O presidente Jair Bolsonaro cumprimenta Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia: país asiático no foco do Brasil em 2020.| Foto: AFP

O presidente Jair Bolsonaro repetiu antes e depois da posse que faria comércio com todos os países do mundo, sem viés ideológico. Diversificar os parceiros comerciais, deixando de lado o foco exclusivo em aliados geopolíticos, tornou-se uma promessa de sua política externa. Em 2020, Índia e África vão estar entre as prioridades do Itamaraty.

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A Índia será o primeiro país a receber Bolsonaro no ano de 2020, em janeiro. Durante a Cúpula do Brics de Brasília, em novembro, o brasileiro teve sua primeira reunião bilateral com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi. O foco do encontro foi um aumento na cooperação dos países nas áreas de biocombustível e ciência e tecnologia.

Não houve assinatura de atos na ocasião, mas Bolsonaro confirmou que iria à Índia em janeiro, e ficou subentendido que um aprofundamento nas relações ocorreria nessa segunda reunião. Modi também se mostrou interessado em uma parceria no setor agrícola e em aproximar os setores privados de Brasil e Índia.

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Em entrevista à Gazeta do Povo, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, disse que “a Índia está dando atenção enorme ao Brasil, e nós, à Índia”. “É um momento de mudar o patamar da relação com a Índia”, afirmou.

Em novembro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, já tinha feito afirmação na mesma linha. Comparou o total de transações comerciais entre Brasil e China, próximo dos US$ 100 bilhões anuais, com a parceria com os indianos, que somou apenas US$ 4 bilhões em 2018. Segundo ele, há grande possibilidade de expansão das transações comerciais com os indianos.

A Índia é o segundo país mais populoso do mundo, com 1,3 bilhão de habitantes, atrás apenas da China. E sua economia é a sétima maior do mundo, segundo o Banco Mundial.

Por que o Brasil está interessado na África

O governo brasileiro também tem especial interesse em aumentar as parcerias com países da África Ocidental – especialmente nas áreas de segurança, defesa, investimentos e intercâmbio comercial.

Esse foi o grande foco de uma visita que Ernesto Araújo fez ao continente africano no início de dezembro. Em 9 de dezembro, o ministro entregou um convite do presidente Jair Bolsonaro a Macky Sall, presidente do Senegal, para uma visita ao Brasil em 2020. Araújo também preparou terreno para uma eventual visita de Bolsonaro à África em 2020. Além disso, o vice-presidente, Hamilton Mourão, já tem programada uma visita à Nigéria em março de 2020.

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Segundo Kenneth da Nóbrega, secretário do Itamaraty para negociações bilaterais no Oriente Médio, Europa e África, o Brasil tem especial preocupação com as condições de segurança nos países africanos do Atlântico Sul porque, por lá, “transitam cerca de 95% dos navios que levam exportações brasileiras”.

“Houve um grande aumento de crimes de pirataria, roubos de carga, roubo de combustível… Ocorrências sobretudo concentradas no Golfo da Guiné”, diz o secretário. “A Marinha do Brasil, hoje em dia, identifica a criminalidade no Golfo da Guiné como uma das principais ameaças ao nosso chamado entorno estratégico.”

Outro motivo da preocupação, de acordo com Nóbrega, é o avanço do jihadismo na região. Ele afirma que a atuação dos jihadistas já está “chegando quase às costas da África Ocidental” e que o foco do Brasil em ajudar a resolver essa questão não será imediato, mas que isso isso deverá se tornar uma preocupação a médio prazo.

O governo Bolsonaro, segundo ele, quer “reativar a diplomacia brasileira em matéria de segurança para o Atlântico Sul”. “O Brasil, nos últimos governos, renegou esse vetor da diplomacia. A ideia é conversar com a Cedeao [Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental] sobre a reativação da cooperação em matéria de defesa e segurança”, diz ele. O plano é retomar a cooperação que o Brasil tinha com os países da área antes de o PT assumir a Presidência.

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O Brasil deseja se tornar membro do grupo G7 + Amigos do Golfo da Guiné – formado pelos países do G7 (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, Itália, Japão, Reino Unido e França) e por parceiros políticos do Golfo da Guiné. O grupo se reúne periodicamente para discutir a segurança e a estabilidade dessa região.

Périplo inclui Cabo Verde, Senegal, Nigéria e Angola

No início de dezembro, o ministro Ernesto Araújo começou a viagem à África por Cabo Verde, onde se reuniu com o primeiro-ministro Ulisses Correia e Silva. Em seguida, partiu para o Senegal, onde teve um encontro com o presidente Macky Sall.

Na Nigéria, Araújo teve encontro com representantes da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao) e com altos dirigentes do país. Um dos objetivos do Brasil era oferecer seus produtos de defesa.

Por fim, Ernesto Araújo visitou Angola para assinar alguns atos bilaterais, dentre os quais na área se segurança pública e para eliminar a dupla tributação (isto é, a incidência de impostos semelhantes para uma mesma empresa nos dois países) para serviços aéreos. Em Angola, o Brasil também promoveu produtos do país na área de defesa.

Índia e África: Brasil está de olho no crescimento

O interesse do Brasil por países da Ásia e da África não são casuais. O governo não quer deixar de aproveitar a onda de crescimento econômico e demográfico dos dois continentes.

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“A gente sabe que a África e e a Ásia são os continentes cujas economias mais crescem no mundo hoje em dia. Seis das dez economias que mais crescem e que mais cresceram neste ano, segundo o Banco Mundial, são africanas”, ressalta Kenneth da Nóbrega.

Em 2018, as transações comerciais entre o Brasil e todo o continente africano ficaram em US$ 14,7 bilhões, segundo o Itamaraty. Nigéria e Angola, dois países que foram incluídos na viagem de Araújo, são respectivamente o quarto e o quinto países africanos com maior intercâmbio comercial com o Brasil.

“Além de alguns países da África estarem crescendo muito, há uma projeção de expansão da população africana e um processo de urbanização acelerado que vai criar demanda por infraestrutura”, diz Nóbrega. “Isso oferece oportunidades para empresas brasileiras que são competitivas na área de construção civil, por exemplo, ou em agribusiness.”