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Eleições 2026

Pré-candidatos da direita intensificam campanha pelo Senado com aval de Bolsonaro

Eduardo Bolsonaro e Guilherme Derrite
Eduardo Bolsonaro e Guilherme Derrite foram reeleitos à Câmara dos Deputados em 2022 e são os nomes mais fortes da direita para o Senado em 2026. (Foto: Fotomontagem Gazeta do Povo (Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados e Marco A. Cardelino/Alesp))

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A disputa pelas 54 das 81 cadeiras do Senado nas eleições de 2026 — duas por unidade da Federação — já mobiliza pré-candidatos da direita em todo o país. O controle do Senado é uma das maiores prioridades da oposição, pois trata-se da única maneira de se reequilibrar o poder do Supremo Tribunal Federal (STF), já que os senadores têm a prerrogativa de fazer o impeachment de ministros e sustar decisões. Muitos candidatos buscam o apoio direto do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que tem priorizado desde 2024 a formação de candidaturas sólidas para alcançar a maioria conservadora na Casa.

As movimentações se intensificam em redutos com perfil majoritariamente direitista, como Distrito Federal, Santa Catarina, Paraná e Goiás. Nessas regiões, a composição das chapas majoritárias provoca disputas internas e acelera as articulações.

A prioridade é garantir nomes com viabilidade eleitoral e lealdade ao projeto político de Bolsonaro, que mira ocupar o Senado em aliança com senadores de direita que ainda têm mandato até 2031, elegendo ao menos 30 parlamentares com o perfil desejado. O objetivo é influenciar a escolha do próximo presidente da Casa e pautar decisões estratégicas.

Considerada crucial pelos líderes conservadores, a disputa ao Senado é vista como oportunidade de reverter o ativismo do Judiciário sobre o Legislativo. Por isso, muitos candidatos já adotam como bandeira a abertura de processos de impeachment contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Desde o início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o Senado vem engavetando pedidos de impeachment e barrando pautas contrárias ao governo que passam na Câmara.

Em vários estados, as articulações envolvem candidaturas únicas ou duplas ao Senado, buscando repetir e ampliar os êxitos obtidos por aliados de Bolsonaro em 2022. Governadores com mandato ou aspirações à reeleição também entram nos acordos. A regra básica para o PL é ter um candidato forte ao Senado por unidade da Federação, onde for possível, avaliando o melhor posicionamento em cenários especiais.

Briga de parlamentares por indicações já movimenta bastidores de partidos no Distrito Federal e Goiás

Michelle Bolsonaro (PL) lidera as pesquisas para o Senado no Distrito Federal e pode concorrer, a menos que a estratégia do partido seja lançar sua candidatura à Presidência da República, na hipótese de Bolsonaro continuar inelegível. Disputam espaço na chapa da direita ao Senado o governador Ibaneis Rocha (MDB) e a deputada Bia Kicis (PL), que reforça publicamente sua intenção de concorrer, afirmando que é uma “demanda natural do eleitorado” e que vem se preparando há anos para essa missão.

Bia, no entanto, enfrenta resistência da direção nacional do PL, que prefere mantê-la na Câmara. Mas ela conta a seu favor com uma legião expressiva de seguidores nas redes sociais. O senador Izalci Lucas (PL), em fim de mandato, mudou-se recentemente para o partido de Bolsonaro. Mas suas chances de receber apoio para concorrer novamente ao Senado estão reduzidas. Ele chegou ao partido com expectativa de disputar o governo distrital. Com a escolha da vice-governadora Celina Leão (PP) como pré-candidata ao Buriti, ele pode ser vice na chapa.

Apontado por Bolsonaro como seu nome ao Senado por Goiás, o deputado Gustavo Gayer (PL) exibe otimismo com as pesquisas. Major Vitor Hugo, também do PL, é cogitado como alternativa. Ambos enfrentam o grupo do governador Ronaldo Caiado (União Brasil), que defende uma dupla de candidaturas, a de sua esposa, Gracinha Caiado, e do cantor Gusttavo Lima. A disputa entre os grupos de Caiado e Bolsonaro no estado se acirrou após o embate pela prefeitura de Goiânia.

Busca por apoio de Bolsonaro já provoca congestionamento na fila de candidatos no Sul

Com forte presença de parlamentares associados a Jair Bolsonaro, o PL cogita lançar duas candidaturas do Senado em Santa Catarina, das deputadas Júlia Zanatta e Caroline de Toni. Ambas têm bom desempenho eleitoral e lealdade ao projeto do ex-presidente. O atual senador Esperidião Amin (PP), que tem convergências com o grupo do governador Jorginho Melo (PL), tenta manter-se na disputa pela reeleição.

