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CPMI de 8 de janeiro
Condenado pela tentativa de explodir bomba próxima ao Aeroporto de Brasília na véspera do Natal de 2022, George Washington Oliveira presta depoimento à CPMI do 8 de janeiro| Foto:

Depois da convocação de políticos de direita, militares e pessoas ligadas ao agronegócio, os evangélicos estão na mira da esquerda na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os atos de 8 de janeiro.

Os deputados do PSOL no colegiado, Pastor Henrique Vieira (RJ) e Erika Hilton (SP), apresentaram pedidos para que sejam convocados seis manifestantes evangélicos que estavam na Praça dos Três Poderes no 8 de janeiro, supostamente trazidos por ônibus patrocinados por igrejas.

Desses, cinco já são réus no Inquérito 4.921, do Supremo Tribunal Federal (STF), que investiga quem foram os instigadores e autores intelectuais dos atos de vandalismo nas sedes dos Três Poderes.

“Poderemos distinguir pessoas que têm fé generosa, amorosa e pacífica, das que sequestram a religião, a espiritualidade e a fé para legitimar projetos de poder, violência e destruição da democracia”, disse Vieira, que é da igreja evangélica Batista do Caminho.

Os requerimentos dos deputados do PSOL se baseiam em depoimentos à Polícia Federal de manifestantes de Alagoas, Pará e Mato Grosso que teriam indicado integrar excursões organizadas por pastores em suas cidades de origem. As denominações visadas são a Igreja Presbiteriana Renovada (MT), a Igreja Batista de Maceió (AL) e a Assembleia de Deus de Xinguara (PA).

O presidente da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro, deputado Arthur Maia (União Brasil -BA), condicionou a votação desses pedidos à liberação de documentos do inquérito sobre os atos no Supremo Tribunal Federal (STF), conforme entendimento com o ministro relator, Alexandre de Moraes.

As convocações pedidas pelo PSOL estão alinhadas com o plano de trabalho da relatora, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), aprovado em plenário e que priorizou o foco da investigação nos chamados autores intelectuais e nos financiadores, dentro da tese de que houve planejamento e orientação prévios, com série de etapas visando um suposto golpe de Estado.

Para juristas, como Janaína Paschoal, professora e ex-parlamentar, e Ezequiel Dias, membro da Comissão de Liberdade Religiosa da Ordem dos Advogados do Brasil do Distrito Federal (OAB-DF), o fato de uma igreja enviar fiéis a uma manifestação, a princípio pacífica, não é crime. Eles rejeitam a tese de criminalização de instituições por ações individuais de seus membros ou frequentadores.

Presidente da Frente Evangélica no Congresso vê revanche de políticos contra a comunidade

Em resposta à iniciativa do PSOL, o senador Carlos Viana (Podemos-MG), presidente da Frente Evangélica do Congresso, ressaltou que as inúmeras denominações religiosas desse grupo social são “apolíticas e apartidárias”.

"Desconheço qualquer ação de igrejas grandes ou pequenas e até mesmo de pastores influentes em favor dos acampamentos em Brasília. Não há nada a esconder, portanto a investigação deve seguir e esclarecer todos os fatos relacionados ao 8 de janeiro. Lamento que, por se tratar de pessoas que se apresentam como evangélicos, esse tipo de atitude pareça mais uma vingança ou revanche daqueles que estão distantes da comunidade”, disse.

Segundo Claudio Caivano, advogado de 15 presos em razão dos atos de 8 de janeiro, os esforços para criminalizar igrejas apenas confirmam “a clara intenção do governo de dissuadir”. Ele explica que, ao tentar envolver mais outros supostos atores nos atos de vandalismo e em uma suposta trama golpista, os parlamentares aliados do Planalto estão somente “criando distrações para desviar o foco de outros personagens e fatos, como as possíveis omissões das autoridades federais de segurança”.

O defensor observou, contudo, que a maneira aparentemente "confusa e despreparada" como a audiência com o ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques, foi conduzida na semana passada acabou não trazendo os resultados esperados pelos governistas. Caivano acredita que os articuladores do governo na CPMI “já estão preocupados com possíveis frustrações na aguardada audiência com o tenente-coronel Mauro Cid”, ex-auxiliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

“O desempenho aquém do desejado pelo governo na comissão está levando os seus líderes a buscarem alternativas. Há a perspectiva de prolongado desgaste e, por isso, os governistas estão tentando conter os efeitos negativos desde já”, avaliou.

Oposição teve vitórias na primeira semana de audiências

A CPMI do 8 de janeiro concluiu a primeira semana de depoimentos confirmando o peso decisivo do governo na direção dos seus rumos, mas também registrando conquistas da oposição. O general Marco Gonçalves Dias, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência, foi finalmente adicionado à lista inicial de 35 testemunhas mediante um acordo entre líderes partidários após o nome do ex-ministro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ter sido excluído das convocações na semana anterior, em razão dos votos da maioria governista, provocando forte repercussão negativa.

Na terça-feira (20), o ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques surpreendeu em seu depoimento como testemunha na CPMI ao resistir à pressão dos parlamentares governistas e negar a tese de que teria dificultado transporte de eleitores no Nordeste, apresentando dados em contrário.

Ele apontou “injustiça” contra a corporação, negou qualquer interferência política nas operações rodoviárias no período eleitoral e minimizou a sua proximidade com o ex-presidente Jair Bolsonaro. Durante o interrogatório, houve confrontos entre membros do colegiado e ameaças da relatora Eliziane Gama de prender Vasques.

No segundo dia de depoimentos, na quinta-feira (22), membros de direita conseguiram avançar na estratégia de desacreditar a conexão proposta pela relatora entre três episódios violentos ocorridos em Brasília após as eleições de 2022, que ela descreve como “cronologia do golpe”: a invasão frustrada da sede da Polícia Federal em 12 de dezembro, dia da diplomação de Lula, a colocação de uma bomba ao lado de caminhão de combustível perto do Aeroporto JK em 24 de dezembro e, por fim, os atos do 8 de janeiro.

Questionados pelos oposicionistas, agentes da Polícia Civil do Distrito Federal que impediram o atentado na véspera de Natal descartaram indícios de ligação do crime com a tentativa de invasão da PF, com as invasões de 8 de janeiro, com o ex-presidente Jair Bolsonaro e até mesmo com os acampamentos no Setor Militar Urbano.

Calado na maior parte do depoimento, com base em garantias judiciais, o condenado pelo atentado frustrado, George Washington Oliveira Sousa, apenas descartou ser o autor e negou qualquer associação entre os três episódios investigados, bem como o acampamento.

A base do governo na comissão seguiu, por sua vez, investindo na tese que aponta Jair Bolsonaro como mentor dos atos de vandalismo, fazendo incluir na lista das convocações o coronel Jean Lawand Júnior, cujos diálogos com o tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens do ex-presidente, indicariam, segundo os governistas, uma "orquestração" para suposta "tentativa de golpe de Estado".

As investigações em torno da suposta fraude do cartão de vacinação de Jair Bolsonaro foram também consideradas de interesse dos governistas da comissão. Ficou acordado que a CPMI só ouvirá depoentes relacionados aos fatos pré-8 de janeiro até o início do recesso parlamentar, em 12 de julho. Cid será ouvido tanto como testemunha quanto investigado e Lawand já teve o seu depoimento agendado para esta terça-feira (27).

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