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Após fazer acordo com a Procuradoria-Geral da República (PGR) para devolver R$ 131,5 mil para encerrar a investigação sobre as suspeitas de “rachadinha”, o deputado federal André Janones (Avante-MG) foi citado pela ONG Transparência Internacional como exemplo de que a “corrupção foi normalizada no Brasil.”
“Retrato do Brasil em 2025: o presidente só pronuncia a palavra 'corrupção' pra criticar o seu combate, o tribunal constitucional do país anistia corruptos em série, peculato tem apelido carinhoso de 'rachadinha', um representante do povo no Parlamento confessa esse crime e ao invés de ir preso, ganha 'sweetheart deal' da PGR e paga uma multa irrisória em 12x sem juros - outros acusados do mesmo crime, como Arthur Lira e Flávio Bolsonaro, sequer isso, desfrutam de impunidade total, graças ao mesmo tribunal constitucional. Alguma dúvida de que a corrupção foi normalizada no Brasil?”, escreveu a Transparência Internacional em seu perfil no X, neste sábado (8).
Mês passado, o Brasil atingiu a sua pior pontuação no Índice de Percepção da Corrupção (IPC), mantido pela Transparência Internacional. O índice se refere ao ano de 2024 e mede a impressão de especialistas e empresários sobre o nível de corrupção no setor público de cada país.
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Para aferir o IPC de cada um dos 180 países avaliados, são atribuídas notas em uma escala de 0 a 100. Quanto maior a nota, melhor é a percepção sobre a integridade do país. A nota do Brasil foi 34, empatando com Nepal, Argélia, Malauí, Níger, Tailândia e Turquia.
O Brasil caiu 3 posições do ranking depois de perder 2 pontos em comparação ao resultado de 2023 e passou a ocupar a 107ª posição. Este foi o pior resultado já registrado para o Brasil desde 2012, quando teve início a séria histórica.
Denúncias de “rachadinha” contra Janones
Em 2023, Janones foi alvo de uma série de denúncias de ex-assessores divulgadas pelo Metrópoles.
Na última semana de novembro de 2023, o jornal divulgou um áudio em que o deputado cobra de assessores a devolução de parte dos salários.
Na época, ao se defender, Janones disse que não se tratava da prática conhecida como “rachadinha”, mas de uma contribuição dos assessores para que ele conseguisse recuperar parte do seu patrimônio usado para custear a sua campanha à prefeitura de Ituiutaba (MG), em 2016.
Um dia depois da primeira reportagem com a denúncia, o jornal divulgou um novo áudio em que Janones pede a assessores para transferir parte do salário para sua conta como forma de criar um caixa para bancar campanhas eleitorais. A estimativa de Janones era de arrecadar R$ 200 mil.
Para Janones, as acusações são “fake news”. O deputado também culpou a “extrema-direita” pela disseminação da reportagem do Metrópoles, jornal com viés de esquerda.
Após a repercussão negativa, o deputado tentou minimizar o escândalo dizendo que os áudios teriam sido gravados quando ele ainda não havia assumido o cargo de deputado e, portanto, estaria conversando com pessoas que, oficialmente, ainda não haviam sido nomeadas em seu gabinete.
No dia 4 de dezembro de 2023, o Metrópoles publicou outro trecho do áudio que contradiz a versão apresentada pelo deputado. No trecho divulgado, Janones aparece tratando de assuntos relativos ao exercício do mandato na mesma reunião em que pede parte dos salários dos funcionários para cobrir gastos com campanhas.
Em junho de 2024, a Polícia Federal (PF) enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF) o resultado de uma perícia confirmando que é a voz do deputado federal André Janones na gravação usada por ex-assessores para acusá-lo de “rachadinha”.
Janones foi beneficiado no Conselho de Ética por relatório feito por Boulos
Também em junho de 2024, Janones foi beneficiado por um relatório feito pelo deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP) e teve um processo por suspeita de “rachadinha” arquivado no Conselho de Ética da Câmara.
Na Comissão, a defesa de Janones alegou que “as acusações de ‘rachadinha’ foram feitas com base em um áudio editado e descontextualizado, não de um parlamentar com seus assessores, mas de um grupo político, que visava se fortalecer para disputar eleições, não se tratava de devolver salários, mas de contribuições espontâneas, com a participação do parlamentar, sem qualquer obrigação ou valores definidos."
O parlamentar também tentou associar as denúncias à família Bolsonaro para alegar que está sendo vítima de uma suposta “perseguição política”.
