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Censura ao X

Moraes determina multa de R$ 50 mil por dia para quem usar o X via VPN

Moraes proíbe uso de VPN para acessar X sob pena de multa de R$ 50 miL. (Foto: SCO/STF)

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Além da suspensão da rede social X no Brasil, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou uma multa de R$ 50 mil por dia para quem usar a plataforma enquanto ela estiver bloqueada no Brasil. A medida se aplica, por exemplo, para quem acessar o X por meio de VPN. A decisão vem sendo criticada no ambiente jurídico e político como uma "medida autoritária".

O VPN é um dispositivo utilizado em outros países para driblar censura e vigilância, que conecta o computador ou aparelho celular do usuário a um provedor fora do país em uma espécie de rede à parte.

Na avaliação do advogado Giuliano Miotto, presidente do Instituto Liberdade, a decisão de Moraes é "completamente desarrazoada" e "coloca o Brasil no time de países como o Irã, China, Venezuela, Coreia do Norte e Rússia".

"É uma decisão que pune milhões de usuários da rede X, simplesmente por causa da vaidade do Ministro em impor suas ordens ilegais e inconstitucionais de suspender perfis, estabelecendo verdadeira censura prévia, muitas vezes a usuários que sequer têm Foro privilegiado ou estejam sob investigação", disse Miotto à Gazeta do Povo.

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O advogado também considerou "aloprado" o valor da multa em R$ 50 mil para aqueles "que resolverem utilizar serviços de VPN para terem o seu direito constitucional de livre expressão assegurado".

De acordo com a decisão de Moraes, a aplicação da multa será feita a pessoas físicas e jurídicas "que incorrerem em condutas no sentido de utilização de subterfúgios tecnológicos para continuidade das comunicações ocorridas pelo “X”, tal como o uso de VPN (‘virtual private network’), sem prejuízo das demais sanções civis e criminais, na forma da lei".

Além da multa para quem usar o VPN, Moraes também havia determinado que a Apple e o Google "insiram obstáculos tecnológicos capazes de inviabilizar a utilização do aplicativo “X” pelos usuários do sistema IOS (APPLE) e ANDROID (GOOGLE) e retirem o aplicativo "X” das lojas APPLE STORE e GOOGLE PLAY STORE e, da mesma forma, em relação aos aplicativos que possibilitam o uso de VPN (‘virtual private network’), tais como, exemplificativamente: Proton VPN, Express VPN, NordVPN, Surfshark,
TOTALVPN, Atlas VPN, Bitdefender VPN".

No entanto, após críticas sobre a determinação imposta ao Google e a Apple, o ministro voltou atrás desse trecho e manteve apenas a multa para pessoas físicas e jurídicas que acessarem o X via VPN. Ele decidiu suspender a retirada dos aplicativos de VPN "até que haja manifestação das partes nos autos, evitando eventuais transtornos desnecessários e reversíveis à terceiras empresas".

Moraes ainda reforçou os "reiterados, conscientes e voluntários descumprimentos das ordens judiciais e inadimplemento das multas diárias aplicadas, além da tentativa de não se submeter ao ordenamento jurídico e Poder Judiciário brasileiros, para instituir um ambiente de total impunidade e “terra sem lei” nas redes sociais brasileiras, inclusive durante as eleições municipais de 2024".

O advogado André Marsiglia, especialista em censura e liberdade de expressão, considera "ilegal" a suspensão da rede e a imposição de multa aos usuários. "Entendo que essa ordem seja totalmente ilegal, porque não é possível punir em um processo alguém que não sejam as partes. Então, é totalmente irrazoável e ilegal punir alguém que não sejam as partes. VPN não é uma ferramenta ilícita", declarou.

"Inviável pensar que o STF vai abrir um setor para vigiar se 22 milhões de usuários cumprem a decisão. Seria um absurdo que transformaria a Corte em polícia de internet. A viabilidade estaria na escolha de perfis específicos para vigiar. Nesse caso, seria uma conduta política, não jurídica e, por isso mesmo, também ilegal", reforçou Marsiglia na rede X.

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"STF está desregulado"

O presidente do Novo, Eduardo Ribeiro, atribuiu a nova decisão de Moraes à omissão do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), por não dar prosseguimento aos pedidos de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes. Para ele, o STF está completamente "desregulado".

"Para que uma democracia não se torne uma ditadura, é preciso que os poderes regulem uns aos outros. O STF está completamente desregulado. Parabéns, Rodrigo Pacheco. Sua omissão e covardia estão na raiz do problema que o nosso país vive hoje", disse Ribeiro.

Para o senador Eduardo Girão (Novo-CE), trata-se de mais uma "decisão absurda de censura", que reforça mais ainda o impeachment de Moraes. Na visão de Girão, o ministro do STF quer se autoproteger de críticas de outros membros da Suprema Corte, e "contando com a covardia do Senado Federal".

"Ninguém aguenta mais tanta opressão de um sistema apodrecido e ditatorial. Não é a toa que os brasileiros voltarão às ruas de todo o país no dia 7 de setembro", reforçou o senador.

De acordo com o senador Jorge Seif (PL-RJ), "é inaceitável, sob qualquer pretexto, que o Poder Guardião da Constituição silencie a voz de seu povo ao suspender o X". "O motivo? Não obedecer ordens inconstitucionais. A liberdade de expressão é um pilar inegociável da democracia e do Estado de Direito. Qualquer tentativa de censura fere a Constituição e o direito sagrado de opinião política. Autoritarismo e tirania não têm lugar em uma sociedade livre", escreveu pelas redes sociais.

A decisão de Moraes é um "ato de tirania, não de justiça", segundo o senador Magno Malta (PL-ES). "A suspensão parece basear-se em ordens pessoais do ministro, que considero ilegais, e não em qualquer lei vigente. Portanto, essa medida representa um ataque direto à democracia e à liberdade de expressão, colocando o Brasil ao lado de regimes autoritários como o Irã, a China e a Rússia", declarou.

Já o deputado Paulo Fernando (Republicanos-DF) diz que a decisão de Moraes causa "estranheza", tendo em vista que no direito constitucional "a pena deve ser individualizada". "Se a pessoa cometer um crime, responde ao processo, tem direito ao contraditório, a ampla defesa e é julgado de acordo com as leis. Cada qual cumprirá a pena que lhe é devida. Portanto, a penalidade está sendo estendida para milhares de centenas de pessoas que não têm culpa, me causa estranheza o alcance dessa decisão", disse o deputado.

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Entenda o caso

A suspensão imediata da plataforma foi determinada nesta sexta-feira (30). Na última quarta-feira (28), Moraes já havia determinado a suspensão no prazo de 24 horas após após o bilionário Elon Musk, dono da rede social, não obedecer a uma intimação feita em mensagem no próprio X. O prazo se encerrou às 20h07 desta quinta-feira (29).

No final do prazo da suspensão, a rede X ressaltou que não iria cumprir a decisão de Moraes e que espera que a plataforma seja bloqueada em breve.

"Ao contrário de outras plataformas de mídia social e tecnologia, não cumpriremos ordens ilegais em segredo", diz uma nota divulgada no perfil Global Government Affairs. O X considera o bloqueio de perfis de investigados pelo STF, ordenado por Moraes, como "ilegais" e destinados a "censurar opositores políticos" do magistrado.

A plataforma foi multada por não derrubar perfis de investigados pelo Supremo. Após o descumprimento, Moraes aumentou a multa diária imposta ao X de R$ 50 mil para R$ 200 mil. Musk é investigado no inquérito 4957, que apura supostos crimes de obstrução à Justiça, organização criminosa e incitação ao crime.

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