No Paraná, o deputado Filipe Barros (PL), presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, avança na pré-campanha com apoio declarado de Bolsonaro. Ele disputará espaço com Deltan Dallagnol (Novo) e com a jornalista Cristina Graeml (Podemos), que foi a mulher mais votada na história de Curitiba nas eleições de 2024, quando ficou em segundo lugar na disputa pela prefeitura. Ela conta com apoio do partido e do ex-senador Alvaro Dias (Podemos).

A direita já enfrenta um cenário de superlotação de pré-candidatos ao Senado no Rio Grande do Sul. O senador Luis Carlos Heinze (PP) busca reeleição, mas terá como rivais Marcel Van Hattem (Novo), já em pré-campanha, e deputados ligados a Bolsonaro como Coronel Zucco (Republicanos), Osmar Terra (MDB) e Giovani Cherini (PL). Zucco também é cotado ao governo estadual. Onyx Lorenzoni (PL) se diz disponível tanto para o Senado quanto para o governo estadual.

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Acordos e especulações com partidos da direita também avançam em outras regiões do país

Em São Paulo, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL), autoexilado nos Estados Unidos, lidera pesquisas e parece ter garantida uma das vagas. A outra tende a ficar com o deputado Guilherme Derrite (PP), atual secretário estadual de Segurança, em acordo entre Bolsonaro e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

A recém-entrada de Derrite no PP, fortalecida pela federação do partido com o União Brasil, integrou fortes negociações de bastidores. O deputado Ricardo Salles (Novo), ex-ministro de Meio Ambiente de Bolsonaro, também cogita candidatura ao Senado.

No Rio de Janeiro, o PL planeja conquistar as duas vagas com a candidatura à reeleição do senador Flávio Bolsonaro e com o governador Cláudio Castro, que está no fim do seu segundo mandato. Ambos figuram bem nas pesquisas.

Em Minas Gerais, Bolsonaro busca convencer Paulo Guedes, ex-ministro da Economia, a disputar o Senado. Também são cogitados os deputados Domingos Sávio e Eros Biondini, ambos do PL.

No Amazonas, Bolsonaro confirmou apoio ao deputado Capitão Alberto Neto (PL). O governador Wilson Lima (União) também busca aval do ex-presidente para entrar na disputa.

Estratégia nacional do PL depende da articulação com outros grupos de direita nos estados

A meta da oposição é lançar pelo menos um nome competitivo por estado, preferencialmente com apoio direto de Bolsonaro, evitando fragmentações. Nos estados onde o PL não lidera, a estratégia é formar alianças com PP, Republicanos e União Brasil, ampliando o leque conservador.

Outro eixo central é a articulação com governadores aliados. O alinhamento entre candidaturas ao Senado e os chefes de Executivo estaduais é visto como essencial para campanhas mais coesas e combativas.

A 17 meses da eleição, em vários estados a disputa ao Senado já se sobrepõe à sucessão ao governo estadual, devido ao peso político da Casa. Além de aprovar emendas constitucionais (com 49 votos), o Senado pode travar nomeações do Executivo, sustar decisões do STF e abrir processos de impeachment contra ministros da Corte — atribuições que explicam o apetite da direita por sua conquista em 2026.

Especialistas acreditam em tendência favorável à direita em 2026

O cientista político Paulo Kramer considera plausível a possibilidade de uma maioria conservadora no Senado a partir de 2027, puxada pelo momento desfavorável da esquerda e do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a especial capacidade de mobilização da direita nas redes sociais, além do papel muito influente de Jair Bolsonaro na conquista das vagas.

Ele argumenta que a direita parlamentar percebeu a necessidade de criar condições políticas para o impeachment de ministros do STF, diante do que considera um protagonismo judicial que ameaça decisões legislativas.

Com a inelegibilidade de Jair Bolsonaro até 2030, Kramer observa que a família do ex-presidente também busca manter sua influência política por meio de candidaturas ao Senado. Ele destaca que Eduardo Bolsonaro e Michelle Bolsonaro são considerados para disputar vagas por São Paulo e Distrito Federal, respectivamente, enquanto Flávio Bolsonaro deve buscar a reeleição.

Elton Gomes, professor de ciências políticas da Universidade Federal do Piauí (UFPI), destaca que a realização das ambições da oposição de direita para as eleições de 2026 passam essencialmente pela conquista da maioria do Senado, que ganhou importância diante dos impasses institucionais gerados pelo STF.

Ele afirma, contudo, que a indefinição da candidatura presidencial da direita — especialmente com a continuidade da inelegibilidade de Jair Bolsonaro — cria um ambiente favorável para o Centrão aumentar seu poder. Segundo ele, “o Centrão vive de barganhas e negociações, e essas negociações são dadas pelo contexto”.

“Bolsonaro continua sendo a figura central da direita. A reunião de governadores, mostrada no ato público da Avenida Paulista, no começo de abril, sugere um acordo tácito para apoiar o nome mais viável, hoje com vantagem para Tarcísio de Freitas. Mas também revela uma disputa por seu espólio político, caso ele não possa concorrer em 2026”, avalia.

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