Ouça este conteúdo
Parlamentares da bancada da oposição no Congresso Nacional repercutiram nesta quarta-feira (16), as mensagens inéditas do perito Eduardo Tagliaferro, ex-assessor do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), revelando que ele temia ser preso por ordem do ministro, ou até morto, caso contasse publicamente o que sabia.
Em uma das mensagens obtidas pela Polícia Federal (PF), Tagliaferro escreveu: “Se eu falar algo, o Ministro me mata ou me prende”, durante uma conversa com a sua atual esposa, no WhatsApp. No diálogo, ele manifestou o desejo de “contar tudo de Brasília” antes de morrer. “Minha vontade, é chutar o pau da barraca, jogar tudo para o alto”, escreveu Tagliaferro.
Após as mensagens serem reveladas, a PF decidiu retirar a pasta pública na internet com os arquivos que continham as conversas do ex-assessor. O material, que continha conversas íntimas entre o casal e protegidas por lei com o advogado ficou disponível por quase duas semanas para acesso público.
VEJA TAMBÉM:
À Gazeta do Povo, a vice-líder da Minoria na Câmara, Bia Kicis (PL-DF), declarou que as mensagens são "estarrecedoras" e reforçam o "medo dentro das instituições".
"Esse clima de intimidação precisa ser investigado com urgência. Vamos solicitar que Eduardo Tagliaferro seja ouvido pela CCJ. O Brasil merece saber até onde vai o poder de um ministro que não aceita ser questionado. Democracia de verdade não combina com silêncio forçado e muito menos com medo de ser calado", declarou a deputada.
Pela rede X, o deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) reagiu de forma sarcástica ao repercutir o assunto. “Finja que isso não aconteceu pra não gerar uma "crise institucional", escreveu.
Já o deputado Maurício Marcon (Podemos-RS) avaliou que a situação do ministro Alexandre de Moraes "não vai terminar bem". "Ele [Moraes] parece que é um carro desgovernado. Ele solta traficantes, dá dias para a Espanha se manifestar, ele enfrenta um cacique do centrão, ele para sua residência o presidente da Câmara. Ele intimida os seus assessores, como nós podemos ver nas mensagens. Eu não sei quanto tempo ele acha que isso vai durar, mas ele vive em um mundo insustentável", disse em entrevista à Rádio Auriverde de Bauru.
Para deputado Filipe Barros (PL-PR), "os diálogos são gravíssimos". "Eles demonstram, mais uma vez, o descumprimento de normas constitucionais — e, como consequência, a completa nulidade dos inquéritos e processos relativos ao 8 de janeiro. Por muito menos a Lava Jato foi inteiramente anulada", declarou.
"Terror institucional"
Na avaliação do deputado Marcel van Hattem (Novo-RS), as mensagens de Tagliaferro reforçam o "retrato do terror institucional que se instalou no Brasil". Segundo ele, "um ministro do STF não pode ser temido como um ditador".
“O que mais precisa acontecer para que o Congresso tome uma atitude? Tagliaferro, ex-assessor de Alexandre de Moraes, que chefiava o setor de censura do TSE, afirmou com todas as letras que tem medo de ser preso ou morto se contar o que sabe", declarou.
Van Hattem ainda acrescentou o caso trata-se de uma "denúncia gravíssima, que envolve perseguição, censura e abuso de poder". "A CPI do Abuso de Autoridade é urgente. Ou vamos continuar fingindo que está tudo normal enquanto o autoritarismo avança, destrói reputações, prende quem ousa denunciar e, até mesmo, tenta intimidar, investiga e indicia deputados federais que o enfrentam?", completou.
Por outro lado, o senador Eduardo Girão (Novo-CE) criticou a atitude da PF de retirar as mensagens do ar como um "destacamento para o próprio STF". Ele avaliou que a medida parece um "instrumento de uma caçada de perseguição política e ideológica a quem pensa diferente, a quem critica o sistema, a quem é de direita e conservador". "Isso faz com que a credibilidade histórica da Polícia Federal venha a se abalar", afirmou.
Mais cedo, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) informou que apresentará um requerimento na Câmara para convidar o perito Eduardo Tagliaferro a prestar esclarecimentos sobre o vazamento de mensagens. “Diante da gravidade dos fatos, apresentarei um requerimento para convidar Eduardo Tagliaferro a prestar esclarecimentos na Comissão de Fiscalização da Câmara. O Brasil precisa saber da verdade”, afirmou o deputado.
VEJA TAMBÉM:
- Novo cobra Itamaraty sobre extradição de búlgaro suspensa por Moraes
- Alexandre de Moraes nega habeas corpus para intestino preso de Bolsonaro
- Negativa da Espanha de extraditar Eustáquio marca reconhecimento de perseguição política no Brasil
- Tagliaferro pode ter que dar explicações sobre Moraes na Câmara, diz Nikolas Ferreira