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Plenário da Câmara dos Deputados durante sessão solene destinada a inaugurar a 2ª Sessão Legislativa Ordinária da 57ª Legislatura.| Foto: Jonas Pereira/Agência Senado

O Partido Liberal e o Partido dos Trabalhadores irão utilizar parte de suas bancadas na Câmara dos Deputados para impulsionar as eleições municipais em outubro deste ano. A sigla do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) planeja lançar dez deputados candidatos a prefeito. Já a legenda do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estuda lançar 16 nomes para os Executivos municipais. Os números foram confirmados com as assessorias de ambos os partidos.

É importante destacar que a relação dos nomes de cada legenda poderá passar por alterações, uma vez que nem todos os potenciais candidatos se colocaram na disputa, nem ocorreram todas as conferências partidárias. A possibilidade de algumas pré-candidaturas não irem para frente também é avaliada pelos partidos. Com as negociações locais, as siglas podem fazer acordos que envolvam a retirada de candidatura em prol de apoio político.

No caso da oposição, nomes como os dos deputados Carlos Jordy (PL-RJ) e Alexandre Ramagem (PL-RJ) despontam como expoentes do PL em Niterói e na cidade do Rio de Janeiro. Apesar das recentes operações da Polícia Federal, a sigla demonstra que manterá as pré-candidaturas dos parlamentares.

Diante disso, o PL seguirá a estratégia de utilizar nomes já consolidados do partido para tentar aumentar o número de prefeitos da sigla. Com 371 prefeituras pelo país, a legenda deseja eleger entre 1000 e 1500 prefeitos. O objetivo é criar musculatura política para o futuro candidato à presidência da República em 2026.

Para o cientista político Adriano Cerqueira, docente do Ibmec de Belo Horizonte, a utilização de nomes conhecidos faz parte da dinâmica eleitoral dos partidos para os pleitos municipais.

“É comum deputados, que tenham uma certa presença, disputarem eleições para prefeituras. Existe um caminho que costuma ser mais lógico: vereador, deputado estadual, deputado federal. Mas existem deputados que enxergam uma oportunidade para disputar a eleição municipal. Geralmente são nomes conhecidos dentro do partido. Muitos fazem isso para marcar presença em determinado município visando às próximas eleições”, disse Cerqueira.

Candidaturas de parlamentares envolvem projeto político pessoal

Mas por que as legendas escolhem deputados federais? O processo de escolha das candidaturas dos partidos envolve diversos fatores, como a popularidade do pré-candidato e a real possibilidade de eleição. Ao utilizarem os parlamentares da Câmara dos Deputados, as siglas possuem mais possibilidades de se consolidarem em redutos eleitorais já cativados. Por outro lado, os parlamentares se beneficial ao ganharem prospecção eleitoral, podendo aumentar o próprio capital político para as eleições gerais.

Na leitura do cientista político Elton Gomes, professor da Universidade Federal do Piauí, o projeto político dos deputados é essencial na negociação das candidaturas apoiadas pelos partidos.

"Penso que o fator preponderante quando se fala em candidatura partidária é o projeto pessoal do candidato. Ele mesmo almeja um certo nível de poder e de influência, de relevância no cenário político nacional. Geralmente, os políticos que conseguem fazer isso são políticos robustos, aqueles que são importantes dentro da própria estrutura governativa do partido, da sua direção ou que são, eles mesmos, figuras em ascensão dentro da hierarquia do partido", disse Gomes.

Ele acrescenta que a ida de deputados para o Executivo municipal também facilita o repasse de emendas parlamentares destinadas para prefeituras.

"O que acontece quando um parlamentar se torna prefeito? Ele, tendo sido parlamentar, conhece o caminho para gerar emendas orçamentárias que são dirigidas diretamente às prefeituras. Ele conhece o caminho, tem noção dos atalhos institucionais que promovem isso. No seu lugar, na Câmara dos Deputados, vai ficar seu suplente, que vai se encarregar de aportar recursos para essa prefeitura que ele vai governar", disse o professor.