Janones é conhecido por defender o uso de “fake news”
No início de setembro de 2022, Janones defendeu enfaticamente o uso de fake news contra a campanha de Bolsonaro pela primeira vez.
No Twitter, ele publicou: “ATENÇÃO URGENTE: Partido de Bolsonaro estaria por trás do pedido pra suspender a lei que aprovamos no congresso, garantindo o piso salarial da enfermagem. Se for confirmado é grave, muito grave!”. Em seguida, postou uma imagem com a inscrição: “Bolsonaro declara guerra contra a enfermagem”, com a legenda “Missão do dia: viralizem isso.”
Em dezembro de 2023, Janones foi checado pelos usuários da rede social X ao dizer que seu livro “Janonismo cultural” ocupa o segundo lugar do ranking dos mais vendidos da Amazon.
Na publicação, o deputado não especificou a categoria em que o livro ocupa a segunda colocação em vendas.
“Bom dia gado! Meu livro, que ensina como fazer vocês de otário, era o sexto mais vendido até a semana passada. Foi pra quinto, quarto, terceiro, e agora está em segundo lugar! Daqui a pouquinho a gente assume a ponta, e aí eu já começo a escrever o volume 2: Como usar a força motriz do gado para alavancar suas vendas”, escreveu o deputado na rede social X, nesta quinta.
Em seguida, através do recurso de checagem pública, a rede social publicou uma nota junto da postagem do deputado esclarecendo que, na verdade, o livro ocupa a segunda colocação em vendas “na categoria específica de Ciência da Informação Políticas e Ciências Sociais” e não no ranking geral como sugere a publicação de Janones. “No ranking geral, o livro ocupa a 3.010º colocação”, diz a checagem.
A publicação de Janones foi feita em duas partes. Na segunda, consta um print da página do site da Amazon com a indicação de que o livro é “o nº 2 mais presenteado em Biografias Políticas”.
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No livro, Janones admite o uso de fake news para “desestabilizar Bolsonaro” nas eleições
Em seu livro “Janonismo cultural”, lançado no fim de 2023, o deputado André Janones confessa que se valeu de fake news para a campanha que mais tomou como bandeira política o combate às fake news e à desinformação.
“Se os bolsonaristas queriam brincar de difamação, eles tinham encontrado um oponente à altura”. É assim que tenta justificar uma notícia que ele dá mostras de saber que era falsa, quando foi para a porta do Templo de Salomão, em São Paulo, e disse em uma live que “vazou um vídeo aí do presidente Bolsonaro com a maçonaria, parece que com alguns rituais satânicos."
Ele diz que este apelo a um dos preconceitos mais antigos do povo foi uma retaliação à divulgação de um vídeo em que um satanista dizia apoiar Lula. Janones confessa que não sabe se o vídeo foi “100% obra do bolsonarismo, mas pouco importa”. A verdade pouco importa.
Janones, que é ex-petista, desistiu de candidatura à Presidência para apoiar Lula em 2022
Em agosto de 2022, depois de ter sido oficializado pelo partido Avante como candidato à Presidência da República, Janones desistiu da candidatura para apoiar o então candidato Lula (PT).
Na ocasião, Janones disse que trabalharia para "salvar a democracia" e que o apoio do Avante consolidou a formação de uma "frente ampla" no primeiro turno. Janones já foi filiado ao PT, partido do presidente Lula.
Janones ganhou destaque nacional durante a greve dos caminhoneiros, em 2018
O nome de Janones ficou nacionalmente conhecido através das redes sociais em 2018, quando atuou temporariamente como porta-voz dos caminhoneiros durante uma greve da categoria. Após revelados os interesses políticos do então advogado, os caminhoneiros dispensaram o apoio de Janones.
Apesar da grande repercussão da greve dos caminhoneiros, foi durante a votação da PEC do voto impresso, em agosto de 2021, que o deputado ganhou fama.
Na ocasião, o ex-petista fez questão de imprimir o comprovante da votação para provar que votou contra o voto impresso.
“Minha assessoria de plenário me presenteou com o meu voto impresso. Não dá nem tempo de se alegrar, vamos agora pra barrar o distritão”, disse Janones no X.
Em abril de 2022, ainda como pré-candidato à Presidência, Janones virou piada nas redes sociais ao dizer que Emmanuel Macron era o presidente da Argentina. A declaração foi dada durante uma entrevista concedida ao programa Em Pauta, da Globo News.
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