que possa falar para uma camada melhor de pessoas. A nossa preocupação, nos últimos anos, foi a de manter um público mais fiel, mais organizado em torno do partido. E a avaliação que faço é que hoje precisamos seguir um caminho para ampliar nossa base", avalia.
O trabalho de Gleisi na presidência do PT dividiu membros do partido e gerou questionamentos da imprensa e de outras lideranças políticas. Um ato que motivou contestações foi a demora do partido em reconhecer que Lula não teria condições de ser candidato à Presidência em 2018. Haddad foi confirmado como candidato presidencial apenas em 11 de setembro, menos de um mês antes da realização do primeiro turno, e quando Lula já tinha mais de quatro meses na prisão. A deputada foi também criticada por não comparecer à posse de Bolsonaro e por manter o apoio do PT ao regime de Nicolás Maduro na Venezuela, que atualmente é contestado, cada vez mais, por lideranças de esquerda.
Gleisi chegou à presidência do PT em junho de 2017. A deputada foi eleita após disputa com Lindbergh Farias (RJ), que à época era seu colega de Senado. O apoio de Lula foi imprescindível para que Gleisi vencesse a eleição. Com a vitória, ela se tornou a primeira mulher a presidir o PT.
Eleição indireta e com cotas
A eleição para a presidência do PT seguirá o modelo aplicado em 2017, quando a votação foi feita por delegados que participaram da última etapa do Congresso Nacional do partido.
Até 2013, o PT escolhia seu presidente nacional por meio de eleições diretas entre seus militantes, no sistema de cada filiado correspondendo a um voto. O Processo de Eleições Diretas (PED) foi historicamente tratado como uma das principais bandeiras do partido, por, de acordo com seus militantes, representar a democratização da maior escolha partidária. No entanto, o PED passou a ser contestado por petistas por conta de suspeitas de fraudes detectadas em anos anteriores.
O partido também vai manter o sistema de cotas para a formação das chapas e da composição definitiva de sua Executiva Nacional. O estatuto da legenda determina que a direção nacional deve ser composta por número igual de homens e mulheres. Além disso, há a aplicação de uma "cota étnico-racial e de juventude". Para ser considerado representante da "juventude", o filiado precisa ter nascido depois de 8 de setembro de 1989.
-
Censura clandestina praticada pelo TSE, se confirmada, é motivo para impeachment
-
“Ações censórias e abusivas da Suprema Corte devem chegar ao conhecimento da sociedade”, defendem especialistas
-
Elon Musk diz que Alexandre de Moraes interferiu nas eleições; acompanhe o Sem Rodeios
-
“Para Lula, indígena só serve se estiver segregado e isolado”, dispara deputada Silvia Waiãpi
Ampliação de energia é o maior atrativo da privatização da Emae, avalia governo Tarcísio
Ex-desembargador afirma que Brasil pode “se transformar num narcoestado”
Contra “sentença” de precariedade, estados do Sul buscam protagonismo em negociação sobre ferrovia
Câmara de São Paulo aprova privatização da Sabesp com apoio da base aliada de Nunes
Deixe sua opinião