Lula em reunião com Tarcísio de Freitas, um dos principais aliados de Jair Bolsonaro, no Palácio do Planalto| Foto: Ricardo Stuckert/Palácio do Planalto
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Além da depredação ao prédio do Palácio do Planalto, o episódio de vandalismo em Brasília no último domingo (8) provocou uma divisão entre os aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre qual seria a reação do governo no caso. De um lado, integrantes da base petista subiram o tom e cobraram uma reação mais enérgica do petista em relação a integrantes do próprio governo. Paralelamente, outra ala tem defendido que o presidente adote um tom mais moderado no intuito de não ampliar a crise política.

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A queda de braço expôs, por exemplo, as divergências entre os ministros Flávio Dino (Justiça) e José Múcio Monteiro (Defesa). Enquanto o primeiro defendia um posicionamento mais rígido contra os manifestantes que estavam acampados no Quartel General do Exército em Brasília, o segundo adotou um tom de diálogo e chegou a defender que as manifestações eram democráticas.

Após o episódio de vandalismo, Dino chegou a defender que o ministro da Defesa não poderia ser "martirizado", mas que não tinha "concordância total" com ações adotadas por Múcio. A pressão sobre o chefe da Defesa veio inclusive de aliados de Lula, como o deputado André Janones (Avante-MG), que afirmou que o ministro iria pedir demissão.

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Apesar do "fogo amigo" entre os ministros e aliados, Lula tem buscado amenizar as críticas contra Múcio e defendido a sua manutenção cargo. Mesmo com críticas sobre o posicionamento do ministro em relação aos manifestantes, o presidente tem sinalizado que Múcio ainda pode ser um interlocutor do governo com as Forças Armadas.

"Quem coloca ministro e tira ministro é o presidente da República. O José Múcio fui eu que o trouxe para cá. Ele vai continuar sendo o meu ministro, porque eu confio nele. Tenho o mais profundo respeito por ele, ele vai continuar. Se eu tiver que tirar cada ministro cada hora que ele comete um erro vai ser a maior rotatividade de mão de obra da história do Brasil", afirmou Lula nesta quinta-feira (12).

Lula promete reação interna para punir "facilitadores" da invasão ao Planalto 

Apesar da estratégia para conter os possíveis rachas dentro do núcleo duro do governo, Lula tem indicado que não pretende abrir mão de uma punição contra os possíveis "facilitadores" da invasão ao Planalto. A medida atende, principalmente, a demanda de integrantes governistas que defendem que não haja anistia para os organizadores da invasão aos prédios dos Três Poderes.

Lula disse estar "convencido" de que as portas do Palácio do Planalto foram abertas para a entrada dos vândalos. O presidente afirmou que está "esperando a poeira" dos ataques "baixar" e que ainda quer assistir às imagens registradas pelas câmeras de segurança do Palácio do Planalto, do Supremo Tribunal Federal e do Congresso Nacional.

Ainda de acordo com o petista, teve "muita gente" da Polícia Militar do Distrito Federal e das Forças Armadas que foi "conivente" com os criminosos. "Eu estou convencido de que a porta do Palácio do Planalto foi aberta para que gente entrasse porque não tem porta quebrada. Significa que alguém facilitou a entrada deles aqui. Nós vamos com muita calma investigar e ver o que aconteceu de verdade", declarou Lula.

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A reação de Lula deve atingir, principalmente, militares que atuam no Gabinete de Segurança Institucional (GSI), responsável pela segurança do Palácio do Planalto. Lula prometeu uma "triagem profunda" para identificar militares que ocupam cargos no governo e, então, formar um "gabinete civil".

"Nós estamos no momento de fazer uma triagem profunda, porque a verdade é que o Palácio estava repleto de bolsonaristas, de militares, e nós queremos ver se a gente consegue corrigir para que a gente possa colocar funcionário de carreira, de preferência funcionários civis, ou que estavam aqui ou que foram afastados, para que isso aqui se transforme em um gabinete civil", afirmou Lula.

Divulgação dos sigilos de Bolsonaro amplia reação dos opositores de Lula 

Em outra estratégia de reação aos opositores, o governo Lula começou nesta semana a divulgar os documentos que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) impôs sigilo de 100 anos. Promessa de campanha do petista, a divulgação dos primeiros documentos veio logo após a invasão ao prédio do Palácio do Planalto.

Entre os documentos revelados, o do cartão corporativo de Jair Bolsonaro mostrou que o ex-presidente gastou quase R$ 28 milhões nos últimos anos. De acordo com os dados divulgados, Bolsonaro gastou um total de R$ 13,7 milhões com hotéis. Somente no Ferraretto Hotel, no Guarujá, cidade do litoral paulista, foi pago R$ 1,4 milhão.

Na alimentação, outra parcela significativa nos gastos gerais do cartão, o ex-presidente gastou R$ 10,2 milhões, sendo R$ 8,6 mil em sorveterias. Em uma única despesa desse tipo, Bolsonaro teria gasto R$ 540.

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Além disso, o documento revelou que R$ 408 mil foram gastos em peixarias. Os dados referentes aos gastos do cartão corporativo haviam sido negados durante o governo anterior sob o argumento de que a divulgação das informações poderia colocar em risco o presidente e seus familiares.

Agora, aliados de Lula acreditam que a retirada dos sigilos impostos por Bolsonaro pode acuar o ex-presidente e seus aliados. Neste caso, por exemplo, a avaliação é de que as faturas do cartão corporativo destoam do discurso de Bolsonaro, que alega ser um homem de hábitos simples.

Ainda de acordo com a avaliação dos governistas, a exposição dos gastos pode ajudar a investigar se o dinheiro público foi usado, por exemplo, para financiar as motociatas promovidas por Bolsonaro para seus apoiadores.

Lula se aproxima de Tarcísio e de Zema em aceno para a direita "moderada" 

Em outra estratégia para tentar isolar Bolsonaro e seus apoiadores apontados como mais radicais, Lula tem feito acenos para outros nomes da chamada direita "moderada". Entre eles os governadores Tarcísio de Freitas, de São Paulo, e Romeu Zema, de Minas Gerais. Ambos estiveram com o petista após o episódio de vandalismo em Brasília e sinalizaram para a abertura de diálogo com o Planalto.

De um lado, Zema propôs uma oposição propositiva ao governo Lula e defendeu o resultado das urnas. "Eu pessoalmente acho que devemos fazer uma oposição com propostas. A eleição já aconteceu e o resultado já está sacramentado e não vai ser revisto", disse Zema, que colocou à disposição do petista homens da Polícia Militar mineira.

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Assim como Zema, Tarcísio esteve reunido com Lula e saiu com a sinalização de que petista está disposto a negociar o megaleilão do Porto de Santos, que foi desenhado pelo governador paulista quando ele ainda era ministro da Infraestrutura de Jair Bolsonaro. Freitas defendeu que a privatização tem potencial de levantar cerca de R$ 20 bilhões em investimentos.

“Ele veio aqui, tem interesse em algumas coisas e eu disse que vamos conversar. Nunca deixei de conversar com um governador. Vou fazer as parcerias que forem necessárias. Sempre foi assim e vai continuar sendo assim”, disse Lula sobre o encontro com Freitas.

Lula tem indicado que pretende manter diálogo com todos os governadores, inclusive os que apoiaram Bolsonaro no segundo turno. A expectativa é de que o petista reúna o grupo em uma reunião no próximo dia 27 no Palácio do Planalto para ouvir as demandas de cada estado.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]