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Bolsonaro e ministros durante cerimônia de hasteamento da bandeira nacional: presidente surpreendeu ao anunciar recriação do Ministério das Comunicações.
Bolsonaro e ministros durante cerimônia de hasteamento da bandeira nacional: presidente surpreendeu ao anunciar recriação do Ministério das Comunicações.| Foto: Marcos Corrêa/PR

Ao recriar o Ministério das Comunicações, o presidente Jair Bolsonaro tinha um objetivo: resolver o que ele considera ser um "gargalo" em seu governo, a comunicação social. Mais do que atuar nas políticas para o setor de radiodifusão, atribuição de um ministro dessa área, o presidente quer que o deputado federal Fábio Faria (PSD-RN) ajude a melhorar a imagem do governo. "Vamos tentar melhorar as comunicações do governo" declarou o presidente em transmissão ao vivo na internet na quinta-feira (11).

O Ministério das Comunicações sempre foi considerado estratégico pelos governos. Desde o período militar, quando o setor de telecomunicações cresceu muito, a pasta já foi comandada por nomes poderosos da República como coronel Euclides Quandt de Oliveira, no governo Ernesto Geisel, e Antônio Carlos Magalhães e Sérgio Mota, nas gestões de José Sarney e Fernando Henrique Cardoso.

Muito além de responder pela mídia institucional do governo, a área que foi ministério até o final da gestão de Michel Temer foi marcada por ser uma simbiose entre o Planalto, o Congresso e o setor privado de radiodifusão. Entre as atribuições que a empoderam está a de distribuir concessões, outorgas e regulação do setor.

Tradicionalmente, o responsável pela comunicação social é o chefe da secretaria de comunicação (Secom), e não o ministro das Comunicações. Até agora, Bolsonaro teve dois secretários, mas ambos atuavam sob a sombra do "gabinete do ódio" e dos generais que ocupam a maioria dos cargos no Palácio do Planalto e tentavam controlar essa área também, que tem como missão divulgar os feitos do governo.

A queda de braço fez com que a comunicação do governo ficasse limitada à atuação do "gabinete do ódio" nas redes sociais. O grupo comandado pelo vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) filho do presidente, age de forma a atacar ferozmente qualquer adversário do governo, deixando em segundo plano a divulgação sobre as ações dos ministérios.

A mudança, no entanto, não deve mexer com a estrutura do grupo que é ligado diretamente ao gabinete presidencial. Nem mesmo representa uma derrota para o time de Carlos, atualmente alvejado por um inquérito do Supremo Tribunal Federal e pela CPI das Fake News. O movimento foi mesmo um baque para a ala militar. A Secom era subordinada ao general Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria de Governo.

A troca ocorreu após o chefe da Secom e secretário executivo da nova pasta, Fábio Wajgarten, ser "esvaziado" pelo ministro da Casa Civil, general Walter Braga Netto, que montou uma estrutura de comunicação paralela, com militares na função de produzir vídeos, divulgar releases e coordenar entrevistas principalmente sobre o enfrentamento do coronavírus, mas também de outras ações do governo.

Com o rearranjo, pelos menos dois generais deverão perder seus postos: o porta-voz da Presidência, general Otávio Rêgo Barros, e o presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), também general Luiz Carlos Pereira Gomes.

Criticado pelo possível aumento de custos com o novo ministério, Bolsonaro garantiu na live de quinta que não haverá despesas. "Não houve aumento de despesas. Zero. Nenhum cargo foi criado. Você pode falar: criou cargo, tem o salário do ministro. Bem, o Fábio Farias pode optar entre receber o salário de deputado ou abrir mão e receber o de ministro", disse.

Genro de Silvio Santos vai comandar as Comunicações

Ainda na madrugada de quinta em entrevista à imprensa, Bolsonaro explicou a mudança: "Ele (Fabio Faria) não é profissional do setor, mas tem conhecimento até pela vida que tem junto a família do Silvio Santos. A intenção é botar o ministério pra funcionar nessa área que estamos devendo há muito tempo uma melhor informação." Faria é casado com Patrícia Abravanel, filha do empresário Silvio Santos, dono do SBT. Ele também já foi dono de uma rádio no Rio Grande do Norte, mas se afastou ainda em 2013.

Durante a campanha, Bolsonaro dizia que queria ter um governo com 15 ministérios. Ao recriar o seu 23º ministério, disse que "exagerou" ao fazer essa promessa. "Algumas coisas nós exageramos até na questão dos ministérios", disse observando que 15 pastas é pouco para um país continental.

A escolha de Faria para o cargo foi interpretada como mais um gesto de aproximação do presidente com o Centrão, que assume seu primeiro ministério no governo Bolsonaro. O PSD comandava a pasta das Comunicações no governo Michel Temer com Gilberto Kassab. O grupo nega que a indicação signifique a entrada no primeiro escalão do governo.

"Nós não temos nada, pessoal está atacando, Centrão. Eu nem lembro qual o partido dele. É um deputado federal. Não teve acordo com ninguém. A aceitação foi excepcional, uma pessoa que sabe se relacionar e acho que vai dar conta do recado", elogiou o presidente.

Ex-aliados de Bolsonaro veem traição à retórica da campanha

Ex-aliados do presidente Jair Bolsonaro criticaram a recriação do Ministério das Comunicações e a indicação do deputado Fábio Faria para encabeçar a pasta. Pelas redes sociais, antigos apoiadores do presidente — como a deputada estadual Janaína Paschoal (PSL-SP) e o ex-ministro Sergio Moro — viram contradição de Bolsonaro com suas promessas de campanha.

"Foi para isso que eu apoiei esse presidente? Foi para isso que fomos às ruas para derrubar Dilma?", escreveu Janaína em seu Twitter. "Bolsonaro se ilude, pensando que esse pessoal do Centrão vai blindá-lo. Melhor seria ficar fiel aos princípios que defendeu na campanha eleitoral! Dilma chegou a ter mais de 30 ministérios. Fosse fiel ao que prometeu, estaria muito mais forte. É triste!"

Sem comentar a escolha do nome para comandar a pasta, o ex-ministro Moro criticou a criação de mais um ministério. O ex-juiz federal chamou a pasta das Comunicações de "Ministério da Propaganda". "Recriado o Ministério da Propaganda. Quais serão os próximos?", escreveu.

O deputado federal Júnior Bozzella (PSL-SP) lembrou a promessa de campanha do presidente de reduzir o número de pastas do Executivo federal. "Mais um dos tantos atos que comprovam que Jair Bolsonaro se utilizou de um discurso em campanha. Na prática é o oposto. Recria ministérios e loteia cargos. Nunca foi um reformista. Nem um homem de palavra", escreveu em seu Twitter.

Rompida com o governo e alvo constante de críticas do presidente e de seus filhos, Joice Hasselmann (PSL-SP) também criticou o presidente e a escolha do novo ministro. Em uma série de tuítes, a deputada disse que Bolsonaro faz "aparelhamento" com emissoras de televisão simpáticas ao seu governo.

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