Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Dança das cadeiras

Queda de Juscelino Filho reabre discussão sobre reforma ministerial no governo Lula

Lula Juscelino Filho reforma ministerial
O presidente Lula e o agora ex-ministro Juscelino Filho, demitido após ser denunciado ao STF (Foto: Ricardo Stuckert / PR)

Ouça este conteúdo

A demissão de Juscelino Filho (União Brasil), que comandava o Ministério das Comunicações, reabriu dentro do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) as discussões sobre a necessidade de uma reforma ministerial para acomodar os partidos da base. Indicado pelo União Brasil, Filho pediu para deixar a pasta após ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao Supremo Tribunal Federal (STF) por suposto envolvimento em desvio de emendas parlamentares enquanto era deputado federal.

O pedido de demissão foi apresentado na terça-feira (8), após uma série de reuniões entre o ministro, a cúpula do União Brasil e a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann. O acerto foi feito para que o próprio Lula não precisasse fazer a demissão, o que poderia ampliar o desgaste para o governo.

Em carta aberta, o agora ex-ministro disse que "teve o apoio incondicional do presidente Lula", líder a quem admira profundamente e que sempre garantiu "liberdade e respaldo para trabalhar com autonomia e coragem". No texto, Juscelino disse ainda que tomou a decisão “em respeito ao governo federal e ao povo brasileiro”. 

Em junho do ano passado, quando a Polícia Federal indiciou Juscelino Filho, o próprio presidente Lula havia sinalizado que demitiria o ministro, caso a denúncia fosse aceita. "Se for aceito, tem que ser afastado, ele [Juscelino] sabe disso", afirmou o petista na ocasião. 

Segundo a PF, Juscelino Filho, cometeu os crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro, corrupção passiva, falsidade ideológica e fraude a licitação. As investigações foram baseadas em suspeitas sobre desvios de R$ 835,8 mil, de uma emenda parlamentar destinada a obras de pavimentação, que foram custeadas pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). O ex-ministro de Lula nega qualquer tipo de irregularidade.

Com a exoneração publicada no Diário Oficial, a expectativa é de que o União Brasil siga sob o comando do Ministério das Comunicações. O mais cotado para o cargo é o atual líder da bancada na Câmara, deputado Pedro Lucas (União-MA). 

Deputado do União tem o aval de Lula para assumir pasta das Comunicações 

No começo deste ano, Pedro Lucas venceu a disputa interna dentro do União Brasil para liderar o partido. Na ocasião, ele derrotou o deputado Mendonça Filho (PE), que faz oposição ao governo do presidente Lula.

Apesar de comandar três ministério, a bancada do União Brasil não costuma entregar todos os votos em projetos do governo. Por isso, na avaliação de fontes do Palácio do Planalto que pediram para não ter os nomes revelados, a entrada de Pedro Lucas no Ministério das Comunicações pode facilitar o apoio dentro do partido, tendo em vista a proximidade do parlamentar com a bancada.

O deputado esteve na comitiva que viajou com Lula para o Japão no final de março. Ele foi apresentado ao petista pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). Segundo governistas ouvidos pela reportagem, Pedro Lucas conta com o aval do Planalto, mas a decisão final só deve ser tomada pelo presidente após seu retorno ao Brasil nesta quinta-feira (10). Lula está em Honduras, onde participa da Cúpula de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac).

Outro ponto favorável ao nome de Pedro Lucas é a sua proximidade com o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF). O agora deputado federal chegou a comandar a Agência Executiva Metropolitana (Agem) do Maranhão, em 2017, quando Dino era governador do estado. 

Desde a demissão de Juscelino Filho, Pedro Lucas tem feito uma série de reuniões com integrantes do União Brasil, no intuito de viabilizar a sua indicação. Paralelamente, a cúpula do partido discute a possibilidade de entregar a liderança da bancada na Câmara para Juscelino Filho.

Com a sua demissão da Esplanada dos Ministérios, Juscelino Filho vai retomar o seu mandato de deputado federal. As negociações estão sendo conduzidas pelo presidente do partido, Antônio Rueda.

Governo deve retomar conversas com líderes do Centrão

Na esteira da troca no Ministério das Comunicações, a expectativa dentro do Palácio do Planalto é de que o presidente Lula retome as discussões sobre a reforma ministerial. Havia a expectativa de que o petista fizesse trocas ainda no começo deste ano para acomodar o Centrão, mas as mudanças ocorreram apenas em cargos do PT. 

A bancada do PSD na Câmara, por exemplo, demanda a troca do deputado André de Paula do Ministério da Pesca por uma pasta com mais representatividade. Além da Pesca, o partido comanda atualmente os ministérios da Agricultura e o de Minas e Energia, ambos com nomes indicados pelo Senado.

Uma das possibilidades de Lula seria entregar o Ministério do Turismo, atualmente com Celso Sabino, do União Brasil, para a bancada do PSD. Hoje, o nome apontado como favorito é o do deputado federal Pedro Paulo (PSD-RJ), ligado ao prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD). Ele também tem aval da cúpula do PSD.

Neste caso, Celso Sabino seria reacomodado na pasta da Ciência e Tecnologia, atualmente comandada por Luciana Santos, do PCdoB. Se o acordo for concretizado, ela seria transferida para o Ministério das Mulheres e a atual ministra, Cida Gonçalves perderia o cargo.

Lideranças do PSD e do União Brasil admitem que as conversas e pleitos envolvem um diálogo centralizado com Gleisi Hoffmann, que assumiu a articulação política de Lula no começo deste ano. Anteriormente, os acordos firmados eram difusos, já que Rui Costa, da Casa Civil, e Alexandre Padilha, antecessor de Gleisi, tocavam as articulações de forma paralela. 

Use este espaço apenas para a comunicação de erros