Representantes do Alto-Comando do Exército participam de cerimônia de promoção de oficiais-generais, em agosto deste ano| Foto: Antônio Oliveira/Ministério da Defesa
Ouça este conteúdo

A internação do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a retirada de uma lesão na laringe adiou a definição dos integrantes dos grupos de trabalho que ficarão responsáveis por discutir as pautas de defesa nacional e inteligência pelo governo de transição. A expectativa era de que o anúncio fosse feito nesta segunda-feira (21).

CARREGANDO :)

"O presidente fez uma pequena intervenção cirúrgica, ficou para amanhã [terça, 22]", declarou o ex-ministro Aloizio Mercadante, coordenador dos grupos técnicos do gabinete de transição, ao jornal O Estado de S. Paulo. Segundo interlocutores do presidente eleito, é possível, porém, que ele desembarque em Brasília apenas na noite de terça-feira (22) ou na quarta-feira (23).

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
Publicidade

A definição dos nomes dos grupos de trabalho é tratada como prioridade entre alguns aliados e membros da transição que veem a escolha dos integrantes como uma importante sinalização sobre quem serão os responsáveis pelo diálogo com as Forças Armadas.

Aliados e conselheiros de Lula alertam para a importância de quebrar resistências entre militares e pacificar o atual ambiente político do país. Sem a indicação dos nomes, fica mais difícil ampliar as vias de diálogo na caserna. Além disso, o governo eleito está tendo dificuldades em convencer a própria cúpula militar a avançar as discussões.

Na última quinta-feira (17), por exemplo, Mercadante negou dificuldades ou atraso para definir a composição dos grupos de trabalho, mas admitiu que há um "problema institucional" relacionado às Forças Armadas.

À Gazeta do Povo, militares da ativa e até mesmo da reserva confirmam reservadamente as resistências internas em relação ao governo eleito, o que causa entraves e desafios em buscar mais celeridade e um diálogo profícuo com as instituições.

Os cotados para compor o núcleo de Defesa no governo de transição

Lula está a par do clima na caserna. A presença do presidente eleito nas reuniões desta semana em Brasília é considerada imprescindível, pois será dele a palavra final neste tema sensível para o governo de transição. Há, inclusive, especulações de que a indicação do futuro ministro da Defesa possa sair das listas dos grupos de trabalho.

Publicidade

Segundo interlocutores, devem compor o grupo de trabalho da Defesa o senador Jaques Wagner (PT-BA), ex-ministro da Defesa, e a deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC), ex-presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara e ex-secretária de Produtos de Defesa da pasta.

Os ex-ministros da Defesa Aldo Rebelo e Nelson Jobim também são apontados como integrantes que devem compor o grupo de trabalho da Defesa no governo de transição. O general da reserva Gonçalves Dias, ex-chefe da segurança pessoal de Lula nos dois mandatos em que foi presidente e também na campanha deste ano, é outro que pode integrar esse núcleo temático da transição.

Parte desses integrantes já dialoga com militares, a exemplo de Wagner. Amigo pessoal de Lula, ele assegura nos bastidores que o intuito é auxiliar o presidente eleito a construir bases políticas e institucionais, inclusive com as Forças Armadas, mas diz que não reivindica cargos na equipe ministerial.

A despeito de alguns apelos para a definição dos grupos de trabalho, Lula minimizou o desafio em definir os integrantes e disse nunca ter tido problema "com o que os militares falaram em oito anos de governo". "Então, eu não me preocupo com o que está falando o general [Walter] Braga Netto", disse Lula na sexta-feira (18). Naquele mesmo dia, Braga Netto (PL), que concorreu como vice na chapa de Bolsonaro, tinha dito para os apoiadores do presidente não perderem a fé. "É só o que eu posso falar para vocês agora", disse o militar.

Já Mercadante defendeu uma "composição adequada" para gerar resultados "naquilo que a gente espera para a área da Defesa". Antes, disse que é possível haver "algumas questões pontuais" em relação às Forças Armadas. "Tem um problema institucional, o lugar das Forças Armadas, a relação com a Constituição, mas isso não é propriamente um tema do grupo de trabalho. Eu acho que não tem nenhuma dificuldade e nós faremos uma boa solução", afirmou na semana passada.

Publicidade

Resistência dos militares passa pela desconfiança nas urnas

Um dos motivos de resistência interna nas Forças Armadas em um diálogo com o governo Lula é a desconfiança no resultado da eleição. Muitos dos próprios oficiais e até oficiais generais acreditam na hipótese de fraude eleitoral e não estão dispostos a reconhecer Lula como presidente, segundo disseram à Gazeta do Povo interlocutores das Forças Armadas.

O ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, definiu o secretário-geral da pasta, general Sérgio José Pereira, como o interlocutor que dialogará com a equipe de transição de Lula. O critério foi escolhido por motivos técnicos, dada a experiência e formação na área administrativa e de relações institucionais.

Porém, militares sustentam que não há vontade e interesse do ministro e do Alto Comando das Forças Armadas em simplificar a relação e assegurar um alinhamento automático com o governo eleito, em especial o Exército. Na caserna, é dito que não há "pressa" em agilizar as discussões sobre as escolhas dos futuros comandantes, como acenam interlocutores do gabinete de transição.