Procurador-geral da República, Augusto Aras| Foto: Evaristo Sá/AFP
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A Câmara de Combate à Corrupção do Ministério Público Federal (MPF) enviou uma nota técnica de 47 páginas ao procurador-geral da República, Augusto Aras, afirmando ser contra o acordo que tira da instituição a possibilidade de negociar e assinar acordos de leniência, a delação das empresas. Para a câmara, o termo de cooperação técnica firmado entre o governo federal, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal de Contas da União (TCU) sobre acordos de leniência "não traz uma proposta condizente com o objetivo de cooperação interinstitucional sistemática, esvaziando a atuação de diversos órgãos – dentre estes a do próprio MPF –, em prejuízo da segurança jurídica da colaboração".

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No documento, os procuradores elencam as conclusões sobre o acordo em 17 itens, pedindo que Aras não assine o termo de cooperação. "É inconstitucional afastar a legitimidade do MPF na celebração de Acordos de Leniência, com pessoas jurídicas, de modo que todas as ilações extraídas desta premissa sem sustentáculo jurídico e presentes no Acordo de Cooperação Técnica, não devem ser chanceladas pelo MPF", diz a nota técnica.

Segundo a Comissão Permanente de Assessoramento para Acordos de Leniência e Colaboração Premiada, o termo assinado pelo STF, o TCU e o governo Bolsonaro no último dia 6 "não oferece alternativa de cooperação interinstitucional adequada e respeitosa das atribuições no Sistema Brasileiro Anticorrupção, de modo que não atende o interesse público e não incrementa a segurança jurídica no regime legal dos acordos de leniência".

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"O Acordo de Cooperação Técnica não apresenta ampla fundamentação normativa do marco interinstitucional nele perfilhado, compreendendo desde as Convenções Internacionais Anticorrupção, a Constituição Federal e a legislação de regência de cada Instituição Signatária e do Acordo de Leniência, para justificar a legitimidade das premissas, princípios, ações sistêmicas e ações operacionais acordados, na ausência de lei específica", afirma a Comissão.

A 5.ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF aponta que há necessidade de órgão colegiado que viabilize a organização e funcionamento da cooperação interinstitucional e que o termo assinado na semana passada suprimiu a criação de uma Comissão de Cooperação Interinstitucional (CCI) composta por membros de todas as Instituições signatárias. Na avaliação dos procuradores tal supressão se mostra "injustificada".

A nota técnica aponta ainda que no termo ainda não assinado pelo MPF houve "tratamento inadequado do ressarcimento do dano causado ao Erário nos acordos de Leniência", e que o texto permite "intolerável insegurança jurídica quanto ao destino dos Acordos de Leniência anteriormente firmados". A 5.ª CCR critica ainda o compartilhamento de informações obrigatório com órgãos do Poder Executivo e a previsão de isenção abstrata de penalidades no termo.

Os procuradores dizem que o acordo de cooperação técnica é "incompatível com as atribuições cíveis (e criminais) do MPF dentro do contexto do Sistema Brasileiro Anticorrupção" e apontam que a não adesão ao termo "não deve ser interpretada como uma recusa institucional à busca de soluções consensuais entre as relevantes Instituições que o assinaram, mas tão somente a recusa à modelagem de cooperação nele inscrita".

"O MPF defende a realização de um amplo acordo de cooperação técnica que não restrinja a atribuição legal dos órgãos envolvidos, tampouco crie atribuição não prevista em lei, mas adote interpretação que seja consensual entre os signatários e estabeleça o compromisso da adoção de procedimentos que busquem trazer segurança jurídica para as colaboradoras, ao mesmo tempo em que preservem o interesse público", diz a nota técnica.

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