Confira a lista de pré-candidatos dos dois partidos:

PL

Sargento Gonçalves - Natal (RN)
Fernando Rodolfo - Caruaru (PE)
Capitão Augusto - Bauru (SP)
Rosana Valle - Santos (SP)
Delegado Ramagem - Rio de Janeiro (RJ)
André Fernandes - Fortaleza (CE)
Gustavo Gayer - Goiânia (GO)
Marcos Pollon - Campo Grande (MS)
Abílio Brunini - Cuiabá (MT)
Rosângela Reis - Ipatinga (MG)
Carlos Jordy - Niterói (RJ)
Capitão Alden - Feira de Santana (BA)
Delegado Éder Mauro - Belém (BA)
Junio Amaral - Contagem (MG)
Júnior Mano - Maracanaú (CE)
Bruno Engler - Belo Horizonte (MG)

PT

Alencar Santana - Guarulhos (SP)
Denise Pessôa - Caxias do Sul (RS)
Dimas Gadelha - São Gonçalo (RJ)
Maria do Rosário - Porto Alegre (RS)
Rogério Correia - Belo Horizonte (MG)
Waldenor Pereira - Vitória da Conquista (BA)
Washington Quaquá - Maricá (RJ)
Adriana Accorsi - Goiânia (GO)
Natália Bonavides - Natal (RN)
Zé Neto - Feira de Santana (BA)

Até o momento, das 26 capitais, parlamentares do PT e PL devem se enfrentar diretamente em pelo menos três: Goiania, Belo Horizonte e Natal. Na capital de Goiás, a deputada Adriana Corsi (PT) e o deputado Gustavo Gayer (PL) são dois dos postulantes ao cargo do prefeito. Já na capital mineira, Rogério Correia (PT) e Bruno Engler (PL) estão entre os concorrentes. E na capital potiguar, Natalia Bonavides (PT) e General Girão (PL) entre os pré-candidatos ao Executivo municipal.

PT busca recuperar desastre eleitoral de 2020

Do lado petista, o partido comandado por Gleisi Hoffmann também utilizará nomes consagrados da legenda na tentativa de impulsionar o número de prefeituras. Em novembro do ano passado, por exemplo, a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) foi confirmada como pré-candidata ao Executivo municipal de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul. A parlamentar, que hoje comanda a 1° Secretaria da Câmara, se popularizou pelos seus embates com Bolsonaro.

Nas eleições de 2020, o PT vivenciou um cenário inesperado: elegeu 182 prefeitos, mas não conquistou nenhuma capital. O partido lançou candidaturas próprias em 21 das 26 capitais em disputa e conseguiu apenas ir ao segundo turno em duas cidades: Recife, com Marília Arraes, que acabou derrotada pelo seu primo João Campos (PSB), e Vitória, com João Coser, vencido por Lorenzo Pazolini (Republicanos).

Em algumas cidades, o desempenho foi pior. Em Curitiba, Paulo Opuszka fez 2% dos votos, mesmo número de Nilmário Miranda, em Belo Horizonte e Ricardo Barbosa, em Maceió. Professor Marcos, em Macapá e Anísio Maia, em João Pessoa, atingiram 1% dos votos.

A sigla ganhou mais 45 prefeitos nos últimos anos e agora conta com 227 municípios para o próximo pleito. Por outro lado, o resultado das próximas eleições preocupa o partido, que se viu forçado a ceder candidaturas para legendas aliadas.

Na cidade de São Paulo, Lula apoiará o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) na disputa pela prefeitura. Já na cidade do Rio de Janeiro, o partido trabalha para indicar um vice-prefeito na chapa de Eduardo Paes (PSD-RJ).

A situação também ocorre no Nordeste, principal reduto eleitoral do PT. No Recife, o PT deve apoiar a reeleição de João Campos (PSB) para o Executivo local.

Polarização será foco das eleições no Rio e em SP

Além dos deputados federais, PT e PL devem apostar na polarização registrada em 2022 para conduzir as candidaturas de 2024. No Rio, a estratégia da sigla comandada por Valdemar Costa Neto é explorar a relação entre Eduardo Paes e o PT para alavancar o discurso anti-Lula no eleitorado carioca. A possibilidade do prefeito do Rio ter um vice no PT é outro fator que instiga o acirramento da disputa.

A estratégia do PL de apostar na polarização com o PT segue na esteira do resultado eleitoral do segundo turno de 2022 de Lula e Bolsonaro na capital fluminense. Na época, o ex-presidente recebeu 1.929.209 votos, o equivalente a 52,66% do total da cidade. Já Lula foi a escolha de 47,34% dos eleitores e recebeu 1.734.159 votos.

Já em São Paulo, o PT, por meio da candidatura de Boulos, deve tentar colar a imagem do atual prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), à imagem de Bolsonaro como forma de atrair o eleitorado de centro da capital paulista. Diferentemente do Rio, os números eleitorais de 2022 deram vantagem à esquerda na capital paulista.

Na cidade de São Paulo, Lula obteve 3.677.921 votos, o que corresponde a 53,54% dos votos válidos. Já Bolsonaro obteve 3.191.484 votos, o que representa 46,46% dos votos válidos.

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