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Presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante Foro de São Paulo
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante Foro de São Paulo| Foto: Reprodução / Twitter do PT

Durante o discurso no Foro de São Paulo, nesta quinta-feira (29), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que não se sente ofendido por ser chamado de "comunista". O evento começou nesta quinta e termina no próximo domingo (2).

"Nós não ficamos ofendidos por sermos chamados de comunistas. Ficaríamos ofendidos se nos chamássemos de nazistas, neonazistas e terroristas. Ser chamado de socialista ou comunista nos dá orgulho e, às vezes, a gente sabe que merecemos sermos chamados assim", disse.

Lula foi o responsável pelo principal discurso no evento de abertura do 26º encontro anual do Foro de São Paulo. Ao longo de 35 minutos, o petista citou as dificuldades que a esquerda tem encontrado pelo mundo e falou sobre a necessidade de integração entre os povos da América Latina e Caribe para adentrar espaços ocupados pela extrema direita.

"É preciso que a gente rediscuta o discurso da esquerda. Muitas vezes, a direita tem mais facilidade do que nós com um discurso fascista. Na Europa, a esquerda perdeu o discurso para a questão da migração", disse o petista.

Lula critica "ricos em submarinos"

O presidente também voltou a criticar a desigualdade e a fome em seu discurso. De acordo com o petista, "é inaceitável que crianças morram de fome enquanto ricos paguem passagem de foguete e de submarino".

Lula fez referência aos passageiros do submarino Titan, da empresa OceanGate, que morreram na última semana após fazerem uma expedição para visita os destroços do Titanic. A viagem era feita por cinco milionários que pagaram cerca de R$ 1 milhão para realizar o tour.

Críticas e elogios a Chávez

Criticado por homenagear ditadores como Fidel Castro e Hugo Chávez, acusados de crimes políticos e contra os direitos humanos, Lula tentou legitimar o Foro ao fazer críticas ao antigo ditador venezuelano. De acordo com o petista, Chávez foi impedido de fazer parte da organização nos anos de 1990.

"No nosso segundo encontro, Chávez quis participar [do Foro] e nos não deixamos. Na época, ele tentou dar o golpe na Venezuela e nos não deixamos. Falamos 'você não é democrático e não vai participar'", disse Lula. Ainda de acordo com o mandatário brasileiro, todos os membros da organização tinham essa consciência.

Em seguida, Lula voltou atrás e elogiou o "companheiro Chávez". O mandatário brasileiro revelou que "admirava" o ditador venezuelano porque ele "fazia críticas pessoalmente e elogiava em público".

Hugo Chávez passou a integrar o grupo anos depois após chegar à presidência venezuelana. Chávez foi eleito em 1998 para um governo que deveria ter durado um mandato de cinco anos, mas ficou 14 anos no poder depois que a Constituição venezuelana sofreu diversas alterações para que ele não perdesse seu posto.

Em 2009, Hugo Chávez criou uma emenda constitucional que permitia reeleições ilimitadas e, enquanto estava à frente do país, falava em ser "presidente até 2030". O mandatário venezuelano só deixou o cargo em 2013, quando morreu de câncer. O governo chavista foi marcado por uma série de acusações de crimes contra os direitos humanos e pelas mortes de manifestantes.

Cobranças à esquerda

Em meio ao pronunciamento que elogiava a união do Foro de São Paulo, o petista fez uma série de críticas veladas a parceiros da esquerda. "Entre amigos, a gente conversa pessoalmente e não faz críticas públicas, porque as críticas interessam à extrema-direita, não ao povo”, declarou.

“Se nós tivermos algum problema com algum companheiro, a gente, em vez de criticá-lo publicamente, tem de conversar pessoalmente. Eu sou presidente, mas nenhum de vocês está proibido de fazer crítica a mim”, disse.

"Muitas vezes, nós da esquerda latino-americanas nos autodestruímos porque utilizamos nossos adversário, através dos meios de comunicação, para falar mal de nós mesmos, para tentar nos destruir e mostrar os defeitos. As virtudes nunca são mostradas", declarou.

Foro de São Paulo

Fundado em 1990 por Lula e o antigo ditador cubano Fidel Castro, o Foro de São Paulo foi criado com o intuito de reunir a esquerda na América Latina após o colapso da União Soviética. Em 33 anos, a organização se consolidou como uma força que tenta impor pautas de esquerda ao subcontinente, apoiou grupos criminosos como as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e faz vistas grossas a ditaduras.

Em seu pronunciamento, Lula relembrou a criação da organização e classificou o Foro como "uma bênção". Em 1985, eu tinha consciência de que a gente jamais poderia chegar ao poder pela via do voto e pela via democrática, era uma coisa que eu tinha na cabeça naquele momento: 'não é possível que um operário seja presidente pelo voto'. [Quando eu criei o Foro] eu falava que era preciso criar um mecanismo que evoluísse a consciência política das pessoas para elas votarem na gente", disse.

O petista contou que a ideia da criação do Foro surgiu de quando ele fazia uma viagem a Cuba, no final dos anos 80. "Eu e Marco Aurélio conversávamos com Fidel Castro e falamos da possibilidade de fazer uma reunião com a esquerda latino-americana. Na época, os partidos eram pequenos e lutavam para ganhar espaços em seus países", afirmou o petista.

Atualmente, organização reúne 123 partidos de esquerda de 27 países latino-americanos e caribenhos. Em solo brasileiro, de acordo com o site da organização, o Partido dos Trabalhadores (PT), o Partido Comunista do Brasil (PCdoB), o Partido Comunista Brasileiro (PCB) e o Partido Democrático Trabalhista (PDT) estão na lista de associados ao grupo. Procurada pela reportagem, no entanto, a assessoria do PDT que informou que não faz mais parte do grupo, ainda que o nome do partido conste na lista de associados no site do Foro de São Paulo.

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